Embora sejam considerados postos-chave para a cúpula do PT, os ministérios da Saúde e Educação podem escapar das mãos de integrantes do partido e acabar sendo negociados pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como moeda de troca para forma uma base aliada robusta no Congresso Nacional. Até aqui, eles ainda não estão garantidos entre as pastas de destino certo do partido, mais do que favorito para comandar a Fazenda e a Casa Civil, por exemplo. De acordo com Manoel Ventura, do O Globo, o PT não abre mão ainda de ficar com o ministério que cuidará do Bolsa Família.
Nos governos anteriores de Lula e nas gestões de Dilma Rousseff, o PT predominou nas duas pastas: num total de 15 ministros das áreas nos quatro mandatos, dez (dois a cada três) eram filiados à legenda. Os demais eram de outros partidos ou sem filiação.
Como O Globo mostrou, a bancada do PT apontou como fundamental comandar pastas consideradas estratégicas para políticas públicas como Saúde, Educação e Desenvolvimento Social, além da Fazenda, Casa Civil e Articulação Política. Essa cobiça por espaço no novo governo por parte da legenda também deve ser reforçada na primeira reunião do diretório nacional da sigla, prevista para esta quinta-feira.
Um dos partidos que já demonstraram interesse pela Saúde foi o PSD, comandado pelo ex-ministro Gilberto Kassab. Conselheiros de Lula, porém, defendem que seja indicado um nome considerado mais “técnico” e escolhido pessoalmente pelo presidente eleito. Nessa lista de cotados, despontam a presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, e o médico infectologista Davi Uip, ex-secretário de Saúde do governo de Geraldo Alckmin (atual vice-presidente eleito) no estado de São Paulo.
A Educação também está à mesa de conversas. Integrantes do MDB demonstraram interesse pela pasta, de acordo com parlamentares que negociam com Lula espaço na Esplanada. Favorito de Lula para a Fazenda, Haddad já indicou que não voltaria ao MEC, embora tenha ajudado na composição do grupo que trata do assunto na transição. Na Saúde, o ex-ministro Alexandre Padilha, que já comandou o ministério, também já indicou que não gostaria de voltar ao posto.
Quebra-cabeça
Lula tem conversado com partidos como MDB, PSD e União Brasil, além de precisar contemplar de alguma forma legendas que o apoiaram durante as eleições, como o PSB (do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin) e PDT (que apoiou Lula no segundo turno, já que no primeiro tinha Ciro Gomes como candidato à Presidência). Na montagem da Esplanada, também está sendo levado em conta o tamanho das bancadas na Câmara e no Senado e não há garantia que todos os pleitos dos aliados serão atendidos.
As conversas também passam pelas eleições para a presidência da Câmara e do Senado — o PT, por exemplo, declarou apoio para a reeleição de Arthur Lira (AL), do PP, na Câmara.
Com orçamentos acima de R$ 100 bilhões, os ministérios da Saúde e Educação foram marcados por gestões tumultuadas e bastante criticadas por especialistas ao longo do governo Jair Bolsonaro (PL). A Saúde por causa da pandemia. Já o MEC sofreu com falta de verbas e por gestões consideradas ideológicas — a comissão externa da Câmara que acompanha os trabalhos do ministério apontou, por exemplo, que a pasta sob o governo Bolsonaro foi marcada por “inaptidão técnica, aversão ao diálogo e improviso”.
Disputa na Esplanada
Apesar da importância de Saúde e Educação, as maiores disputas nos bastidores da transição e dentro do PT hoje se dão em outros ministérios, como as áreas da equipe econômica, infraestrutura e os assentos no Palácio do Planalto (Casa Civil e articulação política). Integrantes do PT afirmam que ocupantes destas pastas, se bem sucedidos em suas gestões, poderão ser sucessores de Lula em 2026.
Lula está em Brasília dedicado às negociações para a construção de apoios. A conta de integrantes da transição é de que a nova Esplanada teria pouco mais de 30 ministérios — hoje são 23. Além dos ministérios, também vão pesar a possível influência em indicações para estatais e postos chaves no Congresso, como a figura de líder do governo nas duas Casas legislativas.
Nos últimos dias, Lula tem demonstrado preocupação com o Senado, que terá expoentes do bolsonarismo no próximo ano, como ex-ministros do atual presidente. Mais do que o número de apoio, o que preocupa Lula é a força “qualitativa” no Senado. Nessa avaliação, seria necessário manter aliados “fortes” na Casa para fazer frente à futura oposição, que terá nomes como Sérgio Moro (União Brasil) e Damares Alves (Republicanos).