O PT lançou onze pré-candidatos próprios a prefeituras de capitais para as eleições de outubro, mas só vê chances reais de vitória em duas. Em 2020, o partido não fez nenhum prefeito em capitais estaduais pela primeira vez desde a redemocratização.
O que aconteceu
A aposta do partido do presidente Lula da Silva (PT) é segundo Lucas Borges Teixeira, do Uol, fazer alianças em capitais e outras cidades de grande expressão. Entre as capitais, a legenda vê mais chances em Fortaleza e Teresina e mira na possibilidade de crescimento em Natal e Porto Alegre.
Os principais desafios são o avanço do conservadorismo e o fato de a maioria dos prefeitos de capitais estarem disputando a reeleição. Das 26 capitais, 20 têm candidatos aptos a disputar mais um mandato —curiosamente, as principais apostas do partido estão concentradas em duas delas.
O partido não terá candidato próprio nas duas maiores cidades do país. Em São Paulo, em ato inédito desde a redemocratização, apoiará o indicado do PSOL, Guilherme Boulos. E no Rio, embora ainda não tenha fechado aliança, estará ao lado de Eduardo Paes (PSD). Os dois nomes já receberam apoio claro do presidente.
A principal arma dos candidatos deverá ser a imagem de Lula. Há uma percepção de que a disputa em outubro será extremamente polarizada e nacionalizada. O apoio do presidente da República traz uma força evidente à candidatura, mesmo nas capitais onde ele não é tão popular, como as do Centro-Oeste e do Norte.
Lula já tem aproveitado viagens de inaugurações de obras do governo para promover aliados. Ele tem chamado os pré-candidatos ao palanque, feito elogios às gestões atuais ou anteriores, caso haja a referência. O plano do partido é que essas viagens sigam e, durante o período eleitoral, o presidente participe ativamente por meio de gravações e comícios.
Popularidade no Nordeste
O partido tem maior expectativa no Piauí e no Ceará, dois dos principais redutos lulistas. Em Teresina, o quadro está mais consolidado, enquanto em Fortaleza a aposta é uma virada semelhante à que elegeu o governador Elmano de Freitas (PT) em 2022.
O deputado estadual Fábio Novo foi o escolhido para tentar um feito inédito em Teresina. Apesar de comandar o estado desde 2003, o PT nunca governou a capital. O petista está em primeiro, tecnicamente empatado com o ex-prefeito Silvio Mendes (União) nas pesquisas, e conta com o apoio do bem avaliado governador Rafael Fonteles (PT) e do popular ex-governador e ministro Wellington Dias.
Em Fortaleza, o cenário é mais complexo. O prefeito José Sarto (PDT) busca a reeleição com apenas 23% de aprovação, segundo a DataFolha, e com um grupo político implodido após o racha entre os irmãos Ciro e Cid Gomes e a debandada do PT local. Quem desponta nas pesquisas é o ex-deputado bolsonarista Capitão Wagner (União).
Evandro Leitão, presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, foi escolhido pelo mesmo grupo que chancelou Elmano. A expectativa petista é que a aliança entre Lula, o ex-governador e ministro Camilo Santana (PT) e o senador Cid Gomes (PSB) seja o bastante para alavancá-lo como fizeram com o governador, um desconhecido deputado estadual catapultado à vitória no primeiro turno.
Candidaturas femininas
O partido escalou quatro deputadas para tentar em três regiões diferentes. Maria do Rosário vai buscar retomar Porto Alegre, enquanto as colegas Adriana Accorsi, Camila Jara e Natália Bonavides querem vitórias difíceis (em duas delas, inéditas) em Goiânia, Campo Grande e Natal, respectivamente.
Maria do Rosário está em segundo nas pesquisas, atrás do prefeito Sebastião Melo (MDB). A capital gaúcha já foi um dos expoentes do PT no país, com 15 anos ininterruptos de comando, de 1989 a 2004, mas a hegemonia acabou há 20 anos. Como estratégia para a retomada, o partido deve abordar as enchentes que inundaram a parte da cidade e contar com Lula, que voltou a ganhar na cidade em 2022 depois da derrota de Fernando Haddad em 2018.
