Antes de percorrer os cerca de oito quilômetros de caminhada entre as basílicas de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no Comércio, e do Nosso Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada, uma multidão de fiéis reafirmou a fé através de histórias de vida e superação, na retomada do tradicional cortejo para saudar Nosso Senhor do Bonfim, após dois anos sem público, devido à epidemia de Covid-19. O início do cortejo reuniu autoridades, lideranças religiosas e populares que, saudosos pela participação no evento, caminham entre os santuários, cada um com seus pedidos e agradecimentos, para, na Colina Sagrada participarem da tradicional lavagem das escadarias.
Pela primeira vez na Lavagem do Bonfim, Aline Lisboa era só expectativa para o evento. “Vim a festa para sentir a energia agradecer pela vida de amigos e familiares. Estou muito empolgada com o cortejo, é uma oração forte, achei tudo muito positivo para manter a fé e a esperança em um ano melhor”.
Moradora de Saramandaia, Paula Rodrigues trouxe toda a família para celebrar o retorno do público à festa. “É uma sensação de estar muito abençoada, após toda essa turbulência da Covid-19, poder estar no cortejo com a família, agradecendo ao Senhor do Bonfim. Dedicarei meu dia inteiro a esse agradecimento, e com fé vamos caminhando até a Colina Sagrada”.
Grupos culturais
Além das tradicionais baianas, o cortejo da Lavagem do Bonfim também contou com a participação de 46 grupos culturais de diversas vertentes artísticas, cadastradas pela Empresa Salvador Turismo (Saltur). Minitrios, grupos de samba de roda, de percussão e capoeira deram mais brilho ao evento e deram ânimo ao público no percurso.
Dentre as atrações que se apresentam no evento estão o Rixô Elétrico, do instrumentista Fred Menendez; o Orixalá, do cantor Gerônimo Santana; o afoxé Filhos de Gandhy; a Oficina Percussiva Toca Tambor; o grupo Lavagem de São Bartolomeu, de Maragogipe, cidade do Recôncavo baiano; e o grupo de capoeira Topázio, originário do bairro da Liberdade e que há anos participa da festa.
Hinos centenários
Além do retorno do público, a edição 2023 da Lavagem do Bonfim celebra ainda o centenário dos dois hinos em homenagem ao Senhor do Bonfim, ambos compostos em 1923. O primeiro, chamado “Hino Cívico”, tem como primeiros versos “Glória a ti neste dia de glória / Glória a ti redentor que, há cem anos…” e foi composto por Arthur de Salles e João Antônio Wanderley. A composição foi feita a pedido do então prefeito da capital, Dr. Manuel Duarte de Oliveira, em celebração aos 100 anos de Independência do Brasil na Bahia, que terá o seu bicentenário celebrado em 2 de julho deste ano.
O segundo hino, de cunho religioso, tem poema escrito por Pethion de Villar, nome artístico utilizado pelo médico Egas Moniz Barreto de Aragão, e musicado pelo maestro Remígio Domenech, com anuência da Irmandade do Senhor do Bonfim. “À sombra do teu madeiro/ sob um céu primaveril/ nasce o povo brasileiro/ cresce pujante o Brasil/ De um dia sermos vencidos/ Não nos assalta o temor/ Ao teu lado sempre unidos/ Somos teu povo, ô, Senhor”.