A pouco mais de quatro meses para as eleições para o comando da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), deputados estaduais eleitos pelo PSL já percorrem os corredores da Casa em busca de apoio a Janaina Paschoal, candidata à presidência do Legislativo paulista pelo partido de Jair Bolsonaro.
Uma das siglas de que os deputados eleitos pelo PSL têm se aproximado é o PSB do governador Márcio França, que elegeu oito deputados, mesmo número que o PSDB, para o mandato que começará em março de 2019.
A advogada, figura de proa do impeachment de Dilma Rousseff, conquistou a vaga de deputada estadual como a parlamentar mais votada na história do país. Seus mais de 2 milhões de votos impulsionaram a bancada do PSL na Assembleia de nenhuma para 15 cadeiras.
Além de usar o recorde eleitoral como argumento, o PSL quer cacifar Janaina fazendo valer um acordo informal entre os parlamentares: o partido com a maior bancada eleita – tradicionalmente, o PSDB – tem a prerrogativa de eleger o presidente da Casa.
“Até em razão de minhas atividades junto a USP, eu ainda não consegui iniciar uma campanha. Além dos 15 deputados do PSL, não tenho garantia de voto da parte de ninguém. As poucas conversas que tive foram mais de apresentação, não houve uma manifestação formal de apoio por parte de ninguém. Creio que nem seja o momento ainda”, afirma Janaina.
Lideranças da Alesp ouvidas pela Folha dizem que é difícil imaginar que parlamentares de primeira viagem, como Janaina, cheguem à presidência.
“Que tipo de resistência vão alegar? ‘Ela não conhece o regimento’ ou ‘Ah, mas é primeiro mandato’. Ninguém vai agradar a todos, tem que ser feita uma composição”, afirma Rodrigo Gambale (PSL), um dos deputados eleitos engajado nas articulações.
Ele diz apostar que o enfraquecimento do PSDB, que caiu de 19 deputados para 8 nas eleições de outubro, possa desequilibrar a balança a favor de Janaina.
“A maior bancada indica o presidente e aí acaba levando os votos [dos outros partidos]. Geralmente, quando tem indicação é porque a maior bancada se elegeu com o governador, agora não. Nem lançamos candidato ao governo e fizemos a maior bancada”, afirma Gambale.
O atual presidente da Alesp, Cauê Macris (PSDB), deve disputar a reeleição com o apoio já declarado do governador eleito, João Doria. A base eleita do tucano soma, a princípio, 27 parlamentares.
Macris foi eleito com 88 votos, incluindo os da maioria da bancada do PT, que pode manter a tradição de compor com os tucanos. Além disso, a caneta do Bandeirantes costuma ser determinante na eleição do presidente do Legislativo, com a barganha de cargos em diretorias, autarquias e assessorias no governo.
“Algumas pessoas fizeram referência a um rolo compressor. Disseram que, na véspera da eleição, o poder Executivo oferece muitas vantagens para os deputados votarem em seu candidato. Eu não tenho nada a oferecer além do meu trabalho. O colegas decidirão conforme seus próprios princípios e prioridades. Eu estou me voluntariando”, diz Janaina.
É aí que a aproximação com o PSB pode contar a favor da advogada, ao menos para levar a disputa à Presidência a um segundo turno. Gambale, por exemplo, é do grupo de parlamentares do PSL que declarou apoio a Márcio França no segundo turno, seguindo a posição do presidente estadual do partido, o senador eleito Major Olímpio.
Os pessebistas lideram hoje um grupo apelidado de bloco, formado por cerca de 20 deputados que atuaram juntos nos últimos quatro anos.
Não se sabe, porém, se esses parlamentares continuarão coesos a partir de 2019, com França, eleito vice de Alckmin em 2014, distante do Palácio dos Bandeirantes. A expectativa do PSL – que também tem conversado com o PR e com o Podemos – é que esse grupo permaneça unido.
No PSB, por ora, não há definição sobre o apoio ao PSL. Uma composição pró-Janaina pode eventualmente passar pela negociação de um lugar na Mesa Diretora, pleiteado há meses pelos pessebistas.
Por ora, parlamentares do PSB têm auxiliado o PSL reservando salas para reuniões da bancada eleita na Alesp ou em conversas individuais.
Janaina relatou em uma sequência de tuítes ter participado de uma “longa reunião” com os deputados Carlos Cezar (PSB), líder do governo França, e Barros Munhoz (PSB), ex-tucano e outro nome ventilado para a disputa à presidência, chamado por ela de “livro de história da Assembleia”.
Munhoz diz que todas as conversas são preliminares, mas não descarta nem uma candidatura própria nem uma aliança entre PSB e PSL pelo comando da Assembleia. Para que “a Casa possa ter protagonismo e independência no próximo governo”, ele diz.
Caio França, atual líder do PSB, também defende que a Assembleia tenha mais autonomia no próximo mandato. A sigla declara independência em relação ao governo Doria.
“A importância [da candidatura] não é para o partido [PSL], mas para o estado de São Paulo. Ter uma pessoa independente, que não fará nenhum tipo de acerto, que não fará exigências além da clara discussão de ideias, penso ser bom para todos nós”, diz Janaina.
“Só o que posso garantir é que não desistirei, ainda que, na véspera, me digam que terei apenas meu voto”, ela afirma.