quinta-feira 6 de março de 2025
Foto: Divulgação/Arquivo/2018
Home / DESTAQUE / PSOL racha, e deputados se xingam nos bastidores: ‘mentiroso’ e ‘palhaço’
quarta-feira 5 de março de 2025 às 15:44h

PSOL racha, e deputados se xingam nos bastidores: ‘mentiroso’ e ‘palhaço’

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


O PSOL é um partido rachado. Segundo reportagem de Felipe Pereira, do portal Uol, a discussão sobre apoio incondicional ou não ao governo do presidente Lula da Silva (PT) abriu um balaio que armazenava anos de mágoas e ressentimentos.

O que aconteceu

Os deputados se referem aos colegas de bancada por xingamentos. Em entrevistas ao UOL, usaram termos como “mentiroso”, “imaturo” e “palhaço”.

Brigas não são novidade no PSOL —a convenção de 2009 terminou em cadeirada. A diferença é que agora envolve os parlamentares e está se tornando pública, em gestos políticos e em matérias na imprensa.

Quem xinga fala no anonimato —e esses são maioria. Aqueles que se identificam mantêm os bons modos, mas admitem que a bancada de deputados está expondo o partido de forma negativa.

A divergência ganhou força com a entrada de Guilherme Boulos no partido, em 2018. Hoje, o PSOL se divide em duas alas: o grupo mais poderoso possui oito deputados e tem Boulos à frente; o grupo minoritário reúne cinco parlamentares. Antes disso, a maioria parlamentar era de não alinhados a Lula.

A ala majoritária defende apoio ao governo Lula. Seus integrantes reconhecem contradições e defeitos, mas consideram o petista como única alternativa para combater a ascensão de Jair Bolsonaro (PL) e da extrema direita.

O grupo acusa a ala minoritária de ter “atitude de DCE [Diretório Central dos Estudantes]”: fica discutindo teses da esquerda com convertidos em vez de enfrentar o inimigo real.

A minoria acredita que a adesão do PSOL a Lula extrapolou o aceitável. O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) disse que a maioria normalizou a decisão de apoiar posturas liberais.

Em vez de ser decisão pontual, o PSOL se abstém de suas lutas porque está engolido pelo abraço da esquerda com a direita liberal.

Glauber Braga, deputado federal pelo RJ

Ala majoritária

  • Célia Xakriabá (MG);
  • Erika Hilton (SP);
  • Guilherme Boulos (SP);
  • Ivan Valente (SP);
  • Luciene Cavalcante (SP);
  • Pastor Henrique Vieira (RJ);
  • Talíria Petrone (RJ);
  • Tarcísio Motta (RJ).

Ala minoritária

  • Chico Alencar (RJ);
  • Fernanda Melchionna (RS);
  • Glauber Braga (RJ);
  • Luiza Erundina (SP);
  • Sâmia Bomfim (SP).

Boulos é alvo

A discussão sobre a relação com Lula descambou em críticas a Boulos. Nome mais expressivo do PSOL, ele é acusado de egoísmo pela ala minoritária. O deputado estaria pressionando o partido a abandonar seus princípios socialistas para crescer na política.

Boulos não se manifestou sobre o assunto. Aliados do deputado refutam as acusações. Acrescentam que a ala minoritária não aceita que sua posição política foi derrotada na convenção do partido.

O apoio a Lula levou a discussões acaloradas nas reuniões da bancada. O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), integrante da ala minoritária, foi descrito como pessoa que perde o controle, grita e dá socos na mesa.

Glauber e seus companheiros foram chamados de “crianças mimadas e birrentas”. A ala minoritária é acusada de procurar a imprensa para expor o partido em vez de aceitar que suas posições carecem de apoio na sigla.

Já Glauber e outros colegas criticam o sufocamento da ala minoritária do PSOL. Apontam que a liderança na Câmara é sempre da ala majoritária e reclamam da aproximação desse grupo com o PT, do afastamento de princípios socialistas, da falta de críticas ao governo Lula e da possibilidade de apoiar medidas de austeridade fiscal.

