Após ter perdido apoio entre eleitores tucanos na última eleição presidencial, o PSDB oficializou no último sábado (7) uma nova estratégia de imagem na tentativa de recuperar espaço entre o eleitorado de direita, sobretudo entre os arrependidos com o presidente Jair Bolsonaro.
No congresso nacional do partido, promovido na capital federal, a legenda encampou bandeiras liberais na economia e conservadoras na segurança conforme reportagem do jornal Folha de SP.
A publicação diz, que para se diferenciar do atual governo federal, refutou a defesa de uma pauta de costumes e criticou atitudes autoritárias.
O novo discurso foi baseado em consulta prévia promovida pelo partido entre seus filiados, que cobraram uma espécie de guinada responsável de direita. As pesquisas realizadas pela sigla mostraram ainda insatisfação entre eleitores do presidente com medidas polêmicas do atual governo.
“A época do muro acabou. Enquanto ele existiu, talvez tenha sido próprio e adequado. Hoje, o que os brasileiros esperam do novo PSDB é atitude, lado. O novo PSDB tem lado. Está ao lado do povo e não tem medo de fazer a defesa de programas e teses que representem o interesse o povo. Nada de ficar na dúvida, nada de ficar em cima do muro, nada de tentar a agradar a todos e a não agradar a ninguém”, defendeu o governador de São Paulo, João Doria.
Em um contraponto ao discurso bolsonarista, por exemplo, a legenda pregou uma maior regulação e controle sobre porte e posse de armas de fogo, uma política externa focada no multilateralismo, a manutenção da atual política de cotas no ensino superior e a não interferência sobre comportamentos individuais.
Ao mesmo tempo, em um aceno a eleitores do presidente, defendeu as atuais reformas econômicas, uma política de privatizações no país, o aumento da punição para adolescentes acima de 16 anos que cometem crimes graves e a possibilidade de cobrança de mensalidades de alunos de renda alta em universidades públicas.
“É o posicionamento do novo PSDB. Um partido de centro liberal democrático que respeita as teses da esquerda e da direita, mas entende que o campo liberal é um campo que pode mudar o Brasil sobretudo na diminuição da pobreza”, defendeu o governador de São Paulo, João Doria. “O PSDB é um partido que defende a diversidade, não tenham dúvidas disso”, acrescentou.
No encontro, a legenda divulgou um documento intitulado “Acima de tudo, a democracia”, no qual fez críticas indiretas ao governo federal e ressaltou que não admitirá tentativa de retorno “aos tempos sombrios do autoritarismo”. O presidente tem sido criticado no Legislativo e no Judiciário por posturas consideradas autoritárias.
“Nós repudiamos o sectarismo, o obscurantismo e a incitação à violência. Consideramos que o governo -qualquer governo- não deve interferir em costumes e valores comportamentais de cada indivíduo. A cada cidadão cabe exercer a sua plena liberdade de ser”, ressaltou.
O texto salientou ainda que os extremos políticos têm feito iniciativas que “afrontam a civilidade”, “alimentam a intolerância e a truculência” e “lançam ameaças contra a nossa democracia”.
“Sempre que isso ocorreu e ocorre, vindo de quem quer que seja, o PSDB esteve e estará na oposição”, defendeu. “E sempre que a democracia, as instituições, a liberdade e os direitos individuais forem ameaçados, o PSDB estará firme em sua defesa”, acrescentou.
Além de oficializar uma tentativa de mudança de discurso, o congresso do partido evidenciou uma disputa interna na legenda que deve se estender até 2022. Pré-candidatos à sucessão presidencial, os governadores João Doria e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, foram os protagonistas do encontro. Os dois fizeram críticas ao clima atual do país e defenderam mudanças.
“Eu não defendo que se ignore uma minoria barulhenta, mas a gente não pode esquecer o silêncio da maioria”, disse Leite. “Tenham coragem de ser a moderação nesse tempo de radicalismo, porque moderação e ponderação não rende likes ou compartilhamentos, mas é o único caminho possível para fazermos desta nação um grande país”, acrescentou.
No evento, tanto Doria como Leite defenderam a realização de um disputa por prévias caso o partido chegue à véspera da disputa presidencial com mais de um pré-candidato tucano.
“O PSDB terá candidatura à Presidência da República. E, se tivermos mais de uma candidatura, essa é a regra do partido [disputa por prévias] “, disse à reportagem o presidente nacional da legenda, Bruno Araújo.