Ciro Gomes e Lula unidos, juntos no mesmo palanque eleitoral de 2022
Segundo a coluna de José Casado, na Veja, é isso mesmo. No PDT de Ciro e no PT de Lula muita gente também estranhou, mas essa é a aliança que está sendo negociada pelo candidato do PDT de Ciro ao governo do Rio, Rodrigo Neves, e líderes do PT de Lula, entre eles André Luiz Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa.
Neves, 45 anos, sociólogo de formação, se apresentou como candidato a governador na sede do PDT de Niterói, na quinta-feira, sob aplausos de um grupo de aliados petistas.
Havia um toque naturalidade no salão, porque ele ascendeu como vereador pelo PT, onde permaneceu uma década até desembarcar no PDT, em 2017. Com uma dose de ironia, a vereadora Verônica Lima, uma das mais influentes ativistas do PT fluminense, lembrou-lhe em discurso a liderança de Lula nas pesquisas eleitorais. Eles são amigos desde o movimento estudantil, nasceram e mantêm vínculos em São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do Rio.
Ela não estava nas reuniões anteriores, nas quais Neves e parte da cúpula do PT fluminense desenharam a montagem de uma aliança, com objetivo de unir Lula e Ciro nos palanques do Rio.
Não há indícios de que os dois adversários na disputa presidencial tenham conversado nas últimas duas semanas. Mas é muito difícil que ambos nada saibam sobre as conversas de Neves e líderes estaduais do PT, entre eles Ceciliano. Elas acontecem há semanas.
É parte de uma novidade na campanha. Os candidatos à presidência estão amargando um choque de realidade no novo mundo da política partidária.
Lula e Ciro, assim como Jair Bolsonaro, são relevantes nos palanques mas, ao contrário do que ocorreu em eleições anteriores, a prioridade dos partidos em 2022 é eleger a maior bancada possível — fator determinante na partilha dos fundos públicos e do tempo de propaganda no rádio e na televisão. As negociações no Rio, por exemplo, têm esse objetivo. É a principal condicionante dos movimentos dos candidatos presidenciais no jogo eleitoral de 2022.
A ideia de dividir palanques com Lula pode eventualmente não agradar a Ciro, mas é certo que as negociações do PDT com parte do PT fluminense são muito menos palatáveis para o líder petista.
É menos pela companhia de Ciro, que hostiliza e por quem é hostilizado desde 2018. E muito mais pelo potencial de implosão dos planos eleitorais de Lula para o Estado do Rio, terceiro maior colégio eleitoral do país.
O PT fluminense se fragmenta desde que Lula passou pela capital, dois meses atrás, e definiu aliança com PSB de Marcelo Freixo, candidato ao governo estadual, mais o PCdoB e Psol.
Dias depois, o presidente estadual e vice nacional do PT, Washington Quaquá, ex-prefeito de Maricá, resolveu apoiar a reeleição do governador do Rio, Claudio Castro (PSC), um aliado de Bolsonaro, contra o candidato de Lula.
Quaquá, 50 anos, comanda boa parte dos diretórios e tem uma longa história de militância no PT: filiou-se na adolescência, aos 14 anos, e ascendeu na hierarquia partidária durante os últimos 36 anos. Maricá, reduto eleitoral de Quaquá, assim como Niterói, a base de Neves do PDT, são cidades ricas, principais beneficiárias dos royalties estaduais da produção marítima de petróleo.
Lula reagiu com veto público à opção de Quaquá, que lançou a ideia de uma espécie de aliança “bolsopetista”, reunindo o líder do PT e o governador Castro no mesmo palanque.
O efeito foi imediato: abalou as negociações conduzidas por Lula para transformar Marcelo Freixo, ex-Psol e hoje no PSB, em candidato ao governo por uma aliança anti-Bolsonaro no Rio — estado que em 2018 deu ao atual presidente seis em cada dez votos válidos (em Maricá ele chegou a 62%).
Agora, ficou exposta outra fratura no PT fluminense, coma evolução das conversas de outra ala petista, liderada por André Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa, em apoio à candidatura de Neves do PDT.
A divisão no PT fluminense sugere que o acordo de Lula com Freixo só existe entre eles.