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Quem é Ernesto Araújo, futuro ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro

quinta-feira 15 de novembro de 2018 às 08:02h

O Diplomata é diretor do departamento responsável por relações com os EUA no Itamaraty

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou que o embaixador Ernesto Araújo será seu ministro das Relações Exteriores.

“A política externa brasileira deve ser parte do momento de regeneração que o Brasil vive hoje. Informo a todos a indicação do Embaixador Ernesto Araújo, diplomata há 29 anos e um brilhante intelectual, ao cargo de Ministro das Relações Exteriores”, escreveu Bolsonaro em uma rede social.

Araújo é diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos.

A escolha de um chanceler era vista como prioridade da semana para a equipe de transição.

Bolsonaro já coleciona algumas polêmicas em Relações Exteriores. A primeira delas se deu após ter anunciado que transferiria a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

A promessa de campanha acabou sendo revista pelo presidente eleito, que disse semana passada que isso ainda não está definido.

Porém, a intenção de fazer o mesmo que o governo dos EUA de Donald Trump já trouxe impacto negativo para o Brasil. A comunidade árabe, com quem o país tem estreita relação comercial, especialmente na exportação de carnes, mostrou preocupação.

A viagem de uma comitiva brasileira ao Egito foi cancelada de última hora. No meio diplomático, isso foi visto como retaliação às declarações de Bolsonaro.

O presidente eleito também teve de rever declarações que fez sobre a China, um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Ele vinha dizendo que os chineses queriam comprar todo o território brasileiro e ameaçou interromper os negócios com o país asiático.

Depois de encontro com embaixador chinês, ele deu entrevistas dizendo que manteria os negócios, mas sem viés ideológico.

Houve ainda um impasse com a Noruega depois que seu futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o país escandinavo tinha muito a aprender com o Brasil sobre preservação.

A Noruega é o principal financiador internacional para a preservação da floresta amazônica. As declarações do aliado de Bolsonaro levaram à reação do embaixador norueguês no Brasil que, pelo Twitter.

Nils Martin Gunneng disse ter orgulho da parceria com o Brasil, que dura dez anos.

‘Trumpista’ convicto

Assim que o diplomata Ernesto Araújo foi anunciado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro como novo ministro das Relações Exteriores, começou a circular nas redes sociais o texto pelo qual ele ficou mais conhecido entre os servidores do Itamaraty. Intitulado Trump e o Ocidente, Araújo rende ao longo de 36 páginas loas ao mandatário dos Estados Unidos, a quem vê como uma espécie de cavaleiro cruzado pelo resgate da identidade do Ocidente no mundo moderno. Para o novo chanceler, Donald Trump não é o chefe da superpotência mundial que toma decisões desconexas, arbitrárias e caóticas. Longe disso: Araújo o vê mais como alguém que atua “na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais”.

Publicado no segundo semestre de 2017, o artigo, segundo um diplomata ouvido pelo portal UOL, gerou forte impacto nas filas do Itamaraty, um ministério marcado pela rígida hierarquia da carreira diplomática e por uma tradição de independência e de não alinhamento automático aos grandes blocos internacionais. Araújo se posicionou ali claramente como um trumpista, partidário da visão altamente nacionalista —e antiglobalista— que o presidente dos Estados Unidos encampa.

Com esse histórico, parece apenas natural que Araújo tenha apoiado abertamente Jair Bolsonaro, o político que chegou a ser apelidado no exterior de Trump tropical. Em plena campanha presidencial, o novo chanceler começou a publicar um blog com fortes críticas ao PT (para ele o Partido Terrorista) e elogios a Bolsonaro. É nesse blog, por exemplo, em que ele comparou uma das manifestações pró-Bolsonaro em Brasília à campanha pelas Diretas Já e aos protestos de rua que levaram ao impeachment de ex-presidenta Dilma Rousseff. “O movimento popular por Bolsonaro não se nutre de ódio, mas de amor e de esperança…”, escreveu.

Ex-chefe do departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Henrique Fraga Araújo passou na frente de outros diplomatas que estavam cotados para comandar a Política Externa brasileira no governo Bolsonaro. Ao longo dos últimos dias circularam nomes de funcionários de carreira que eram considerados mais moderados, embora distantes do pensamento de alianças sul-sul que foram a digital dos governos do PT no Itamaraty (e que Bolsonaro promete extirpar). O próprio vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, havia dito que um dos cotados era o atual secretário-executivo do ministério, Marcos Galvão.

Nesse sentido, a escolha de Araújo, de 51 anos, não deixa de ser uma surpresa. Principalmente por mostrar que, ao invés de uma escolha menos polêmica, Bolsonaro optou por não abrir mão de alinhar o Brasil ao movimento global de ascensão da direita liderado por Trump. Um alinhamento que começou ainda antes de o capitão reformado do Exército ter sido eleito, quando seu filho, Eduardo Bolsonaro, visitou nos Estados Unidos o ex-estrategista do Republicano, Steve Bannon.

‘Interesse nacional’

O presidente eleito apresentou o novo chanceler em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira em Brasília. Em um rápido pronunciamento, Araújo defendeu que o País mantenha “relações excelentes” com todos os seus parceiros comerciais. “Antes de tudo [é preciso] garantir que este momento extraordinário que o Brasil está vivendo, com a eleição do presidente Bolsonaro, se traduza dentro do Itamaraty numa política efetiva, numa política em função do interesse nacional, de um Brasil atuante, feliz e próspero”.

No texto que publicou no ano passado, Araújo faz uma forte defesa do nacionalismo e apresenta Trump como um representante do que define como “anticosmopolitismo radical”. “Cada estado tem o dever, e não só o direito, de trabalhar pelo seu povo, o estado só se legitima se for nacional, enraizado numa comunidade, e cada pessoa se desenvolve como membro”, diz, ao comentar um dos discursos do presidente norte-americano.

De forma bastante erudita, Araújo traça um histórico da civilização ocidental, que ele afirma reunir “laços de cultura, fé e tradição que nos fazem quem somos”. Valores que estariam ameaçados pelo globalismo e por um abandono da própria identidade ocidental, que incluiria aí, entre outras coisas, a rejeição ao conceito do nacionalismo. “Somente um Deus poderia ainda salvar o Ocidente, um Deus operando pela nação —inclusive e talvez principalmente a nação americana”, conclui Araújo em seu texto.

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