Bonavides também está em segundo lugar, atrás do ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD). Com discurso jovem, ela deverá usar o apoio da bem avaliada governadora Fátima Bezerra (PT) e, também, do presidente, que teve 52% na capital potiguar.
Em Campo Grande, o desafio de Jara é maior. Também jovem e de perfil combativo, ela pretende defender o legado lulista e do ex-governador Zeca do PT, mas com um agravante em relação às colegas: a capital sul-mato-grossense foi onde Bolsonaro teve uma das vitórias mais expressivas em 2022, com 62% dos votos.
Em Goiânia, a desistência do deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL) embaralhou a disputa. Ele alternava entre o primeiro e segundo lugar, com Accorsi variando entre segunda e terceira. Agora, o PT aposta que a fragmentação da direita pode ajudar a delegada a cavar um segundo turno junto ao ex-deputado Sandro Mabel (União), candidato do governador Ronaldo Caiado (União).
Conservadorismo e reeleição
Em outras capitais, os dois principais desafios serão enfrentar candidatos à reeleição e o perfil conservador do eleitor, avalia o partido. Embora a imagem de Lula deva ser usada com frequência, petistas dizem que, quando se trata de eleição municipal, a transferência não é assim tão direta, como pode ocorrer para o governo do estado ou Legislativo.
Em parte dos casos, os dois desafios estarão postos ao mesmo tempo. Em Vitória, o ex-prefeito João Coser (PT) voltará a enfrentar o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), de perfil conservador, que o derrotou em 2022 — o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu Lula na capital capixaba.
Em Maceió, o ex-vereador Ricardo Barbosa (PT) enfrenta o prefeito JHC (PL), um dos mais bem avaliados do país, que tem se aproximado cada vez mais do bolsonarismo. A capital alagoana foi a única do Nordeste em que o ex-presidente teve mais votos do que Lula. Barbosa ainda deve dividir votos com o deputado Rafael Britto (MDB), pré-candidato apoiado pela família Calheiros.
Em Belo Horizonte, Florianópolis e Manaus, os petistas não arranham o topo. Nas três, os escolhidos foram o deputado Reginaldo Lopes, o ex-vereador Lela Farias e o ex-deputado Marcelo Ramos, recém-chegado ao PT, respectivamente. Os três enfrentam candidatos à reeleição, embora o belo-horizontino Fuad Noman (PSD) também não lidere pesquisas, em cidade em que o partido acumula derrotas nos últimos anos.
Coligações e cidades médias
Em outras capitais, o partido entendeu que fazia mais sentido compor uma coligação. Em São Paulo, juntou-se a Boulos com a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como vice, em um acordo costurado por Lula. Mesmo não sendo cabeça de chapa, essa disputa é crucial para a legenda, de olho no governo do estado em 2026. O deputado tem oscilado entre a liderança e o empate técnico com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) nas pesquisas.
Em Salvador, o grupo que governa o estado desde 2007 juntou-se em torno do vice-governador Geraldo Júnior (MDB). Ele desafia o prefeito Bruno Reis (União), um dos mais bem avaliados do país, com indicação de vitória em primeiro turno nas pesquisas.
No Rio, o PT deverá se juntar à reeleição de Paes. O mesmo deve acontecer em Recife, onde Lula já concedeu a bênção de apoio à reeleição de João Campos (PSB).
O partido mira ainda em cidades médias do Nordeste e do Sudeste. O partido quer retomar a força na Grande São Paulo, berço político de Lula, com o deputado Alencar Santana em Guarulhos, os deputados estaduais Luiz Fernando, em São Bernardo do Campo, e Emídio de Sousa, em Osasco, e a reeleição de José Filippi em Diadema. Também são vistos com chance de vitória os deputados Dandara Tonantzin, em Uberlândia (MG), e Waldenor Pereira, em Vitória da Conquista (BA); o ex-prefeito Elias Gomes, em Jaboatão dos Guararapes (PE); e o deputado estadual Fernando Santana, em Juazeiro do Norte (CE).