A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já traçou prioridades de acordo com Lucas Borges Teixeira, do UOL, para tentar consolidar a vitória no primeiro turno. Com convenção realizada, o petista quer aumentar o número de alianças ao centro, resolver eventuais entraves locais e conquistar voto dos indecisos.
A aliança quer ampliar os apoios pontuais de partidos como MDB e PSD, que já compõem a base em alguns estados, e fechar até com siglas do cerco bolsonarista, como o PP —também pontualmente. Além disso, focará em eleitores de outros candidatos que ainda consideram mudar de lado, com um discurso que fale em “voto útil no primeiro turno”.
Uma eventual vitória no início de outubro é vista como uma possibilidade, porém está longe de ser uma certeza. De acordo com o agregador de pesquisas do UOL, Lula tem 44,9% das intenções de voto contra 46,7% dos outros candidatos, o que levaria a um segundo turno com o presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo colocado.
Dentro do PT, esse cenário era esperado e até ansiado. O plano era abrir agosto, mês em que a campanha começa oficialmente, com a disputa estável, o que tem acontecido. Lula segue na faixa superior a 40% enquanto Bolsonaro fica pouco acima dos 30%, com diferença entre os dois oscilando entre 11 e 13 pontos percentuais, de acordo com o agregador.
Ampliar alianças
Para tentar aumentar essa fatia, o primeiro passo é ampliar o que o partido tem chamado de “frente democrática”. Atualmente, a aliança lulista é composta por sete partidos (PT, PSB, PSOL, Rede, PCdoB, PV e Solidariedade) e por apoios locais de MDB e PSD. O partido quer aumentar isso —embora saiba que, nacionalmente, é impossível reverter totalmente as duas siglas.
“Delegamos à executiva nacional da federação [PT, PCdoB e PV] poderes para discussão com outros partidos que possam integrar nossa coligação”, afirmou a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, em coletiva após a convenção nacional que chancelou a candidatura de Lula à presidência. “Viemos conversando principalmente com lideranças, lideranças do MDB e do PSD, para que eles possam caminhar junto conosco.”
Tebet x diretórios do MBD
Recentemente, o PT fechou alianças com o MDB do Amazonas, com o senador Eduardo Braga (MDB-AL), e com o governador Helder Barbalho (MDB-PA), e recebeu a indicação de apoio formal de 11 diretórios emedebistas já para o primeiro turno.
A iniciativa incendiou o partido, que tem a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como pré-candidata, e teve reação direta por parte do presidente Baleia Rossi (MDB-SP). De olho na distribuição do fundo eleitoral, o círculo pró-Lula argumenta que não faz sentido lançar (e gastar dinheiro com) uma candidata sem chance de vitória.
Liderado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), o grupo que apoia Lula quer reunir pelo menos 14 diretórios, com possibilidades no Nordeste e no Sudeste, antes da convenção nacional, marcada virtualmente para a próxima quarta (27).
Do lado do PT, já está dado que, mesmo que o grupo consiga limitar a candidatura de Tebet, não conseguiria aprovar um apoio formal de todo o partido a Lula. Por isso, a campanha foca nesses apoios pontuais nos estados, de parlamentares independentes e em municípios.
O mesmo acontece com o PSD. O partido do ex-ministro GIlberto Kassab, um dos maiores do Congresso e entre os maiores em números de prefeitos, deverá ficar neutro nacionalmente no primeiro turno e já liberou os estados para delegarem.
A legenda já está do lado do PT no Amazonas, com o senador Omar Aziz (PSD-AM); na Bahia, com o senador Otto Alencar (PSD-BA); e em Minas Gerais, com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD-MG). Apesar de não oficializado a aliança, tem ainda o apoio do partido no Rio de Janeiro, na Paraíba e no Piauí.
Na última semana, tem avançado para fechar o apoio do PSD em Mato Grosso junto ao PP, principal partido da base do governo Bolsonaro. No mesmo estado, Lula fechou acordo com o deputado Neri Geller (PP-MT), para apoio à sua pré-candidatura ao Senado.
Mato Grosso é um dos poucos estados em que o ex-presidente não tem um palanque fechado para governador e, embora seja visto como um local de vitória dada para Bolsonaro, qualquer avanço é considerado uma vitória.
