A ala política do governo estabeleceu três objetivos para as eleições municipais deste ano. Não se acredita que a disputa pelo comando das prefeituras irá afetar a eleição presidencial, mas existe uma aposta de que a polarização entre apoiadores do presidente Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) irá se aprofundar e a prioridade é derrotar candidaturas alinhadas à oposição nas capitais e principais cidades do país, para disputar o espaço político.
O segundo objetivo é eleger o maior número possível de vereadores do PT e de partidos que podem se comprometer com a reeleição do presidente. A ideia é acolher pessoas que fizeram o enfrentamento em defesa do PT e do presidente Lula e transformá-las em lideranças locais. A premissa é que uma base reforçada de vereadores dará capilaridade para os candidatos a deputado federal em 2026.
Em 2022 Lula levou a eleição contra Bolsonaro, mas a base na Câmara dos partidos que compuseram sua coligação (PT, PSB, PCdoB, PV, Rede, Psol e Avante) diminuiu em relação a 2018. Se os pratos dessa bandeja forem reequilibrados, um eventual governo Lula 4 poderia ser menos dependente do Centrão.
O terceiro objetivo é trabalhar para que as alianças deste ano já signifiquem compromissos pré-assumidos para a disputa ao Senado em 2026. O Senado renovará 54 das suas 81 cadeiras dentro de dois anos, e a maior parte delas é de governistas. O entorno de Lula avalia que há um risco concreto de se perder a maioria no Senado para os aliados de Bolsonaro, o que abre novas perspectivas para a oposição pressionar o Judiciário e obter o controle do Congresso.
Um exemplo citado nesse sentido é o de Natal (RN). A capital do Rio Grande do Norte não tem uma disputa com impacto político nacional, mas as duas vagas que renovam no Senado são de Zenaide Maia (PSD-RN), que é governista, e de Styvenson Valentim (Podemos-RN), independente.
A eleição em Natal pode ser importante para fortalecer uma possível candidatura ao Senado da governadora Fátima Bezerra (PT). O atual prefeito, Álvaro Dias (Republicanos), não pode se reeleger e é alinhado a Bolsonaro e ligado ao líder nas pesquisas de intenção de voto, o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PSD). O PT tenta impulsionar a candidatura própria da deputada federal Natália Bonavides.
O caso de São Paulo pode ser citado como estratégico para os três objetivos. O empenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em trazer de volta para o PT a ex-prefeita Marta Suplicy e lançá-la como companheira de chapa do deputado federal Guilherme Boulos (Psol) pode reforçar a campanha petista para o Legislativo municipal, desencorajando eventuais defecções em favor do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que deve ter o apoio de Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Além disso, uma vitória de Boulos consolidaria uma hegemonia anti-Bolsonaro na capital paulista. O ex-presidente foi derrotado na cidade no primeiro e no segundo turno da eleição de 2022. Caso seja vencedor, Boulos será politicamente devedor de Lula, já que o deputado aposta tudo na polarização nacional.
Um resultado positivo a favor de Boulos está também dentro de um esforço do PT de melhorar a performance no Estado, nem que seja por meio de apoio a aliados. Em 2020, a sigla conseguiu eleger apenas quatro prefeitos em São Paulo. A meta para esse ano é modesta: algo entre 20 e 30. Em 2012, quando estava no seu auge, o partido fez 72 prefeitos paulistas.
A aposta na polarização também existe na oposição. Embora caminhe para não ter candidatura própria em São Paulo e Porto Alegre, o PL deve disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro, com o deputado Alexandre Ramagem, e a de Belo Horizonte, com o deputado estadual Bruno Engler.
No Rio, especialistas em pesquisas apontam como alta a chance de Ramagem ir ao segundo turno. Em Belo Horizonte, o quadro de candidatos ainda é incipiente, mas Engler lidera as simulações em que é incluído. Atualmente o PL conta com uma prefeitura de capital, Maceió, em que João Caldas disputará a reeleição.