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terça-feira 14 de fevereiro de 2023 às 05:58h

‘Quanto mais espaços tivermos no governo, mais apoios poderemos garantir’, admite Bivar

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Passado um mês e meio de governo, o Palácio do Planalto e o União Brasil, que responde por três ministérios, ainda não conseguiram se entender. Os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva exigem mais fidelidade da legenda, enquanto o presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE), diz abertamente que quer mais cargos para entregar o que os petistas pedem.

— O PT é feito por pessoas inteligentes, que sabem que para fazer política é necessário ter espaços. Quanto mais espaços tivermos no governo, mais apoios poderemos garantir — diz.

O União Brasil controla três pastas: Turismo, sob o comando de Daniela do Waginho; Comunicações, que está com Juscelino Filho; e Integração Nacional, cujo titular é Waldez Góes, que, embora seja filiado ao PDT, foi escolhido por indicação do senador Davi Alcolumbre (União). Em entrevista ao jornal O Globo, Bivar cita, uma a uma, quais cadeiras da máquina federal o União gostaria de ocupar: Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Denocs).

O presidente da legenda diz que, apesar do descontentamento dos petistas, pode garantir que a maioria do União vota com o governo tanto na Câmara quanto no Senado. Além disso, ele promete punir quem não acompanhar a orientação do partido nas deliberações no Congresso.

Bivar fala ainda sobre as negociações entre União e PP para se unirem em federação e adianta que o acordo, se sair do papel, não vai representar problemas para o Planalto, já que o PP não está na base.

— O PP não será oposição ao governo, isto está pacificado.

Confira os principais trechos da entrevista:

O União Brasil indicou nomes para três ministérios, mas parlamentares do partido dizem querer mais espaços. Petistas, por sua vez, dizem que o União precisará fazer entregas para se manter nos postos. O senhor acredita que a participação atual é insuficiente?

Precisamos ser tratados como um partido do tamanho que somos: temos 69 parlamentares, sendo 59 deputados federais e dez senadores. Como todo partido grande, temos dissidências. É importante frisar que com espaços ou sem espaços, teremos a posição de ajudar o governo. O PT é feito por pessoas inteligentes, que sabem que para fazer política é necessário ter espaços. Quanto mais espaços tivermos, melhores ferramentas podemos oferecer e mais apoios poderemos garantir

Quais seriam os cargos que agradariam ao União Brasil, além dos ministérios já concedidos?

Com qualquer órgão de cunho nacional em mãos fica mais fácil debater e convencer, por exemplo, deputados do Acre, do Rio Grande do Norte, São Paulo ou de Pernambuco. Para parlamentares do Nordeste, por exemplo, a Codevasf é super importante. O mesmo digo da Sudene e da Dnocs. São órgãos que lidam diretamente com políticos da ponta. O União tem boa vontade, fará as suas entregas, mas precisa ter mais ferramentas para agregar ainda mais gente.

Com quantos votos do União Brasil o governo pode contar no Senado e na Câmara?

Depende dos espaços que teremos, mas garanto a maioria do partido nas duas casas. Cá entre nós, a maioria do União já é maior do que a maioria dos partidos no Congresso.

Quem não entregar os votos para apoiar as pautas do governo no Congresso será punido?

É óbvio. Se alguém está usando um cargo do governo e não está ajudando, terá que entregar o cargo. Se está faltando com o governo nos projetos mais simples, não pode ocupar cargos.

Em que estágio está a negociação com o PP e Avante para formar uma federação?

Há uma confluência das cúpulas dos partidos muito boa. Mas, como se trata de uma federação, a gente tem que ver em cada rincão desse país quais serão os possíveis danos políticos. Então é preciso usar a ferramenta do convencimento nas esferas estaduais e municipais. Isso está sendo cuidado pelos líderes dos três partidos. Caso se confirme, teremos a maior bancada da Câmara.

Qual seria o acordo para as eleições municipais do ano que vem? Prefeitos com mandato terão prioridade para se manter no cargo, por exemplo?