O acordo é costurado junto ao senador Carlos Fávaro (PSD-MT) e ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa lulista. Geller e Fávaro são ligados ao agronegócio e ao empresário e ex-governador Blairo Maggi (PP), um dos maiores empresários do ramo no país, que tem boa relação com Lula e que tem recebido elogios do ex-presidente abertamente.
Geller, Fávaro, Alckmin e Aloízio Mercadante (PT), coordenador da campanha, se reuniram na Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, na última sexta-feira (22), para acertar detalhes de uma possível viagem do candidato a vice ao estado com apoio do setor.
Com o discurso de “defesa da democracia”, o PT tem aceitado qualquer apoio que ajude Lula a ganhar as eleições, mesmo de ex-bolsonaristas.
“Tiramos como meta a ampliação desse movimento político. O momento que vivemos no Brasil é muito difícil, essa não é uma eleição normal como outras que tivemos. As forças democráticas têm de se unir”, afirmou Gleisi à imprensa.
Foco nos indecisos e um novo tipo de “voto útil”
Se, em 2018, em especial no segundo turno, a campanha de Fernando Haddad (PT) focou no “vira voto”, neste ano os petistas pretendem seduzir quem ainda não está tão certo em quem votar mais cedo. Nas pesquisas, está pacificado que mais de 80% dos eleitores de Lula e de Bolsonaro dizem não mudar de opção. O foco é na pequena margem que resta.
No último Datafolha, o número de indecisos ficou em 4% na estimulada, quando os nomes são apresentados, e 27% na espontânea, quando não são citados nomes. Parece pouco? Para o PT, não é.
Nas contas do partido, a possibilidade de vitória no início de outubro será decidida voto a voto. Por isso, têm de trazer para o seu lado entre 1% a 2% do percentual que, na estimulada, diz ainda não saber qual candidato escolheria.
“Ainda tem uma margem de indecisos que nós temos que olhar. Mesmo que o candidato não nos apoie, nós podemos falar com essas pessoas. Mesmo aqui no estado [de São Paulo], em outras regiões do país, as pesquisas mostram que tem uma quantidade de pessoas que ainda não estão com certeza do voto, que podem mudar”, afirma o ex-deputado Jilmar Tatto, membro da executiva nacional do PT e articulador da campanha em São Paulo.
Para consolidar, a campanha pretende conversar ainda com os eleitores de outros candidatos, em especial Ciro Gomes (PDT), integrante do campo da esquerda, que dizem que poderiam mudar de voto.
A aposta interna do PT, que dirigentes evitam falar publicamente, é que, caso as pesquisas apresentem possibilidade de vitória lulista às vésperas do primeiro turno, no final de setembro, muitos eleitores de Ciro Gomes (PDT) que já iriam migrar para o petista na segunda etapa acabem apertando o número de Lula para “resolver logo o assunto”. Hoje, Ciro tem 5,9% das intenções de voto.
Membros da campanha usam como exemplo o próprio Alckmin em 2018. O então tucano, que oscilou entre 8% e 10% durante toda a campanha, desidratou na véspera da eleição e acabou o pleito com 4,7% dos votos. No PSDB, isso foi visto como uma espécie de “voto útil” a Bolsonaro por parte de tucanos que acabariam elegendo o presidente no segundo turno.
Mais para frente, o PT deverá aumentar o tom sobre Ciro e tentar reforçar esse discurso de liquidar a eleição em apenas um turno “para evitar um mal maior”, citando as frequentes ameaças que o presidente Bolsonaro tem feito contra o sistema eleitoral.
Antes, no entanto, o PT precisa resolver entraves próprios, como a briga pela vaga ao Senado no Rio de Janeiro e a indecisão de candidato no Rio Grande do Sul.
Para o início oficial da campanha, no meio de agosto, a área de comunicação e marketing seguirá tendo como pilar a questão econômica e de “defesa da democracia”. “Isso que já tem sido falado pelo presidente Lula: é a vida do povo, a condição das pessoas, é trabalho, é renda. Esse vai ser o nosso foco principal”, afirmou Gleisi.