Há exatos três anos, em 18 de maio de 2019, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira anunciava em rede social que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda preso numa cela da Polícia Federal em Curitiba, estava apaixonado e planejava se casar “assim que deixasse a prisão”. O petista foi solto seis meses depois.
Conforme Ricardo Mendonça, Valor, quando Lula saiu da cadeia, após 580 dias, ele foi direto para o acampamento de apoiadores, onde faziam vigília por sua libertação, deu um beijo na ainda pouco conhecida namorada e a apresentou pela primeira vez publicamente. “Eu consegui a proeza de, preso, arrumar uma namorada e ainda ela aceitar casar comigo”, disse. “É muita coragem dela.”
Hoje, Lula e a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como Janja, oficializam o casamento numa festa para cerca de 200 pessoas num buffet em São Paulo. A benção será dada pelo bispo católico emérito de Blumenau, dom Angélico Sândalo Bernardino, antigo amigo do petista.
Janja não é só a noiva e, conforme as pesquisas, a favorita por extensão ao posto de primeira-dama do Brasil a partir de 2023. A cinco meses da eleição, tornou-se figura onipresente ao lado de Lula. Está no palanque, nas viagens, nos discursos, em articulações de bastidores e no marketing político.
Nascida em União da Vitória, Paraná, Janja tem 55 anos, 21 a menos que Lula, e atua como militante do PT desde os 17. Formada pela Universidade Federal do Paraná, fez parte do movimento estudantil com Ângelo Vanhoni, ex-vereador e ex-deputado que disputou três vezes para prefeito de Curitiba.
Até o anúncio do namoro com Lula, porém, Janja era pouco conhecida mesmo entre os petistas mais atuantes. Começou a trabalhar para Itaipu logo após Lula vencer sua primeira eleição e teve uma passagem pela Eletrobras.
O namoro teria começado antes da prisão de Lula, em abril de 2018. No período em que ele estava preso, Janja era frequentadora assídua do acampamento Lula Livre e da cela do petista. Levava comida e fazia questão de retirar, lavar e repor as roupas do namorado.
O ex-presidente tem aproveitado o casamento e a disposição militante de Janja para impulsionar um dos principais motes publicitários da pré-campanha: a exaltação do amor. A ideia é fazer contraponto ao presidente Jair Bolsonaro, cuja imagem está associada ao ódio, às armas e à violência.
O esforço para fixar esse elo virou uma constante nas falas de Lula. Exemplo disso ocorreu no dia 7, no ato de lançamento da pré-candidatura: “Vocês têm que saber que um cara que tem 76 anos e está apaixonado como estou, que está querendo casar, só pode fazer o bem para esse país”, discursou.
Dois dias antes, também acompanhado da noiva, Lula usou palavras parecidas ao discursar para estudantes na Unicamp. Na ocasião, afirmou que um sujeito apaixonado como ele não iria perder tempo com raiva e ressentimentos.
Em sinal de bom entrosamento do casal, Janja vai na mesma toada. No palco do ato da pré-campanha, fez uma declaração de amor ao microfone e presenteou o noivo com um vídeo de artistas que gravaram uma nova versão do hit “Lula-lá”, marca da primeira campanha presidencial do PT, em 1989.
Uma semana depois, publicou um vídeo em suas redes sociais em que aparece sentada no banco de passageiro de um carro enquanto canta a letra romântica da música “O que é o Amor?”, de Arlindo Cruz e outros compositores.
O comportamento de Janja gera estranheza no PT por destoar do padrão de Marisa Letícia, morta em 2017 e com quem Lula foi casado por 43 anos. Marisa raramente participava de eventos políticos e evitava microfones. Antes de Marisa, Lula ainda foi casado com Maria de Lourdes da Silva, sem militância política, falecida em 1969.
“Janja participa de tudo, é uma presença muito ativa e chama para si um protagonismo”, disse ao Valor um petista que pediu para não ser identificado. “Opina, mas não impõe. Não é algo agressivo.”
Um dirigente da legenda afirmou que, por ser socióloga, Janja “gosta de falar sobre tudo, mas também vai se adaptando ao modo de funcionamento do PT”.
Hoje, Janja é influente sobretudo na agenda de Lula. Sem pedir licença, assumiu e lidera a interlocução da pré-campanha com artistas que, neste ano, voltaram a interagir de forma frequente com o PT.
Outra preocupação constante é com a pauta feminista. Foi por sugestão dela, por exemplo, que a equipe de marketing do partido passou a alternar o slogan “Vamos juntos pelo Brasil” com a versão feminina “Vamos juntas pelo Brasil” em eventos da pré-campanha.
O próprio Lula deu pista da influência da noiva nesse campo. Semanas atrás, em entrevista ao podcast do músico Mano Brown, disse que foi forçado a mudar “a cultura machista de um peão de fábrica” e que agora isso estava sendo mais forte “com a Janja, que é muito politizada, tem uma cabeça boa e é muito feminista”.