Em meio à crise que afugenta lideranças, o PSDB deve chegar às eleições municipais com escassez de candidaturas próprias nas capitais e foco no apoio a aliados. Até o momento, a federação de que faz parte, com o Cidadania, está em conversas para ter a cabeça de chapa em oito das 26 capitais do país, enquanto será coadjuvante nas demais.
O partido, que já comandou 991 prefeituras no seu auge, em 2000, e hoje tem 345, vive em São Paulo o que alguns dirigentes julgam como o “retrato” do momento. A indefinição sobre o pleito ampliou o racha na sigla, com a renúncia do presidente municipal, Orlando Faria, e a desfiliação do vice-presidente da Câmara Municipal, João Jorge. Com informações de Bianca Gomes, Guilherme Caetano, Hyndara Freitas e Luísa Marzullo , do jornal O Globo.
O PSDB venceu a eleição de 2020 na capital paulista, mas a morte de Bruno Covas no ano seguinte levou ao poder o MDB do então vice Ricardo Nunes. Agora, o partido vive impasse entre apoiar o prefeito, lançar candidato próprio ou apoiar a deputada federal Tabata Amaral (PSB). Cogita-se até a volta de Andrea Matarazzo, mas a ideia é reprovada por alas da sigla. Em 2020, pelo PSD, ele amargou o oitavo lugar, com 1,55% dos votos.
Dos quatro prefeitos tucanos eleitos em capitais em 2020, dois mudaram de legenda: Hildon Chaves, de Porto Velho, migrou para o União, enquanto Álvaro Costa Dias, de Natal, foi para o Republicanos. Hoje, só Palmas permanece nas mãos do partido, com Cinthia Ribeiro, que se reelegeu em 2020, com 36,24% dos votos. Segundo apurou O GLOBO, porém, não há um nome competitivo para sucedê-la.
As críticas por uma suposta desorganização na articulação de candidaturas e montagem de chapas embalam os insatisfeitos que deixam o PSDB. Na semana passada, o vereador paulistano João Jorge justificou sua desfiliação ao dizer que não existem lideranças coordenando as candidaturas. A estratégia nacional tucana difere de partidos como o PT, por exemplo, que reativou um grupo de trabalho para centralizar a articulação de estratégias.
— Nós estamos entregando a responsabilidade aos cuidados dos presidentes estaduais e dos líderes. E vamos supervisionar e procurar colaborar com todos — diz o presidente nacional, Marconi Perillo.
Perillo deve viajar a estados-chave para o PSDB neste começo de ano para estimular o lançamento de candidaturas em cidades grandes. A cúpula prevê dar mais atenção a São Paulo e Minas Gerais, além dos que já governa: Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso do Sul.
Capitais estratégicas
O PSDB estuda lançar candidatura em Campo Grande, Vitória, Recife, Aracaju, Manaus, Teresina, Curitiba e Porto Alegre. Em Fortaleza, os tucanos têm Élcio Batista na vice do prefeito José Sarto e defenderão a continuidade.
Na capital sul-mato-grossense, o deputado federal Beto Pereira contará com a força da máquina do governador Eduardo Riedel (PSDB) para enfrentar a prefeita Adriane Lopes (PP). Em Pernambuco, os tucanos terão obstáculo dobrado. Além de o partido estar dividido — o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto, e a governadora Raquel Lyra, ambos do PSDB, estão rompidos —, o pré-candidato Daniel Coelho, secretário municipal, enfrenta o prefeito João Campos (PSB), em alta popularidade.
O ex-governador Beto Richa pode ser o nome para tentar tirar o PSD da prefeitura de Curitiba. Em Manaus, Amom Mandel (Cidadania) é cobiçado para entrar no páreo, mas não bateu martelo.
Em Belo Horizonte, os tucanos ainda estudam se vão lançar candidato próprio ou apoiar o atual prefeito, Fuad Noman (PSD), à reeleição. Noman foi filiado por muitos anos ao PSDB e foi secretário dos ex-governadores Aécio Neves e Antonio Anastasia.
— Como o Fuad já pertenceu ao PSDB, eu disse que era uma possibilidade ir para o PSDB. Mas não existe absolutamente nada de concreto, a não ser uma ótima relação — afirmou Paulo Abi-Ackel, presidente do diretório mineiro, que cita os ex-deputados estaduais João Leite (PSDB) e João Vitor Xavier (Cidadania).
No Rio, onde o PSDB é base do governo Cláudio Castro (PL), a tendência é embarcar na pré-candidatura de Alexandre Ramagem (PL). Recentemente, porém, líderes tucanos passaram a considerar a possibilidade de atrair o deputado federal Marcelo Queiroz, hoje pré-candidato pelo PP, com perfil diferente do bolsonarismo. O deputado já avisou ao Progressistas que está decidido a disputar a eleição, mas, articuladores apontam que a tendência é que a sua pré-candidatura pelo partido seja implodida, já que a legenda é cotada para compor a chapa de Ramagem.