Em lados antagônicos da política, PT e PL traçaram uma estratégia semelhante para as eleições municipais deste ano: a aposta em candidatos novatos, mas com apoio de padrinhos de peso, o presidente Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mostra reportagem de Victoria Abel, do O Globo
No caso do PL, que tem plano de triplicar o número de prefeituras e ultrapassar a barreira de mil cidades, o investimento busca também minimizar a presença nas chapas de nomes com um passado de alinhamento à esquerda. O partido integrou a base nos primeiros mandatos de Lula e em parte da gestão de Dilma Rousseff, mas, quase uma década depois, apostará na polarização para alavancar o próprio espaço.
O objetivo, portanto, é lançar nomes novos com viés conservador e identificação com o bolsonarismo, como os deputados federais Alexandre Ramagem (RJ), no Rio, e André Fernandes (CE), em Fortaleza; e o deputado estadual Bruno Engler (MG), em Belo Horizonte.
— O eleitor quer um candidato conservador, que defenda valores da direita, mas que seja novo. Os políticos mais antigos, apesar da experiência, podem ter histórico de ligação com a esquerda — avalia o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), vice-presidente do partido.
Pesquisas dão o norte
O parlamentar afirma que pesquisas vão ajudar a refinar a estratégia, que terá também alianças em cidades onde há dificuldade de emplacar nomes competitivos — um dos exemplos é a provável coligação com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Mesmo neste caso, o embate entre Lula e Bolsonaro será explícito, com o presidente no palanque do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), e o ex-mandatário ao lado de Nunes.
O PL também conta com Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em viagens pelo país para alavancar as candidaturas. Uma das paradas será em Fortaleza, em apoio a André Fernandes, que deve enfrentar um nome do PT, ainda em debate interno. O município hoje é comandado por José Sarto (PDT), provável candidato à reeleição.
— Minha candidatura representa a mudança e não vou entrar na campanha apenas para disputar, mas para vencer — diz Fernandes.
No PT, os novos nomes devem ficar para cidades como Campo Grande, Natal e Aracaju. Para a capital sergipana, uma das cotadas é a jornalista Candisse Carvalho, mulher do senador Rogério Carvalho (PT-SE), enquanto a possibilidade de a ex-vice-governadora Eliane Aquino ser a candidata do partido vem perdendo força. Em Natal, a aposta é a deputada federal de primeiro mandato Natália Bonavides.
— Foram feitas pesquisas e discussões com o partido nessas capitais e quadros mais novos foram bem aceitos — afirma o coordenador nacional para eleições municipais do PT, o senador Humberto Costa (PE).
Em Campo Grande, Camila Jara, também deputada de primeiro mandato, é o nome que desponta internamente.
— Esse lugar não é pensado para uma mulher jovem e que não vem de família tradicional na política, mas com estudo e dados técnicos podemos fazer dar certo — pontua a parlamentar.
Outras legendas também avaliam levar à urna nomes novos. Uma ideia em análise no PSB, por exemplo, é aproveitar a exposição que o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, teve no ano passado para testá-lo em alguma capital, ainda indefinida. A iniciativa poderia servir de trampolim para uma candidatura ao governo do Distrito Federal em 2026. Para a disputa em São Luís, a legenda aposta no deputado federal de primeiro mandato Duarte Júnior, próximo ao ministro Flávio Dino (Justiça). No caso do MDB, que tenta retomar o posto de partido com mais prefeituras do país, perdido para o PSD, há dois novatos concorrendo internamente para a candidatura em Maceió: o deputado federal Rafael Brito e o estadual Alexandre Ayres, ambos em primeiro mandato.