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domingo 16 de agosto de 2020 às 07:33h

PT prepara respostas a crescimento de Bolsonaro sobre eleitorado lulista

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Partido lança campanha para defender Lula e Dilma, além de novo Bolsa Família e programa econômico

Em meio à ofensiva do presidente Jair Bolsonaro sobre setores em que o PT é eleitoralmente forte, o partido busca segundo reportagem do jornal Folha, como dará uma resposta.

Desde o início de agosto, conforme a publicação, a legenda lançou uma proposta de ampliação do Bolsa Família e uma campanha em defesa dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-10) e Dilma Rousseff (2011-16).

Também prepara para setembro um programa econômico com foco nos investimentos do Estado, em contraposição ao discurso liberal do ministro Paulo Guedes (Economia).

O contexto dessas ações é a migração do apoio de parte das camadas mais pobres da população para o presidente, como efeito do auxílio emergencial de R$ 600.

Conforme mostrou pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (13), a popularidade de Bolsonaro subiu em praticamente todos os segmentos.

Entre os que ganham até dois salários mínimos, a avaliação de que seu governo é ótimo ou bom passou de 29% para 35% em relação à pesquisa feita no final de junho. Na parcela dos que recebem entre dois e cinco salários mínimos, o índice foi de 35% para 40%.

Bolsonaro agora quer perenizar o auxílio emergencial, substituindo o Bolsa Família, marca associada ao PT, pelo Renda Brasil, ainda sem formato definido.

Além disso, iniciou um programa de visitas e inaugurações de obras no Nordeste, única região em que o PT venceu em 2018. Ministros pressionam pelo aumento de gastos, apesar da oposição de Guedes.

De acordo com o Datafolha, a rejeição a Bolsonaro caiu de 52% para 35% no Nordeste. Diante dessa realidade, o PT se movimenta.

“Há uma tentativa de desconstrução do PT. É importante lembrar o que o partido fez, trazer isso para o presente. Estamos vivendo uma crise enorme, com a pandemia e os problemas econômicos e queremos mostrar que tem saída para isso”, afirma a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann.

O partido finaliza o “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil”. “Ele apontará para o futuro, para o pós-pandemia. O principal foco é o papel do Estado e sua forma de financiamento. Nesse momento em que a economia está no chão, precisamos de um Estado forte, que gaste, que invista, para que gere renda”, diz Gleisi.

Na última segunda-feira (10), o partido lançou o primeiro de uma série de vídeos para ressaltar os feitos de seus governos, com o slogan “Na Hora do Vamos Ver, Quem Defende Você é o PT”.

O vídeo, a ser utilizado também nas campanhas municipais do partido, contrasta a paralisia econômica atual com imagens de um Brasil pujante dos governos petistas.

Há diversas referências a periferias e ao sertão nordestino, além de imagens de entregadores de aplicativos, uma nova classe de trabalhadores informais para os quais o PT avalia que precisa ter um discurso.

Essa nova leva de “uberizados” seria alcançada pelo Mais Bolsa Família, que a bancada do partido na Câmara apresentou como projeto de lei em 5 de agosto.

A ideia é ampliar o atual programa, lançado por Lula em 2003, preservando o nome. Enquanto o modelo atual é direcionado a famílias na pobreza e na extrema pobreza, com renda per capita de até R$ 178, o formato expandido alcançaria os que têm renda per capita de até R$ 600, adicionando a categoria dos que são “vulneráveis”.

“É a pessoa que tem emprego durante três meses, depois perde durante três meses, o autônomo que consegue dar aulas de vez em quando, o trabalhador informal”, diz Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social no governo Dilma e uma das responsáveis pelo projeto.

O programa ofereceria uma complementação de renda de até R$ 300 por criança, adolescente, gestante ou mulher que amamenta, até o limite de cinco benefícios por família.

O alcance do programa subiria dos atuais 14 milhões de famílias para até 30 milhões, e o custo anual iria de R$ 32 bilhões para até R$ 230 bilhões. Esse salto seria bancado, segundo o PT, por um imposto sobre os muito ricos (0,3% da população), revisão das desonerações e combate à sonegação.

Segundo Campello, o novo Bolsa Família atende a uma nova realidade que não existia quando o programa original foi concebido, e não apenas por causa da pandemia.

“A partir de 2016, você tem um processo de informalização e de precarização do trabalho acentuado no Brasil, por conta do desmonte da legislação de proteção trabalhista. A Covid foi uma hecatombe, acelerando essas tendências”, diz a ex-ministra.

Para ela, o partido tem a obrigação de responder à tentativa do governo Bolsonaro de criar o Renda Brasil. “É uma irresponsabilidade no meio de uma crise pegar uma coisa que está funcionando há 17 anos, que os municípios conhecem, que é operacional e organizada, e querer reinventar a roda”, diz.

O Renda Brasil ainda não tem data de lançamento, nem detalhes de como será implementado. O governo cogita financiá-lo condensando diversas ações já existentes, como o abono salarial e o seguro-defeso, pago a pescadores.

Pelas informações preliminares já divulgadas, seria mais modesto que a alternativa petista. Custaria algo como R$ 70 bilhões, alcançando 20 milhões de famílias.

Além do aceno às classes mais baixas, Bolsonaro também tem buscado uma presença maior no Nordeste, que passou a visitar com mais frequência. Nos últimos dois meses esteve em Piauí, Ceará e Bahia, onde inaugurou obras relativas ao rio São Francisco. A transposição do rio é uma das principais marcas do PT no Nordeste.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o partido pretende, na campanha eleitoral, resgatar as obras e programas petistas, reforçando o papel de Lula. “Em cada cidade, região, vamos falar o que o PT fez como governo federal”. A presença física de Lula na região ainda é uma dúvida, em razão da pandemia.

Segundo o senador, o auxílio emergencial de R$ 600 ajudou a diminuir a rejeição de Bolsonaro em diversos lugares, mas a aposta é que será algo momentâneo.

“Imaginar que o Bolsonaro vai fazer um governo para os pobres é muito duvidoso. É um governo que tem muitas contradições internas, muitas divergências, e não sabemos se está realmente interessado em fazer política social. Ao mesmo tempo, o Nordeste tem essa simpatia pelo PT em razão de tudo que já foi feito.”

Em 2018, o petista Fernando Haddad venceu na região com 69,7% dos votos no segundo turno, contra 30,3% de Bolsonaro. Dos 9 governadores nordestinos, 7 são de partidos de esquerda.

O PT, embora tenha sido alijado das capitais, governa diversas cidades de porte médio na região. Uma delas é Senhor do Bonfim, de 84 mil habitantes, no norte da Bahia.

Segundo seu prefeito, Carlos Brasileiro, que está no terceiro mandato (não consecutivo), a cidade historicamente tem uma parcela de um terço de eleitores antipetistas, que são mais suscetíveis ao auxílio emergencial e a programas como o Renda Brasil.

“Claro que isso move com os sentimentos das pessoas, atinge um percentual desse publico mais carente. Mas a força do que foi construindo nos governos do PT ainda é bem maior”, diz. Há atualmente cerca de 9.000 famílias beneficiadas com o Bolsa Família no município.

No segundo turno em 2018, a cidade deu 67,3% dos votos para Haddad e 32,7% para Bolsonaro.

Para Brasileiro, o presidente ainda é visto com desconfiança por grande parte do eleitorado cativo de Lula. “O morador daqui por enquanto só vê discurso e inauguração de obras que começaram nos governos do PT. Ninguém aqui ainda viu Bolsonaro passar do discurso à prática”, afirma.

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