Você já ouviu falar da “geração sanduíche”? Esse grupo é definido por adultos entre 35 e 49 anos que ocupam posições responsáveis em residências com pessoas de diferentes gerações, ou seja, indivíduos mais novos (filhos, netos e sobrinhos) e mais velhos (pais, avós e tios). Quase um milhão de brasileiros estão nessa posição e, apesar das mulheres representarem 60% desse grupo, são elas que ficam mais sobrecarregadas por conta da alta carga de responsabilidades que essa classe possui.
A convivência com mais gerações permite a transmissão de conhecimento, cultura e valores, fortalecendo os laços familiares. Contudo, quando há presença simultânea de idosos e filhos dependentes de um mesmo adulto, pode ocorrer uma sobrecarga física e mental desta geração que ocupa a posição de responsável.
A dependência diz respeito ao tempo, cuidados e recursos financeiros que filhos e idosos tendem a demandar de um adulto. Além disso, essa posição de responsável geralmente é assumida por uma mulher. Dadas as normas culturais vigentes, elas precisam lidar com a maior parte das responsabilidades da casa e cuidar dos filhos e idosos.
Os adultos que estão nesta condição têm sido denominados como Geração Sanduiche (“GS”) – uma forma de descrever a compressão vivida pelas demandas simultâneas de gerações ascendentes e descendentes à sua. Portanto, a GS pode ser definida como adultos em meia idade, geralmente na faixa de 35 a 49 anos, comprimidos por demandas simultâneas de um ou ambos os pais e de filhos/netos dependentes. Pessoas em outras faixas etárias também podem se encontrar nessa situação, mas é menos comum.
Segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), ao final do ano de 2023 existiam 955 mil chefes/cônjuges entre 35 e 49 anos vivendo em lares com filhos até 24 anos e idosos com 65 anos ou mais. A maior parte dos adultos “GS” eram mulheres (60,2%).
Além disso, o crescimento da quantidade de mulheres pertencentes a “GS” foi superior ao dos homens. Enquanto elas aumentaram em 27,1%, passando de 452 mil para 575 mil no período entre 2012 e 2023, enquanto a quantidade de homens cresceu 17,2%, aumentando de 311 mil para 380 mil. As estatísticas foram obtidas a partir dos micro dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).
A análise do Ibre aponta que um dos efeitos adversos de residir com muitas gerações em um domicílio é a sobrecarga para a geração central. Mesmo que existam homens GS, a sobrecarga tende a ser maior para as mulheres, pois é sobre elas que recaem as atividades de cuidado dentro de um lar. A impossibilidade de conciliar múltiplas tarefas dentro do lar afeta diretamente a inserção das mulheres no mercado de trabalho e a qualidade dos postos de trabalho ocupados.
Mulheres da geração sanduíche enfrentam desigualdades
Também de acordo com a análise do Ibre, a proporção de mulheres “GS” fora do mercado de trabalho (33,6%) é quase seis vezes maior do que a registrada pelos homens GS (6,1%). Mesmo comparando com outras mulheres na mesma faixa etária e na mesma condição de chefe ou cônjuge do chefe, as mulheres da GS têm as maiores chances de estarem fora do mercado de trabalho.
A proporção de mulheres fora do mercado que residem apenas com idosos foi de 31,4%, enquanto entre as que residiam com apenas filhos até 24 anos foi de 29%. Observa-se que as mulheres que não residem com filhos e nem idosos tem menores chances de estar fora do mercado (25,1%). Entre as mulheres GS que conseguem conciliar as múltiplas tarefas e trabalhar, o grau de informalidade é elevado, seja comparado aos seus pares homens ou as outras mulheres que residem com menos gerações dentro do lar.
A taxa de informalidade entre as mulheres “GS” (36,6%) foi maior do que a dos homens GS (33,7%) e maior do que as das mulheres residindo com idosos (35,9%), filhos (35%), ou sem idosos e filhos (34,3%).
Na avaliação do estudo, a elevada taxa de informalidade das mulheres GS está relacionada ao seu nível educacional, a quantidade de horas que elas conseguem trabalhar e ao tipo de função que elas desempenham em seus empregos. Atividades informais tendem a oferecer maior flexibilidade, mas em contrapartida, também remunera menos.
Ainda segundo a análise do Ibre, o rendimento médio das mulheres da GS ocupadas foi R$ 2.949 reais, cerca de 34,4% menor do que os homens da GS. O rendimento delas também foi menor do que reportado pelas mulheres com apenas filhos de até 24 anos (R$ 3.003), ou com apenas idosos (R$ 3.405) ou sem filhos e sem idosos (R$ 3.405). O rendimento, por hora trabalhada seguiu o mesmo padrão, com as mulheres da GS ganhando R$ 20,20 reais por cada hora trabalhada enquanto os homens nessa situação ganharam R$ 35 reais por cada hora trabalhada.
“Portanto, verifica-se que embora a condição de ‘ensanduichamento’ possa ocorrer tanto para homens quanto para as mulheres, são as mulheres que acabam sendo mais penalizadas pelo fato de as atividades de cuidado recaírem predominantemente sobre elas. Essa situação pode gerar um fator de risco para a saúde das mulheres de meia-idade, devido ao estado constante de tensão e preocupação”, avalia a autora do estudo, Janaína Feijó, do Ibre.
Ainda para Feijó, a conclusão é de as mulheres chefes ou cônjuges do chefe que corresidiam com duas gerações tinham maiores chances de estar fora da força de trabalho. Entre as que trabalhavam, o grupo de mulheres GS apresentou a maior taxa de informalidade, o menor rendimento médio do trabalho e o menor rendimento por hora trabalhada.