Ainda sem definir um nome para lançar na disputa ao governo de Minas, o PT vai intensificar nas próximas semanas segundo o jornalista Marcelo da Fonseca, no O Tempo, discussões internas sobre qual caminho trilhar no Estado até as eleições de outubro.
A opção por uma aliança com o prefeito Alexandre Kalil (PSD) – que vem sendo analisada pela direção nacional da sigla – é vista com desconfiança por parlamentares e lideranças do partido em Minas. O lançamento de uma candidatura própria petista é defendido por vários deputados e alguns deles consideram que a sigla “já está atrasada” em se lançar no debate.
O tabuleiro eleitoral mineiro se tornou peça-chave nas negociações feitas pela Executiva do PT em busca de apoio do PSD para a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o fim do ano passado, Lula faz uma ofensiva para conquistar um novo aliado e mantém conversas com o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD. O plano de Kassab é lançar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, na disputa pelo Planalto, mas o desempenho nas pesquisas até agora e a indefinição do próprio Pacheco sobre sua candidatura trouxeram novas alternativas e possíveis composições.
Caso aconteça esse acordo nacional entre as duas siglas, o PT de Minas poderia abrir mão de uma candidatura majoritária no Estado para apoiar Kalil. A presença no palanque do ex-presidente Lula é considerada pelos petistas como um grande atrativo para impulsionar a candidatura do prefeito da capital mineira.
De acordo com a última pesquisa DATATEMPO, em dezembro, o governador Romeu Zema (Novo) mantém vantagem significativa na corrida pela reeleição – o levantamento mostra que Zema venceria a eleição ao governo estadual em primeiro turno, com 56% dos votos, contra 28% de Kalil. A mesma pesquisa mostrava Lula com vantagem na disputa pela Presidência, com 39,7% das intenções de voto, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha 22,1%.
A aliança, no entanto, gera incertezas entre petistas no Estado. “O PSD é um partido que tem composição à direita no espectro ideológico. Embora tenha se diferenciado de outros partidos do centrão e o Kassab não esteja mais com Bolsonaro, o partido tem uma posição mais próxima à direita. Esse é mais um dos motivos pelo qual temos que lançar um nome do PT ao governo de Minas”, avalia o deputado federal Rogério Correia.
Em encontro com a bancada federal petista em janeiro, Lula avaliou que o prazo para definir sua candidatura à Presidência será março, mas que os Estados terão um tempo maior para as articulações, até julho – quando as legendas fazem suas convenções partidárias.
Relação aos “trancos e barrancos” com a esquerda
Desde que disputou sua primeira eleição, em 2016, Alexandre Kalil tem uma relação ambígua com o PT: mistura críticas e alfinetadas com elogios e afagos. O prefeito, que já foi filiado ao PSDB e ao PSB, já afirmou várias vezes que não é de esquerda, mas fez elogios aos bons resultados de políticas sociais implementadas nos governos petistas.
Em dezembro, Kalil conseguiu ao mesmo tempo agradar e irritar parlamentares petistas em entrevista a O TEMPO. Ele elogiou o ex-presidente Lula, mas ironizou os militantes de esquerda. “O presidente Lula precisa ser respeitado, é o maior líder socialista do mundo”, disse Kalil.
Em seguida, perguntado sobre sua posição ideológica, o prefeito fez críticas e ironizou a esquerda: “Eu não sou de esquerda, sou humano. O Estado deve interferir em menos coisas possível. É garantir saúde, educação e segurança. Sou a favor do empresariado, porque ele gera emprego. Sou a favor da privatização. Rotularam que é a esquerda que cuida de pobre e o rico não tem coração, é idiota, liberal na economia e mata todo mundo de fome. Me fantasiaram de ‘esquerdinha’, que eu não sou e detesto. Porque a esquerda é festiva, defende o pobre no microfone e fuma charuto cubano no banheiro. Aí não dá”.
A fala de Kalil foi criticada por petistas. “Não sei o que é mais lamentável: se é Kalil achar que camarão e charuto só podem ser consumidos pela elite ou se é seu conjunto de ações que ajudam a entregar o governo do Estado para o Zema”, rebateu o vereador Pedro Patrus.
Sinais não garantem apoio a prefeito de Belo Horizonte
O presidente do PT em Minas, deputado estadual Cristiano Silveira avalia que, apesar de fazer algumas críticas, Alexandre Kalil tem feito gestos e acenos ao partido.
No entanto, a posição mais forte dentro da sigla hoje é lançar uma candidatura própria. “Ainda que Kalil faça críticas à esquerda, ele tem buscado se posicionar no campo de oposição à extrema direita. Ao afirmar que receberia todo mundo, menos Bolsonaro, ao fazer elogios ao Lula. Então, se ele quiser nos ajudar a vencer Bolsonaro e estiver à disposição para apoiar Lula, não vejo dificuldades. Mas não significa que faremos essa aliança”, explica Silveira.
O deputado Odair Cunha afirma que não existe diálogo entre Kalil e Lula, mas minimiza as críticas do prefeito aos partidos de esquerda e pede “calma e tranquilidade” para qualquer negociação política. “Não existe essa conversa (do prefeito com o ex-presidente). O que há é uma disposição para um diálogo nacional do PSD com a direção do PT”, diz.
Postulante
No PT, o nome do prefeito de Teófilo Otoni, Daniel Sucupira, tem sido ventilado como possível pré-candidato a governador. O deputado federal Reginaldo Lopes é cotado para disputar o Senado.
Alternativas
O presidente do PT-MG, deputado estadual Cristiano Silveira, diz que a legenda tem três opções: lançar candidatura própria; formar a federação com PSB, PCdoB e PV; e apoiar a candidatura de Kalil.
Promessa
No caso da federação, segundo Silveira, o partido aceita discutir com as outras siglas nomes que possam ser mais viáveis.
Outro lado
A reportagem procurou Alexandre Kalil por meio de sua assessoria, para saber sobre uma aliança com o PT na disputa pelo Palácio Tiradentes, mas ele não quis se manifestar. Nos bastidores, no entanto, interlocutores de Kalil dizem que uma conversa com Lula será marcada em breve.