Defesa da austeridade

A crítica mais dura a Boulos é de que teria defendido voto no arcabouço fiscal de Fernando Haddad. A medida de austeridade vai na contramão do documento de fundação do PSOL.

A afirmação foi feita no anonimato e negada por outros deputados. Mas haveria um fundo de razão. Fernanda Melchionna, membro da ala minoritária, disse que uma pessoa da Executiva Nacional do partido mencionou a possibilidade.

Ela interpreta a sugestão como forma de medir a temperatura da bancada. A avaliação é que, havendo apoio, a proposta poderia ser levada adiante.

Outra reclamação recorrente é de somente a ala majoritária indicar líderes de bancada. Os três anos da atual legislatura têm liderança deste grupo. A perspectiva é de a situação se manter no ano que vem.

Clima esquentou após derrota nas eleições municipais. O PSOL perdeu as cinco prefeituras que tinha conquistado em 2020 —incluindo Belém. No Legislativo, o partido tem 13 deputados federais e nenhum senador.

Pressão por federação

Ala minoritária também reclama de movimentos para forçar uma federação com o PT. A interpretação é de que Boulos tem planos para sair candidato com o apoio de Lula. Seria uma repetição do que aconteceu na eleição para prefeito de São Paulo no ano passado.

A proposta de reformar o programa do partido faria parte deste projeto. A ala minoritária acredita que a ala majoritária quer um programa com viés de centro que torne o PSOL mais “palatável” para ser absorvido.

Descontente, Glauber Braga abriu um calendário para discutir desfiliação. A tendência é de nenhum outro parlamentar apoiar a proposta. Fernanda Melchionna garantiu que fica.

A ala majoritária nega que queira uma federação com o PT. Os argumentos misturam juras de compromisso com o PSOL e xingamentos a membros do grupo minoritário, chamados de espalhadores de fake news.

O grupo da maioria diz que o programa do PSOL está obsoleto. Ressalta que ele foi criado antes de existir Facebook, uberização da mão de obra e quando Bolsonaro era irrelevante.

Boulos não pareceu colocar sua pessoa à frente do partido e nem quer federação com PT. É uma ilação maldosa.

Ivan Valente, deputado por São Paulo

Presidente do PSOL silencia

Enquanto deputados se engalfinham, a presidente do PSOL se cala. Procurada, Paula Coradi preferiu não se manifestar. Sua assessoria justificou que é um assunto interno da bancada de deputados.

A líder do PSOL na Câmara lamenta a situação e declarou que trabalha para unir os parlamentares. Talíria Petrone argumentou que o partido é plural e as discussões são parte de seus processos.

Ela defende que os embates fazem parte do crescimento do partido. Para a deputada, a legenda está apta a oferecer um projeto de país com soluções para a economia, o mercado de trabalho, a educação etc.

Problemas do passado

A troca de ‘tiros’ de hoje é resultado de uma disputa que começou há bastante tempo. A ala minoritária definiu os rumos do partido até 2009 – o PSOL foi fundado em 2004.

Aliados do grupo majoritário lembram que houve cadeirada em seus integrantes em 2009. O motivo foi a vitória na convenção daquele ano e os novos rumos que o partido adotaria com a troca de mãos na direção nacional.

Ressentimentos de 16 anos estão vindo à tona agora. Hoje, tudo vira motivo para colegas de partidos convertidos em adversários se alfinetarem. Nem projetos caros ao trabalhador unem o PSOL.

Glauber Braga, Sâmia Bomfim e Fernanda Melchionna —todos da ala minoritária— faltaram à coletiva do projeto do fim da escala 6×1. Colegas de partido dizem que a ausência do trio foi coincidência. Outros enxergam outro motivo. O evento de semana passada deu visibilidade a Erika Hilton, expoente da ala majoritária.

Os deputados reconhecem que filiados ativos na militância já percebem a briga interna. A expectativa é que, mantida a prática de lavar roupa suja em público, em breve o eleitor que só dá like em posts de rede social saberá que os parlamentares do PSOL não se bicam.

Veja também

China diz estar pronta para ‘qualquer tipo de guerra’ com os EUA

A China alertou os Estados Unidos nesta quarta-feira (5) que está pronta para lutar em …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!