A fatia do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, o fundo eleitoral, que o PT irá reservar segundo Victoria Azevedo, da Folha, para campanhas aos governos estaduais deste ano, será quase metade da que foi destinada a elas em 2018.
Naquele ano, o PT repassou cerca de R$ 32 milhões para as campanhas a governador, o que representou 15% do total do fundo eleitoral da legenda (R$ 212,2 milhões).
Em 2022, com aumento significativo dos recursos do fundo, o partido terá R$ 499,6 milhões para dividir em suas campanhas. Segundo determinação do diretório nacional do PT, a fatia reservada aos candidatos a governador será de R$ 41,7 milhões, ou seja, 8,34% do total.
Ainda não foram estabelecidos critérios para a divisão desses recursos —mas a questão já causa apreensão entre as pré-candidaturas.
Um membro do PT ouvido sob reserva afirma que essa redução cria um desafio maior para candidatos que buscam sua eleição em estados onde o PT não governa atualmente.
Além disso, diz que obriga que os candidatos busquem formas alternativas de financiamento, como a promoção de eventos, jantares e campanhas de arrecadação.
O PT já sinalizou que a prioridade número 1 da sigla neste ano é a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.
O comitê de campanha de Lula terá direito a 26,03% do fundo, o que representa pouco mais de R$ 130 milhões.
Além disso, a legenda também concentrará suas forças nas eleições para o Congresso Nacional, buscando a governabilidade em uma eventual gestão petista —deixando os governos estaduais em segundo plano.
Membros do partido ouvidos pela reportagem, no entanto, minimizam essa situação e dizem que sempre há reclamações na hora de dividir os recursos do fundo eleitoral.
Eles apontam fatores que justificariam essa redução, como o aumento da cota total do fundo e a diminuição das candidaturas estaduais petistas neste ano.
Dizem ainda que as campanhas estaduais serão muito casadas com a nacional, o que poderia levar a divisão dos custos em atividades conjuntas com Lula, por exemplo.
Até o momento, o PT tem 13 pré-candidaturas colocadas —número que deverá ser reduzido para cerca de nove segundo estimativas de lideranças petistas. Em 2018, foram 16 candidaturas.
Um outro fator é que candidatas aos governos estaduais não entram nessa fatia.
Por força de emenda à Constituição promulgada neste ano, mulheres devem receber 30% dos recursos públicos destinados à campanha eleitoral. No caso do PT, isso significa R$ 149,88 milhões divididos entre as candidatas aos diferentes cargos.
Até agora, o PT tem duas pré-candidatas ao Executivo estadual: a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, que busca a reeleição, e Giselle Marques, que deverá disputar o Governo de Mato Grosso do Sul.
Sob reserva, aliados do ex-prefeito Fernando Haddad, que é pré-candidato ao Governo de São Paulo, afirmam que aguardam a decisão de quanto será destinado à campanha no estado e que isso não é um problema no momento.
Ressaltam que há diálogo com o diretório nacional e que esperam que o petista receba recursos necessários para a campanha, considerando que São Paulo é o maior colégio eleitoral do país e que Haddad lidera as pesquisas de intenção de voto.
A realização de eventos com o intuito de arrecadação de recursos também é algo que já está no horizonte da campanha petista.
O próprio ex-presidente Lula tem afirmado a interlocutores que esses eventos são importantes para garantir a viabilidade das atividades da pré-campanha —uma vez que as despesas são pagas pelo partido até o início oficial da campanha eleitoral.
Em um jantar realizado com esse fim, Lula afirmou ainda que esse tipo de iniciativa pode também garantir recursos para a campanha presidencial, fazendo com que o montante separado inicialmente para ela possa ser distribuído para demais candidaturas petistas.
Procurada, a assessoria de imprensa do partido diz que o PT definiu como prioridades as eleições presidenciais e para o Congresso, que “se expressam na distribuição dos recursos do fundo”, e que ela foi aprovada pelo diretório nacional no último dia 30.
A secretária nacional de Finanças e Planejamento do PT, Gleide Andrade, não respondeu aos contatos da reportagem.