Israel tem enfrentado uma crescente pressão de seus aliados para desenvolver um plano para a Faixa de Gaza após o término da guerra com o Hamas.
Agora, o Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, delineou propostas para a futura governança da região, apelidadas de plano “o dia seguinte”.
Mas o que ele inclui? Como tem sido a reação do mundo árabe e de Israel? E quais desafios se apresentam na sua implementação?
Qual é o plano de Israel para ‘dia seguinte’ de Gaza?
Após a guerra, Israel propõe o seguinte plano “quatro esquinas” para Gaza:
- O Hamas não controlará mais Gaza – Israel manterá o controle de segurança geral, incluindo a inspeção de todas as mercadorias que entram e saem, mas civis israelenses não viverão na região;
- Uma força multinacional, liderada pelos Estados Unidos e incluindo parceiros regionais e europeus, ficará encarregada de reconstruir Gaza.
- O Egito, vizinho de Gaza, onde a única passagem para fora de Gaza permanece aberta, terá um papel no plano, mas os detalhes ainda não foram especificados.
- Haverá um governo palestino limitado “com a condição de que não haja ações hostis ou ameaças contra o Estado de Israel”.
Ao analisar o plano pós-guerra de Israel para Gaza, a correspondente internacional-chefe da BBC, Lyse Doucet, afirmou que “não parece que a Autoridade Palestina sediada em Ramallah [na Cisjordânia] terá alguma participação” ou, é claro, o Hamas.
O plano de Israel também delineou como as Forças de Defesa de Israel (IDF) planejam prosseguir na próxima fase da guerra em Gaza.
O Ministro Yoav Gallant afirmou que as IDF adotarão uma abordagem mais direcionada no norte da Faixa de Gaza, incluindo operações como incursões, destruição de túneis e ataques aéreos e terrestres.
No sul, o exército israelense continuará buscando líderes do Hamas e resgatando reféns israelenses.
Qual é a reação em Israel?
O plano de Gallant ainda não é uma política oficial e, por ora, não foi apresentado a outros ministros do governo.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ainda não fez comentários públicos a respeito.
Ele afirmou anteriormente que as Forças Armadas de Israel precisam primeiro “eliminar o Hamas” antes que os planos pós-guerra possam entrar em vigor.
O plano não foi discutido detalhadamente na última reunião do gabinete israelense, mas relatos indicam que a reunião foi encerrada em meio a um clima hostil, com alguns ministros se opondo veementemente aos nomes propostos para uma investigação sobre os eventos relacionados ao ataque do Hamas em 7 de outubro.
Alguns membros da ala mais à direita do governo de Netanyahu sugeriram que cidadãos palestinos deveriam ser incentivados a deixar Gaza para o exílio, com o restabelecimento de assentamentos judeus no território.
Essas propostas controversas foram rejeitadas como “extremistas” e “impraticáveis” por outros países da região e por alguns aliados de Israel.
O que a Autoridade Palestina disse?
O primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, afirmou em uma entrevista ao jornal Financial Times que qualquer acordo eventual deve envolver “uma solução política para toda a Palestina”, e não apenas para Gaza.
“Shtayyeh disse: “Israel quer separar Gaza politicamente da Cisjordânia. Eu não acredito que Israel vai deixar Gaza tão cedo. Acredito que Israel vai criar sua própria administração civil que funcionará sob o exército israelense de ocupação. Portanto, a questão do ‘dia seguinte’ ainda não está clara.”
O Egito, mencionado no plano, ainda não se pronunciou oficialmente. Na vizinha Jordânia, milhares de manifestantes saíram às ruas da capital, Amã, para expressar solidariedade aos habitantes de Gaza.
O líder da oposição trabalhista do Reino Unido, Sir Keir Starmer, afirmou que Israel não deve ser a única parte responsável por ditar o que acontece em Gaza e defendeu uma solução de dois estados.
“Não podemos ter uma ocupação israelense, não podemos ter pessoas deslocadas que não podem retornar ao seu local de origem, porque dois milhões foram deslocados nos últimos quatro meses, isso é intolerável”, disse.
“Eu não acho, sinceramente, que cabe a Israel determinar o que acontece em Gaza. Deve haver um consenso internacional muito maior sobre isso, caso contrário, simplesmente não funcionará.”
Ele sugeriu que líderes na Jordânia, Catar e outros países árabes deveriam estar envolvidos na busca por uma solução de paz e na discussão do plano do “dia seguinte”.
Os Estados Unidos têm defendido uma solução de dois estados e sugeriram que Gaza seja governada por uma Autoridade Palestina “revitalizada”, sediada na Cisjordânia ocupada, proposta que não está incluída nos planos de Israel.
Os olhares estarão voltados para a resposta de Washington, especialmente enquanto o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, visita Israel, onde as discussões sobre o pós-guerra de Gaza provavelmente estarão na pauta.
Quais são os desafios?
É altamente improvável que as nações árabes apoiem o plano de Israel. Na sexta-feira (5/1), o líder do grupo xiita islâmico libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, alertou: “Se Israel derrotar Gaza, a próxima batalha será no sul do Líbano.”
Para Netanyahu implementar suas propostas, obter o apoio do próprio governo e de seu maior aliado, os Estados Unidos, será problemático.
A correspondente do Oriente Médio da BBC, Yolande Knell, destaca que a ausência de civis israelenses na Faixa de Gaza é um “ponto importante” que será polêmico dentro do próprio governo de Israel, “já que alguns ministros israelenses de extrema direita têm defendido a recriação de assentamentos judeus em Gaza”.
Outro desafio, segundo Knell, é a posição dos Estados Unidos, o maior aliado de Israel, que deseja que uma Autoridade Palestina revitalizada assuma o controle do território.
Mas antes que qualquer plano pós-guerra possa ser implementado, a própria guerra, que causou a morte de mais de 22 mil palestinos em Gaza, após o Hamas matar 1.100 israelenses em 7 de outubro, precisa chegar ao fim.