Em cada crise, tendemos a medir os impactos pelos layoffs que acontecem. A Dell foi a última a anunciar o corte de 6 mil funcionários (5% da sua força de trabalho). De acordo com a Layoffs.fyi, uma plataforma que monitora as demissões em massa nos EUA, os demitidos de companhias de tecnologia contabilizam quase 95 mil trabalhadores nas primeiras cinco semanas de 2023, número que é quase 60% das demissões que aconteceram no ano todo de 2022. A reportagem é de Diane Brady, da Forbes.
Apesar de os cortes de funcionários serem comuns, há algo diferente nessa nova crise. O advento do trabalho remoto concretizou a comunicação corporativa por meio de tecnologias digitais. Ainda não é possível estabelecer uma relação entre as demissões em massa e a lucratividade das empresas: companhias como Google, Microsoft e Amazon não necessariamente estão pouco lucrativas no momento. O mantra é mais sobre otimização do que lucratividade. Estudos, há muito tempo, já questionam a lógica financeira de demitir uma grande parcela de trabalhadores e sugere que essa prática é danosa à produtividade.
A pressão para ocorrer essas demissões em massa parece vir de investidores e da queda dos preços das ações. Isso não é novo, já que a alta fração de custos em relação aos lucros e a baixa dos dividendos da várias ações de tecnologia os torna muito menos atrativos para os acionistas, além de ser mais difícil obter crédito. Então, o número de funcionários e o pagamento dos salários deles se tornou um verdadeiro problema.
A questão da inteligência artificial
Veja em quais setores as demissões em massa estão sendo feitas. Vendas, recrutamento e marketing tendem a ser desproporcionalmente os alvos dos cortes. Programadores e antigos funcionários que recebem melhor também estão mais vulneráveis. Ao mesmo tempo, os CEOs da Microsoft e do Google estão entre os vários fazendo investimentos massivos dias após anunciar grandes cortes de mão de obra.
A questão do momento é a inteligência artificial, algoritmos que geram imagens, textos e conteúdos que, maravilhosamente – e, às vezes, de forma perturbadora –, acabam sendo tão bons quanto ou até melhores do que os humanos conseguem criar. A mais popular dessas ferramentas foi o ChatGPT, que foi o aplicativo com crescimento mais rápido na história da internet. Criada pela Open AI em novembro de 2022, o chatbot consegue produzir artigos, fazer trabalhos acadêmicos, compor músicas, entre muitas outras coisas.
Em relação às mudanças que o ChatGPT e outras ferramentas de inteligência artificial podem fazer na forma como você trabalha, fontes afirmam que estamos em um momento crítico – como falado no Forbes Talks com Alex Konrad e Kenrick Cai. “A criadora do ChatGPT, a OpenAI, teve um progresso que fiquei muito surpreso de ver”, disse Bill Gates em entrevista exclusiva à Forbes – e, realmente, a Microsoft investiu US$ 1o bilhões na empresa.
Google encontrou sua alternativa
Agora que o Google está entrando no jogo com um chatbot rival chamado “Bard”, uma nova competição parece estar começando. Junto de possivelmente revolucionar a forma como pesquisamos informações na internet, essa batalha de gigantes provavelmente irá trazer várias preocupações éticas e jurídicas à tona.
Como as companhias reduzem seus tamanhos é menos intrigante do que como elas se reconstroem depois. Líderes icônicos, como Jack Welch e Steve Jobs, se agarraram à oportunidade de reinventar seus negócios em tempos difíceis. Aqueles que escolheram ignorar o poder das novas ferramentas de inteligência artificial podem não durar tanto para chegar a essas oportunidades.
Novos empregos serão criados e muitos outros sofrerão transformações, talvez revivendo as discussões sobre remuneração e pressão para treinamento de habilidades. Inteligência artificial avançada traz melhores instrumentos para hackers e outros criminosos, também. Se as oportunidades e ameaças forem bem geridas, as coisas podem dar muito certo. Senão, a mudança pode ser destrutiva. Liderança importa, especialmente em tempos como esses.