Atual presidente da Comissão Europeia anunciou que deseja permanecer no cargo para um segundo mandato. No entanto, sua reeleição não está garantida. Desde 2019, a alemã conservadora Ursula von der Leyen preside a Comissão Europeia, em Bruxelas. Apesar de já ter 65 anos, a idade para aposentadoria, von der Leyen deseja permanecer no cargo e anunciou que pretende tentar a reeleição para levar adiante projetos inacabados, como a reestruturação da economia europeia voltada a alcançar a neutralidade climática e a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE).
“Acho que a Ursula von der Leyen fez um bom trabalho. Conheço o trabalho e suas dificuldades. Esse não é apenas o trabalho mais importante da UE, mas também o mais difícil. Nem todo mundo pode fazê-lo. E ela pode”, afirmou seu antecessor, Jean Claude Junker, à emissora de rádio alemã Deutschlandfunk no outono de 2023.
Von der Leyen anunciou a intenção de concorrer à reeleição nesta segunda-feira (19/02) na sede de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), em Berlim. Segundo o líder da CDU, Friedrich Merz, a candidatura de von der Leyen foi aprovada por unanimidade pelo bloco conservador Partido Popular Europeu (PPE), do Parlamento Europeu, e ela deve ser apresentada oficialmente com a candidata do grupo em duas semanas.
No entanto, sua reeleição está nas mãos dos chefes de Estado e governo dos 27 países membros da UE, que também podem indicar candidatos. “As chances de von der Leyen não são ruins, mas definitivamente não será fácil”, avalia Janis Emmanouilidis, do think tank European Policy Centre.
Emmanouilidis acrescenta que a escolha de quem irá ocupar a presidência da Comissão Europeia é apenas uma parte de um pacote de decisões que devem ser tomadas no verão europeu. Os cargos de presidentes do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu e de Comissário do Exterior da UE também precisam ser negociados.
O especialista destaca que isso exige a unanimidade dos países do bloco. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, é um forte opositor de von der Leyen e poderia bloquear sua indicação. “Ele vai definitivamente exigir algo em troca”, acrescenta. “E ela ainda precisará da aprovação do Parlamento Europeu. Em 2019, essa votação foi bem apertada”.
Aval do Parlamento Europeu
O recém-eleito Parlamento Europeu precisará aprovar a indicação dos líderes dos países-membros do bloco para presidente da Comissão Europeia. Em 2019, von der Leyen recebeu apenas nove votos a mais do que o mínimo necessário. Neste ano, a votação deve ser mais acirrada. Segundo pesquisas de intenção de voto para as eleições europeias do início de junho, partidos populistas de direitas, bastante imprevisíveis, devem conquistar mais espaço no parlamento composto por 720 eurodeputados.
O eurodeputado social-democrata italiano Brando Benifei afirmou que a UE precisa de uma mudança. “Eu não acho que é uma boa ideia reeleger a Ursula von der Leyen. Ela está tentando se tornar a melhor amiga de nacionalistas como a [primeira-ministra da Itália] Georgia Meloni. Ela impulsionou regras sobre migração que vão contra os interesses da UE”, destaca à DW.
Em Bruxelas, muitos observadores elogiam von der Leyen por sua capacidade de gerenciar permanentemente crises durante a pandemia de covid-19 e na resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia. “Não foi fácil para ela manter as tropas unidas. Ela conseguiu isso e merece elogios”, afirmou Juncker.
O eurodeputado alemão de esquerda Martin Schirdewan é mais crítico. “O que ela realmente alcançou? Ela é mestre em anúncios e na produção de manchetes maravilhosas. Mas não forneceu nada para proteger a democracia, na luta contra a pobreza e no fortalecimento da indústria europeia. Ela não correspondeu às expectativas. Isso precisa ser melhorado”, ressalta.
Emmanouilidis reconhece que a atual presidente acabou muitas vezes apresentando mais propostas do que as que foram realmente cumpridas. No entanto, o especialista argumenta que isso é necessário para alcançar compromissos.
Trump pode dificultar vida de Von der Leyen
Em 2019, ao assumir a presidência da Comissão Europeia, a até então ministra da Defesa da Alemanha prometeu liderar uma “comissão geopolítica da UE”. Inicialmente, ela se concentrou em melhorar a cooperação com os países africanos. No entanto, com a guerra na Ucrânia, esse esforço ficou em segundo plano.
De modo geral, é difícil para a Comissão Europeia determinar a política externa, afirma Emmanouilidis. “Na política externa e de segurança, os Estados membros têm competências centrais e devem decidir por unanimidade. É preciso ter cuidado ao expor determinadas pretensões. A Comissão Europeia não detém o cetro sozinha. É realmente complexo a nível europeu.”
Na avaliação do especialista, um segundo mandato também não será fácil para von der Leyen, que, a partir de 2025, terá que contar com a possibilidade de Donald Trump assumir novamente a presidência dos Estados Unidos. Os dois não têm um bom relacionamento e Trump não esquece. Uma guerra comercial mais intensa entre EUA e Europa pode estar prestes a eclodir.
“Isso será um desafio para todos nós. Não será apenas difícil para a presidente da Comissão Europeia lidar com isso, todos teremos problemas. Dentro da UE e da Otan também”, opina Emmanouilidis.