Presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) negou que haja uma ação deliberada do grupo para impedir a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar suspeitas de corrupção no MEC (Ministério da Educação).
Porém, ele admite que o apoio ao colegiado pode gerar um desgaste com o eleitor evangélico. As informações são do jornal O Globo.
Claro que o senador que assinar vai ter desgaste com o segmento. O eleitor evangélico já entendeu que não é justo penalizar todo o segmento por causa do erro de dois ou três pastores.
Deputado Sóstenes Cavalcante, líder da Frente Parlamentar Evangélica
A fala se refere aos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, suspeitos de exercer influência indevida no MEC (veja abaixo).
Cavalcante também criticou a CPI, que classificou como eleitoreira. “Se eu fosse senador, não assinaria. A Polícia Federal, que tem mais competência para tal, já está investigando”.
A declaração marca uma mudança de posicionamento de Cavalcante. Há poucas semanas, em entrevista ao UOL News, ele afirmou que assinaria a abertura da CPI.
Agora, o deputado diz que uma CPI criada a seis meses da eleição “só serve para fazer politicagem, atingir a imagem dos evangélicos e, consequentemente, do governo”.
O governo Jair Bolsonaro (PL) se articula para evitar uma CPI no Senado. Segundo apuração do jornal O Globo, parlamentares da bancada evangélica atuam para convencer parlamentares a retirar suas assinaturas da lista.
O deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), vice-líder do governo no Congresso e ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, foi um dos que atuaram a favor do governo. Em conversas com senadores, ele afirmou que uma CPI do MEC tem o potencial de expor as igrejas por meio de dois pastores que não representam o segmento.
Ele lembrou também que a investigação poderia resultar em tons de intolerância religiosa, o que poderia custar votos do segmento religioso neste ano eleitoral.
Enquanto isso, senadores da oposição tentam emplacar uma nova ofensiva em busca de assinaturas para abrir a CPI do MEC. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor da iniciativa, chegou a reunir na última sexta-feira o mínimo necessário de 27 adesões, mas três senadores recuaram.
Relembre o caso
Reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo, publicadas desde o mês passado, indicam que os dois pastores participam de um “gabinete paralelo” no ministério. Sem qualquer cargo público, estariam fazendo pedidos de propina a prefeitos que buscavam verbas para a educação em seus municípios.
O agora ex-ministro Milton Ribeiro afirmou, em áudio divulgado pela Folha, que o governo federal prioriza a liberação de verbas a prefeituras escolhidas por Santos e Moura. O dinheiro é destinado à construção ou reforma de creches e escolas, benfeitorias como quadras esportivas e compra de equipamentos para as unidades.
Segundo Ribeiro afirmou no áudio, uma das demandas do pastor Gilmar “foi um pedido especial” que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ao ministro. Inicialmente, Ribeiro admitiu ter encontrado os líderes religiosos, mas isentou o presidente. Já Bolsonaro declarou que colocaria a “cara no fogo” pelo ministro.
Mesmo com a declaração pública de apoio, Ribeiro pediu exoneração do cargo uma semana mais tarde, e Bolsonaro disse que ele deixou o governo apenas “temporariamente”. Ao deixar o cargo, o ministro já havia perdido inclusive o suporte de líderes evangélicos, como o pastor Silas Malafaia e o deputado Marco Feliciano (PL-SP).
Em depoimento à PF (Polícia Federal), que investiga o caso, Ribeiro isentou Bolsonaro de responsabilidade. “O presidente da República jamais indagou o declarante a respeito da visita do pastor Gilmar”, diz trecho do depoimento.