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domingo 27 de setembro de 2020 às 09:26h

‘Quanto mais localizado, menos o partido importa’, pondera cientista política

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Eleitos em 2018 na onda da renovação política, parlamentares de movimentos como RenovaBR, Livres e RAPS pretendem apoiar neste ano candidatos que não são de seus partidos. Eles afirmam que enfrentaram as urnas pela primeira vez sem a ajuda de padrinhos políticos e, agora, querem facilitar o caminho daqueles que, independente das siglas às quais estão filiados, compartilham de suas bandeiras. Dirigentes partidários se dividem entre dar carta branca à iniciativa e questionar o reforço a outras legendas.

Dois dos parlamentares que ampliaram a própria rede de apoio para além de seus partidos são os deputados federais Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES). Eles estão distantes de seus partidos desde o ano passado, quando contrariaram a orientação das legendas na votação da reforma da Previdência. Mas ambos negam que tenha sido esta a motivação para construir um apoio suprapartidário em 2020.

Tabata busca fortalecer candidaturas femininas e apoia mulheres de diversas siglas. As selecionadas para receber apoio são de 17 partidos distintos, passando por PSOL, MDB e Republicanos. Três a cada quatro delas são de grupos de renovação. “Elas são ideologicamente diferentes, mas em termos de valores e trajetória têm muito em comum”, disse a deputada.

Presidente do PDT, Carlos Lupi diz que toda iniciativa para incentivar mulheres é positiva, mas isso deve ser feito através das instituições partidárias. “Eu questiono quando a pessoa se elege pelo PDT e apoia candidatos de outros partidos. O que representa a sociedade são os partidos políticos”, disse Lupi, que comanda o PDT há 15 anos. “A luta por mais mulheres na política não é partidária. Algumas lutas transcendem isso”, argumenta Tabata.

Rigoni também lançou mão de uma estrutura ampla de apoio para as próximas eleições. No momento, ele conduz entrevistas com cerca de 40 pré-candidatos para escolher quem vai ajudar no processo eleitoral. Os avaliados pertencem a diversas siglas, como DC, PV, PDT e Novo. “Eu não vou apoiar porque é do partido, vou apoiar porque a pessoa pensa como eu”, diz.

Colega de partido de Rigoni, o deputado federal Rodrigo Coelho (PSB-SC) também tem conduzido apoio político em seu Estado de maneira suprapartidária. “Estou ajudando alguns colegas que vejo que têm perfil parecido com o nosso.”

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, minimiza o apoio a candidatos de outras siglas e diz não se preocupar com a questão. “Nosso partido não depende da atuação deles”, afirma.

Esferas

Professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV, a cientista política Graziella Testa pondera, no entanto, que as siglas podem ser menos relevantes em questões locais, como no caso das eleições municipais. “Quanto mais localizado, via de regra, menos o partido importa, porque as questões locais muitas vezes não estão abarcadas nas grandes questões partidárias.”

É esta percepção que embasa o argumento do deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG), que também decidiu apoiar diversos pré-candidatos em 2020. Mitraud afirma que, nas cinco cidades de Minas onde o Novo terá candidatos, seu apoio ficou restrito a membros do partido. Nos demais municípios, ele pretende ajudar candidatos de 16 legendas distintas, de diferentes matizes ideológicos – da Rede ao PSL – escolhidos por meio de um processo seletivo. “Para a gente isso é menos determinante do que a qualidade do candidato”, afirma.

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