O presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou conforme a Folha, que o partido deu início a negociações com o MDB para a formação de uma federação partidária na eleição de 2022.
Segundo Araújo divulgou em suas redes sociais nesta última quarta-feira (2), as siglas agora consultam seus dirigentes e parlamentares internamente para sondar a possibilidade da união.
As federações partidárias, mecanismo aprovado pelo Congresso para as eleições de 2022, são similares às coligações, em que os partidos somam tempo de TV e se unem para o cálculo do quociente eleitoral —mas há a obrigação de que a aliança dure quatro anos.
Por isso, o acerto exige que os partidos entrem em acordo para lançar candidaturas únicas nacionalmente (para Congresso e Presidência) e nos estados (governo estadual, prefeitura, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais).
A negociação para a fusão dos partidos foi divulgada por Natura Nery, na GloboNews, e confirmada pela Folha. Caso a federação entre PSDB e MDB se concretize, um dos presidenciáveis das siglas, o governador João Doria (PSDB) ou a senadora Simone Tebet (MDB), teria que abrir mão de sua candidatura.
A validade das federações partidárias ainda aguarda um julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) previsto para ocorrer nesta semana.
A união de PSDB e MDB criaria um superpartido no Congresso Nacional. No Senado, as legendas ocupam 22 das 81 cadeiras, sendo que o MDB tem atualmente a maior bancada da Casa, com 16 senadores.
Na Câmara dos Deputados, os dois partidos somam 66 das 513 vagas. A maior bancada é a do PSL, com 55 deputados.
Uma união desse porte seria semelhante à fusão do PSL e DEM, que originou a União Brasil —com 81 cadeiras na Câmara e 7 no Senado.
“Iniciamos conversas com o MDB sobre a possibilidade de formamos em federação uma poderosa força política entre partidos que têm relevante história na vida pública do país. Nesse momento, vou me dedicar a ouvir internamente o conjunto de nossas lideranças”, afirmou Araújo.
“Há um caminho a ser percorrido, mas o momento que passa o país exige de nós essa tentativa”, completou.
PSDB e MDB têm mantido diálogo e proximidade no processo de costuras eleitorais para 2022 —os dois partidos integram a chamada terceira via, que tenta abrir um espaço entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que estão à frente nas pesquisas.
A federação, no entanto, obrigaria a união das candidaturas de Doria e Tebet. A aproximação entre os presidenciáveis já está em curso, mas sob diferentes pontos de vista.
Para a equipe de campanha de Doria, que vê o governador como o nome da terceira via com mais chances de decolar até o meio do ano, a senadora seria um bom nome para compor sua chapa como candidata a vice-presidente. Os dois tiveram um encontro em dezembro e têm boa relação. O tucano já indicou querer uma mulher na sua chapa.
Entre aliados de Tebet, contudo, a expectativa é a oposta —de que ela dispare nas pesquisas, por ser menos rejeitada que Doria, e assim atraia o tucano para sua vice. Como mostrou a Folha, Tebet já obteve o apoio de senadores do PSDB críticos a Doria, como Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal (SP).
Questionado pela reportagem sobre a união das candidaturas, Araújo respondeu que o primeiro passo é juntar as duas siglas e, depois, haveria uma construção coletiva para definir a chapa.
A concretização da federação, no entanto, enfrenta uma série de obstáculos, a começar pela ala do MDB que trabalha pela eleição de Lula. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) defendeu que o MDB apoie o ex-presidente já no primeiro turno.
Por outro lado, dirigentes dos partidos apontam que a aliança entre MDB e PSDB já está em vigor em uma série de estados, incluindo São Paulo, onde os emedebistas devem apoiar a candidatura ao governo de Rodrigo Garcia (PSDB) e compõem a base da gestão Doria.
O MDB negocia compor a chapa de Garcia com uma indicação de vice ou de candidato ao Senado.
Na semana passada, a executiva nacional do PSDB aprovou que o partido avance nas conversas para uma federação com o Cidadania, processo que também está em curso paralelamente.
Na ocasião Araújo afirmou haver “convergência política tanto em eleições quanto na atuação no Legislativo” entre o PSDB e o Cidadania.
“Além das aproximações já adiantadas pelas lideranças tucanas nos estados, as conversas continuarão sendo conduzidas pelo pelo presidente Bruno Araújo, o secretário-geral Beto Pereira e os líderes na Câmara, Adolfo Viana, e no Senado, Izalci Lucas, com o objetivo de mapear e aparar eventuais arestas regionais”, divulgou o PSDB em nota.
O avanço das federações, porém, depende do resultado do julgamento do STF. Na ação, o PTB afirma que a federação não está prevista na Constituição e é similar às coligações, que foram proibidas em eleições proporcionais.
O partido diz, ainda, que essa nova forma de união partidária não devia ter tramitado no Congresso por meio de um projeto de lei, mas por uma PEC (proposta de emenda à Constituição), que é mais difícil de aprovar.
Em dezembro passado, o ministro Luís Roberto Barroso, relator do processo, validou a lei que criou as federações, mas fixou o prazo de seis meses antes da eleição como data-limite para que as siglas oficializem a união.
Essa decisão de Barroso é que será levada a plenário, para análise dos outros ministros. A ação deve entrar na pauta do Supremo até a próxima semana. Os partidos têm pedido um prazo maior para formalizar as federações neste ano.