Se no primeiro turno em São Paulo a participação de Jair Bolsonaro (PL) na campanha de Ricardo Nunes (MDB) fez falta, no segundo turno quem não quer o ex-presidente em seu palanque é o prefeito paulistano.
Nunes nunca vai declarar publicamente, mas em privado integrantes de sua equipe tem dito segundo a colunista Malu Gaspar, do O Globo, que, nesta etapa da disputa, a presença de Bolsonaro não só não ajuda como pode até prejudicar a tarefa de conquistar o voto do centro.
“O que pode atrapalhar o Nunes é o Bolsonaro querer fazer campanha agora. Se Bolsonaro entrar agora na campanha do Nunes, só vai atrapalhar. Quando a gente precisou dele, ele não foi. Agora não precisamos mais”, disse ao blog o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP). “Bolsonaro agora quer vir na janelinha? Janelinha não.”
Isso porque a tendência do eleitorado de direita já é votar em Nunes contra Guilherme Boulos (PSOL) automaticamente, como já declararam lideranças que apoiaram Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno. A última pesquisa da Quaest antes do primeiro turno indicava que 67% dos eleitores de Marçal votariam em Nunes em um eventual segundo turno contra Boulos.
Quem já declarou apoio no prefeito de São Paulo foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que no primeiro turno comparou Nunes a um “copo de veneno”
Quem já declarou apoio no prefeito de São Paulo foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que no primeiro turno comparou Nunes a um “copo de veneno”.
O diálogo com Bolsonaro tem se limitado a auxiliares e estrategistas.
“O Nunes não vai mais falar de Bolsonaro. Só de Tarcísio (de Freitas)”, diz um desses estrategistas, que avalia que o empenho do governador a favor do prefeito foi fundamental para a chegada ao segundo turno.
De acordo com ele, nesta etapa a campanha será de “comparação entre os históricos” dos concorrentes.
Um dos temas que deve ser explorado será a experiência de Boulos como coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que provoca grande rejeição entre eleitores de centro-direita e direita. A linha adotada será associar o candidato do PSOL à “baderna” e à desordem urbana.
Já temas como anistia aos presos do 8 de janeiro, vacinação contra a Covid-19 e “ideologia de gênero” – que compuseram a pauta da guinada de Nunes à direita, na reta final do primeiro turno – devem ser abandonados, seguindo a lógica de distanciar o prefeito de Bolsonaro e da extrema direita.
Entre os aliados de Nunes, a conversa sobre Bolsonaro segue a mesma linha do pastor Silas Malafaia, que na terça-feira (8) chamou o ex-presidente de “covarde” e “omisso” por não ter se engajado na campanha do prefeito, com medo do movimento de apoio a Marçal nas redes sociais.
“Se estiver faltando dois dias para a eleição e Nunes com 15 pontos a mais do que Boulos, aí o Bolsonaro aparece. Se não, ele não vai aparecer. E aí já não vamos mais precisar dele”, diz um membro da cúpula da campanha do emedebista.