Já foi deflagrada a montagem de palanques competitivos nos Estados vinculados a uma possível candidatura presidencial de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, que trocou na última semana o DEM pelo PSD.
Segundo o jornal Valor, a pré-candidatura será dada prioridade aos maiores colégios eleitorais, como Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. O projeto paulista, entretanto, aguarda a resposta do convite feito ao ex-governador Geraldo Alckmin para ingressar no PSD — ele ameaça deixar o PSDB após as prévias do partido marcadas para o fim do mês. Mas o partido abriga puxadores de votos em quase todos os Estados.
“Não se faz política sem porto”, ressalta o deputado André de Paula, segundo vice-presidente da Câmara, ao relembrar um dos ensinamentos do ex-vice-presidente Marco Maciel, morto em junho. O parlamentar, que é presidente do diretório do PSD de Pernambuco e uma das principais lideranças da sigla no Nordeste, reconhece que Pacheco enfrentará o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na região.
No entanto, André de Paula explica que, em cada “porto” onde Pacheco desembarcar, contará com uma liderança expressiva do PSD para recepcioná-lo no aeroporto, levá-lo para uma rádio local para dar entrevista, conduzi-lo a um auditório onde ele poderá discursar para 2 mil ou 3 mil pessoas e depois acompanhá-lo em um almoço na casa de uma autoridade, com prefeitos e demais aliados regionais.
“No Nordeste, pode ser que Rodrigo [Pacheco] não tenha hegemonia, mas ele com certeza terá porto”, traduz. André de Paula será o “porto” de Pacheco em Pernambuco, onde o PSD integra a frente ampla de apoio ao governador Paulo Câmara e ao prefeito de Recife, João Campos, ambos do PSB. Ele é cotado para concorrer ao Senado na chapa que deverá ser encabeçada pelo ex-prefeito de Recife Geraldo Júlio (PSB).
O PSB vai marchar com Lula em Pernambuco, mas o vice-presidente da Câmara organizará uma agenda para Pacheco no Estado. O mesmo desenho se repetirá na Bahia, quarto maior colégio eleitoral, onde Lula é quase imbatível. Mas o PSD tem pelo menos dois puxadores de votos no Estado: o senador Otto Alencar, que pleiteará a reeleição, na chapa encabeçada pelo senador Jaques Wagner (PT), que tentará voltar ao governo. E o senador Ângelo Coronel, que coordenará a campanha do mineiro no Estado.
Conscientes de que nenhum partido é hegemônico no mapa eleitoral do país, lideranças do PSD defendem a viabilidade do projeto presidencial de Pacheco a partir da capilaridade da legenda. Se o PT é favorito absoluto na Bahia, aliados do mineiro lembram que o PSD elegeu o maior número de prefeitos no Estado em 2020: 108, ou um quarto dos 417 mandatários municipais, enquanto o PT só elegeu 32 — embora os petistas governem o Estado há 15 anos.
A cúpula do PSD tem rechaçado com veemência os rumores de que Pacheco teria sido lançado para se viabilizar, adiante, como vice de Lula. A ironia é que há poucos meses, o mineiro era sondado por alguns ministros justamente para a vaga de vice do presidente Jair Bolsonaro na campanha pela reeleição.
Na quarta-feira, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, voltou a negar a possibilidade de que Pacheco venha a ser vice do petista e atribuiu o burburinho à vontade política dos outros partidos.
Nos bastidores, o cálculo político de lideranças do PSD é que, mesmo a derrota do mineiro na disputa presidencial representaria uma vitória eleitoral para a legenda. Um cacique da sigla disse ao Valor que, se Pacheco não passar à segunda rodada, mas chegar ao fim do primeiro turno com cerca de 10% a 15% dos votos, alcançaria um desempenho positivo na acirrada polarização. Atuaria como puxador de votos no novo cenário de fim das coligações proporcionais, em que os partidos redobrarão esforços para eleger bancadas expressivas para a Câmara e assembleias legislativas.
Na hipótese de derrota no primeiro turno, entretanto, o desafio do mineiro será manter uma retórica equilibrada na campanha, evitando se indispor com antagonistas. Isso porque Pacheco é o protagonista do duplo projeto de poder de Kassab. Se não surpreender como candidato de fôlego da terceira via na corrida presidencial, o mineiro tentará a recondução à presidência do Senado em 2023. Kassab atua nos bastidores para eleger a maior bancada de senadores para a próxima legislatura, empenhado em romper a hegemonia histórica do MDB na Casa.
