segunda-feira 1 de julho de 2024
Bandeira do PT / Foto: Delcídio do Amaral
Home / NOTÍCIAS / PT enfraquece prévias, e ala do partido acusa afronta à democracia interna
terça-feira 24 de outubro de 2023 às 14:25h

PT enfraquece prévias, e ala do partido acusa afronta à democracia interna

NOTÍCIAS


Uma decisão interna do PT esvaziou a organização de prévias e desencadeou críticas de filiados, que apontam afronta à democracia do partido —e até mesmo questionamentos na Justiça.

No dia 18 de setembro, a Executiva Nacional do PT aprovou uma resolução permitindo que dois terços dos integrantes de diretórios municipais escolham o seu candidato à prefeitura de cada cidade, dispensando nesse caso a realização de prévias. O texto passou por 17 votos contra 12.

“Nos municípios onde não houver consenso, o diretório municipal deliberará até 30 de novembro de 2023 sobre as candidaturas ou propostas de coligação e quando a decisão tiver o apoio de dois terços dos membros da instância, a decisão seguirá imediatamente para a homologação das instâncias superiores”, diz a resolução aprovada.

Uma ala do partido reclama que essa decisão contraria o estatuto petista. A norma interna determina que, em caso de dois ou mais postulantes a cargo majoritário, o nome do candidato deve ser escolhido por prévia partidária.

O estatuto prevê ainda que as prévias podem ser dispensadas caso dois terços do diretório correspondente vote nesse sentido. Mas, nesse caso, o candidato passa a ser definido em um encontro partidário, com delegados eleitos para esse fim —não pelos diretórios, que são instâncias menores e controladas por caciques da sigla.

Uma ala do partido apresentou um recurso ao comando do PT afirmando que, além de desrespeitar o estatuto, a decisão afronta a democracia interna. No dia 16 de outubro, esse recurso foi rejeitado em votação no diretório nacional, por 47 votos contra 36.

Com isso, diretórios municipais do PT passaram a planejar as reuniões para definição dos seus candidatos.

O episódio levou o ex-prefeito de Guarulhos Elói Pietá a entrar com uma ação na Justiça para tentar impedir que o nome do PT para a sucessão municipal fosse escolhido sem a realização de prévia ou encontro partidário. Pietá, que postula a candidatura, diz que proceder de outra forma seria uma violação ao estatuto.

A reunião do diretório de Guarulhos para chancelar o candidato petista ocorreu no sábado (21). Pietá não conseguiu uma liminar para suspender a reunião, e o diretório municipal do PT anunciou o deputado federal Alencar Santana como pré-candidato à prefeitura em 2024. Santana foi selecionado com base na decisão da Executiva que empoderou os diretórios a escolher os candidatos.

Pietá afirma que selecionar um candidato pelo diretório municipal —como acabou ocorrendo em Guarulhos— é uma deformação do princípio partidário da ampla participação.

Ele diz que o PT de Guarulhos tem mais de 25 mil filiados, mas que um colegiado muito menor escolheu o candidato. No caso, Santana foi alçado a pré-candidato com 35 dos 46 votos do diretório municipal.

Em uma reunião recente, o ex-prefeito de Guarulhos chegou a lembrar que, em 1985, o PT não participou do colégio eleitoral para a escolha do presidente da República justamente por reivindicar eleições diretas ao Palácio do Planalto.

Pietá não é a única voz no PT que se queixa abertamente do entendimento imposto pela Executiva Nacional.

Autor do recurso, o secretário nacional de Assuntos Institucionais do PT, Joaquim Soriano, divulgou um documento afirmando que “contrariar o sentido fundante do partido criado de baixo para cima é um retrocesso que precisa ser evitado”.

Segundo ele, o PT aponta as prévias como a “máxima democracia”. Nesse sentido, diz, delegar a dois terços da direção municipal eleita em 2019 a definição das candidaturas é um “gigantesco erro”.

Ainda de acordo com Soriano, essa decisão “pode consolidar dentro do partido uma ideia nefasta: a de que maiorias podem tudo”.

Qualquer alteração no estatuto do PT tem que ser aprovada em encontro nacional do partido. O próximo está previsto para ocorrer apenas em 2025.

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), rebateu as críticas e disse que o objetivo da mudança é buscar soluções políticas para impasses. Gleisi é integrante da corrente majoritária no PT, a Construindo um Novo Brasil, a mesma do presidente Lula (PT).

“O objetivo da resolução é estimular a construção de consensos e maiorias internas na indicação de candidaturas, de forma a concentrar as energias na disputa contra os adversários eleitorais em 2024”, disse Gleisi à Folha.

Segundo ela, é natural que existam situações pontuais em que a construção seja mais difícil. “As prévias não estão proibidas, o estatuto prevê que se tiver dois terços dos membros do diretório contra prévias, elas não serão realizadas. A orientação do diretório nacional nessa resolução é buscar solução na política”, justificou.

Pietá, por sua vez, argumentou que recorreu à Justiça por não haver previsão antes do pleito municipal de encontro nacional do partido, no qual ele poderia apresentar um recurso. Segundo o ex-prefeito, outros municípios podem ser afetados pelo entendimento da Executiva Nacional.

Em Fortaleza, por exemplo, existe a possibilidade de a ex-prefeita Luizianne Lins, embora popular com a militância petista, não ter apoio da maioria do diretório local para ser candidata.

“Estamos defendendo o direito de a maioria dos filiados escolherem”, disse Pietá.

Veja também

Mais da metade das indústrias reclamam do altos custos de energia elétrica, informa CNI

Uma nova pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 1.002 executivos mostra que 53% …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!