Um veterano de quatro mandatos no Congresso e futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), a exemplo do presidente eleito, não tem histórico de aprovação de projetos relevantes na Câmara. Concentrou sua atuação política em dois eixos: a oposição ao PT e a defesa das armas.
Em eleições de 2002 a 2014, 12% de suas receitas de campanha vieram de empresas de armas, com as quais manteve relação próxima.
Uma de suas bandeiras é a modificação do Estatuto do Desarmamento, que tende a ser uma das primeiras iniciativas do governo Bolsonaro. O deputado apresentou uma série de projetos, por exemplo, para permitir que as polícias estaduais atuem na liberação de licenças -e não só a PF, como é atualmente.
Veterinário, Onyx, 64, disse em 2016 que adquiriu armas após passar por uma “situação de gravidade”, que não detalha: “Isso já tem quase 30 anos, eu nunca mais deixei de estar acompanhado de uma arma que sempre trouxe segurança e proteção para a minha família.”
São várias propostas antenadas com o bolsonarismo, como a ampliação dos excludentes de ilicitude (evita que virem crimes situações de legítima defesa ou ação de forças de segurança) e a flexibilização da posse de armamentos.
Entre outros projetos nessa linha, estão propostas para aumentar a licença para até três armas, a criação do “porte rural de arma de fogo” e a possibilidade de emissão de autorização a quem responde a inquéritos ou processos penais.
A relação de Onyx com Bolsonaro vem desde o início dos seus mandatos. Os dois estiveram na linha de frente do bloco parlamentar que coordenou a vitoriosa campanha contra o desarmamento no referendo promovido em 2005.
Também naquele ano, Onyx havia obtido projeção nacional ao integrar a CPI dos Correios, uma das que apuraram o escândalo do mensalão.
O forte viés antipetista já havia se revelado anos antes no âmbito regional. Como deputado estadual, foi ferrenho opositor do governo do petista Olívio Dutra no Rio Grande do Sul (1999-2002), que passou por turbulências como uma investigação sobre a relação do partido com bicheiros.
Dessa experiência, o novo ministro escreveu um livro, batizado de “500 Dias do PT no Governo São Outros 500”. Com o passar dos anos, sua bibliografia antipetista ganhou três novos volumes, o último deles publicado neste ano -“A Máfia da Estrela: Ascensão e Queda do Império Petista”.
Nada disso o impediu de ter boa relação com o PDT, partido de quem foi aliado em 2014 e legenda de seu suplente na Câmara. O novo chefe da Casa Civil já prestou homenagens a Leonel Brizola, fundador do PDT e ícone da esquerda.
Em meio à aproximação com o capitão reformado, encampou o discurso do perigo “comunista” e do risco da “pátria grande” latino-americana -a união com outros governos de esquerda.
Também passou a enfatizar questões de moral e costumes. Em 2017, após uma exposição de arte sobre diversidade ter sido suspensa diante de críticas de movimentos conservadores, ele apresentou um projeto propondo a criminalização da utilização de recursos públicos em projetos que “promovam a sexualização precoce de crianças”.
Em discurso no plenário, naquela época, mencionou uma mobilização internacional que passava pela ONU para promover a “ideologia de gênero” tendo em vista o controle populacional. “Não há separação entre ideologia de gênero, agenda LGBT, feministas e pedófilos”, disse ele na ocasião.
Procurado para comentar o assunto, ele não respondeu.
Desde o ano passado, Onyx já vinha atuando na articulação da candidatura de Bolsonaro. O seu partido, o DEM, ainda vinha cogitando lançar o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), à Presidência, mas o gaúcho já comunicara que marcharia em 2018 com o militar reformado.
Durante a pré-campanha, Maia previu atritos entre o dissidente de seu partido e o então candidato do PSL. “Ele [Onyx] é muito mais liberal que o próprio partido hoje. E Bolsonaro é um político que defende uma política de mais intervenção do estado. Foi assim que votou a vida inteira, em algum momento vai ter uma divergência.”
Maia, na ocasião, mencionou que Onyx já havia sido contra o ingresso do partido em uma rede internacional da corrente Democracia Cristã, defendendo a permanência no movimento “Internacional Liberal”.
O período anterior à campanha eleitoral ainda rendeu visibilidade pela relatoria do projeto de Medidas contra a Corrupção, que acabou não sendo aprovado, mas também proporcionou a sua pior pendência com a Justiça. Em 2017, com a delação da JBS, ele confessou que recebeu R$ 100 mil de caixa dois do grupo na eleição de 2014.
Onyx comanda o diretório gaúcho do DEM desde a década passada e tem sido praticamente o único integrante de destaque no estado.
Em 2015, o novo chefe da Casa Civil conseguiu emplacar seu filho Rodrigo Lorenzoni, 39, em uma diretoria de uma fundação no governo de José Ivo Sartori (MDB).
Neste ano, Rodrigo tentou a Assembleia gaúcha, mas não se elegeu. Fez 17 mil votos, ante 183,5 mil do pai. É Rodrigo quem toca o hospital veterinário da família, fundado pelo pai de Onyx na década de 1950, em Porto Alegre.
Antes de entrar na política, o novo chefe da Casa Civil foi presidente, por seis anos, de um sindicato de veterinários em Porto Alegre, até 1990.
ISTO É ONYX LORENZONI
– Veterinário e empresário, se lançou na política no Rio Grande do Sul na década de 1990
– Foi deputado estadual de 1995 a 2002 -se elegeu primeir pelo PL (atual PR)
– Eleito para a Câmara em 2002, se projetou no escândalo do mensalão, em CPI que tratou do caso
– Relatou o projeto que ficou conhecido como Medidas contra a Corrupção, em 2016
– Decidiu se aliar a Bolsonaro mesmo contra seu partido
– Em 2018, foi o segundo mais votado à Câmara no RS, com 183,5 mil votos.