Ainda no ano passado, Kassab colocou em campo o projeto de filiar ao partido campeões de voto nos maiores colégios eleitorais. Em São Paulo, que concentra 22% do eleitorado nacional, ainda aguarda a resposta de Alckmin e também busca um nome de peso no Rio Grande do Sul, que detém o quinto maior eleitorado do país e onde Bolsonaro é hegemônico.
O PSD equilibra as forças em Minas Gerais, onde o governador Romeu Zema, do Novo, tem, no momento, céu de brigadeiro para a reeleição. Contudo, o PSD tem a liderança de Rodrigo Pacheco e dos outros dois senadores da sigla: o ex-governador Antonio Anastasia e o radialista Carlos Viana. Além disso, conta com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, potencial adversário de Zema na disputa pelo Palácio da Liberdade.
Pacheco pode medir forças com Zema na interface com os prefeitos: até a semana passada, comandava, na prática, dois partidos políticos em Minas. Pacheco era presidente do diretório do DEM, enquanto seu principal aliado, o consultor jurídico do Senado e suplente de senador, Alexandre Silveira, responde pelo diretório mineiro do PSD. Em 2020, o DEM, controlado por Pacheco, elegeu 84 prefeitos e o PSD, 78. Pacheco também tem entrada no MDB, onde foi filiado até 2018, após romper com o grupo de Michel Temer: os emedebistas controlam 99 prefeituras.
No Rio de Janeiro, que reúne 12% do eleitorado nacional, o PSD conta com a liderança do prefeito da capital, Eduardo Paes. Há dez dias, o partido lançou a pré-candidatura do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, ao governo estadual. Mas o projeto ainda é embrionário: Santa Cruz já anunciou que só vai se filiar à legenda no começo do ano que vem, quando concluir o mandato à frente da instituição.
Ainda na região Sudeste, lideranças do partido apostam na filiação, no ano que vem, do ex-governador Paulo Hartung, um dos caciques do Espírito Santo. A se confirmar o projeto, Hartung tentaria uma vaga ao Senado, no âmbito dos planos de Kassab de eleger a maior bancada da próxima legislatura.
No Nordeste, o PSD conta também com o governador de Sergipe, Belivaldo Chagas, que foi reeleito em 2018 e agora tentará fazer o sucessor. O pré-candidato é o deputado federal Fábio Mitidieri, que comanda a sigla no Estado. Em Alagoas, o PSD vai lançar o nome do ex-prefeito de Maceió Rui Palmeira ao governo.
O partido tem lideranças expressivas também na Paraíba: o prefeito de Campina Grande — capital “econômica” do Estado —, Bruno Cunha Lima, e o ex-prefeito da cidade Romero Rodrigues. O PSD tenta atrair para a legenda a senadora Daniella Ribeiro e seu irmão, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, que estão insatisfeitos no PP. Se o movimento se concretizar, Aguinaldo concorreria ao Senado pelo PSD. A articulação foi revelada no evento do PSD na última semana pelo líder da bancada no Senado, Nelsinho Trad (MS).
No Sul, o partido tem pelo menos duas lideranças de peso eleitoral. No Paraná, Pacheco terá o palanque do governador Ratinho Júnior, que tem alta aprovação popular. Em Santa Catarina, o ex-governador Raimundo Colombo concorrerá a um novo mandato.
No Centro-Oeste, o PSD também tem um candidato competitivo ao governo do Mato Grosso do Sul, o bem avaliado prefeito de Campo-Grande, Marquinhos Trad. Em Goiás, o principal nome é o recém filiado secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo, Henrique Meirelles. Ele busca a vaga de candidato ao Senado na chapa que será encabeçada pelo governador Ronaldo Caiado (DEM), que mira a reeleição.
No Amazonas, o “porto” de Pacheco é o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz, que se projetou nacionalmente à frente da investigação. Ele tentará a reeleição para o Senado. Em Tocantins, o pré-candidato do PSD ao governo é o senador Irajá Abreu.