Isso não está pacificado. Existem prefeitos que não votaram conosco, sempre votaram contra os candidatos do partido, boicotaram alguns candidatos recentemente. Tudo isso vai ser levado em consideração, não há uma regra rígida. Não poderemos dar legenda a alguém que a todo momento trabalhou contra o partido, mesmo sendo eleito.

Como ficará, por exemplo, o comando do partido em Pernambuco, seu estado, e no Paraná, com dois adversários declarados, Moro (União) e Ricardo Barros (PP)?

Em Pernambuco, eu e Eduardo da Fonte (PP-PE) faremos uma administração partilhada, está pacificado. Mas é claro: precisamos avaliar em cada estado para que linha seguirá esta federação. Se temos num estado dois candidatos que são radicalmente contra o governo, isto será repensado. O comando do Paraná não será do Moro, será do Felipe Francischini, e em nível municipal, do Ney Leprevost.

Caso saia do papel, a federação fará parte da base do governo?

Não será oposição ao governo, isto está pacificado com o PP. Essa questão de ser base do governo depende eminentemente do governo eleito, o PT. Nós mesmos estamos dentro do governo, mas não há um fechamento hermético, ainda lutamos para amealhar mais apoios internos.

Como o senhor avalia o tabuleiro político da direita no Brasil? Quem está melhor posicionado para 2026?

Temos e esquerda, com a grife do PT, uma direita radical e antidemocrática, e partidos equilibrados do centro, que não se importam de estar na base do governo ou não. Todos temos que estar embaixo do guarda-chuva da democracia. Quem estiver fora dele não nos interessa, nem no partido e nem na federação.

Como avalia o fato de o ex-presidente Jair Bolsonaro não ter voltado até hoje dos Estados Unidos, mesmo após os atentados de 8 de janeiro?

Eu não posso avaliar a cabeça do ex-presidente, ela é muito difícil de entender. Ele diz uma coisa pela manhã, diz outra à tarde e uma terceira quando anoitece. A vida dele é de muitas incoerências. Eu não consigo avaliar, por exemplo, se a relação do Bolsonaro com o PL será duradoura. Fica difícil para uma legenda manter alguém que é impossível ter certeza para onde vai.

O senhor acha que os ataques contra as urnas eletrônicas incentivaram as manifestações terroristas?

Claro. As pessoas se guiam por narrativas, e quem tem a caneta de presidente tem o domínio delas.

Em algum momento, durante reuniões com Bolsonaro ou com pessoas ligadas, o senhor já tinha ouvido falar sobre algum plano golpista? Alguém já havia falado com o senhor sobre iniciativas para interferir nas eleições ou sobre a minuta golpista?

Sobre esta minuta, nunca ouvi falar. Não tenho bola de cristal, mas as coisas eram tendenciosas para que houvesse uma tentativa de invasão às instituições do nosso país.

O senhor sempre diz que a pauta econômica é a prioridade do União Brasil. Estarão com o governo nas pautas prioritárias, como a reforma Tributária e o marco Fiscal?

Temos nossos princípios econômicos. Se não houver liberdade econômica, não há liberdade de expressão. As coisas estão umbilicalmente ligadas. O União estará com o governo, sim. Ainda não falei com o ministro (da Fazenda) Fernando Haddad sobre isso, mas acho que no primeiro momento não podemos unificar os impostos estaduais e os federais. A reforma, primeiro, podia se dar no âmbito federal e depois ser levada para os estados. Quero estar com o governo neste tema, precisamos extinguir os impostos declaratórios e buscar impostos digitais. Gostaria de fazer uma indicação à relatoria, o Marcelo Freitas (MG), mas isso não foi conversado.

Muitos nomes do União, especialmente os egressos do DEM, dizem que a parceria com o governo dificultaria seus planos estaduais. Como o senhor vê isso?

Eu não quero falar como candidato em Pernambuco. Preciso falar em nome do projeto de partido, e acho que será muito ruim para o União se a gente trouxer questões paroquiais para debate nacional. Precisamos ter um mínimo de organicidade dentro do nosso partido.

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