Enquanto o governo articula para contemplar o Centrão em uma reforma ministerial, lideranças do PSB e do PDT – duas siglas historicamente mais próximas ao PT – cobram conforme reportagem de Isadora Peron e Marcelo Ribeiro, do jornal Valor, do Palácio do Planalto espaços mais relevantes no primeiro escalão do Executivo. Nos bastidores, parlamentares influentes dos dois partidos demonstram ainda de acordo com publicação, ressentimento por avaliarem que o presidente Lula da Silva (PT) não está valorizando o fato de suas bancadas federais entregarem praticamente a totalidade de seus votos a favor do governo, o que não ocorre entre nomes do Centrão.
“Temos uma identificação de pauta com o governo Lula, somos historicamente ligados ao PT. O Centrão tem uma relação de conveniência com o governo. É preciso que eles nos valorizem, porque certamente o nosso apoio a uma eventual reeleição de Lula está mais garantido aqui do que lá no Centrão”, avaliou um parlamentar do PDT.
No mesmo sentido, um pessebista cita recentes críticas públicas de dirigentes de legendas de centro ao governo e sinalizações de que podem não caminhar com Lula na corrida presidencial de 2026.
A insatisfação dos dois grupos deve atrasar a reforma, avaliam aliados de Lula. Segundo interlocutores do presidente, o tempo extra será necessário para que a equação final não deixe ninguém “com a sensação de ter sido escanteado ou até mesmo esquecido”.
No PSB, a irritação está ainda ligada ao risco de que a legenda perca mais espaço na Esplanada, diante dos rumores de que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) possa ser retirado do comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para abrigar uma sigla do centro.
Essa representaria a segunda baixa em pouco mais de dois anos. O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que era filiado ao PSB, chefiou o Ministério da Justiça e Segurança Pública antes de assumir a vaga na Corte.
A eventual saída de Alckmin deixaria o PSB com apenas uma pasta: a de Empreendedorismo, hoje comandada por Márcio França. O órgão, avaliam deputados, tem orçamento “inexpressivo”.
Antes de assumir o ministério, França foi titular da pasta de Portos e Aeroportos, mas foi substituído por Silvio Costa Filho (Republicanos), que chegou ao posto em um movimento de Lula para contemplar a legenda de Marcos Pereira.
Uma fonte da cúpula do PSB afirma que o esvaziamento pode significar uma mudança de posicionamento do partido em relação à agenda do governo. “É o risco de o PSB ficar independente.”
A eventual ruptura, porém, é considerada remota pela ala majoritária do PSB, que defende uma postura crítica, mas descarta um desembarque da base.
A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) é lembrada por correligionários como uma potencial escolha de Lula para compor a Esplanada dos Ministérios. O alvo preferencial seria o Ministério de Ciência e Tecnologia, atualmente sob comando de Luciana Santos (PCdoB), que migraria para a pasta da Mulheres no lugar de Cida Gonçalves (PT).
Nos bastidores, ministros reconhecem que a entrada de Tabata em Ciência e Tecnologia traria novas dificuldades para Lula resolver a equação da reforma, já que a pasta está na mira do União Brasil, que pode perder Turismo para o PSD.
No PDT, a insatisfação sobre a sub-representação na Esplanada será transmitida ao governo pelo líder do partido na Câmara, Mário Heringer (MG). Ele deve pedir pelo menos mais uma cadeira no primeiro escalão.
O Valor apurou que prevalece o sentimento de desprestígio e a avaliação de que a legenda foi convidada para compor a base apenas “para fazer número”. O único ministro da sigla é Carlos Lupi (PDT), à frente da Previdência Social.
Apesar do bom orçamento, o ministério faz poucas entregas na ponta, segundo pedetistas, fazendo com que o cargo não resulte em votos em eleições futuras.
Uma liderança do PDT afirmou que Heringer deve demonstrar que o partido tem caminhado junto com o governo, alertar sobre a insatisfação e sugerir que a legenda seja mais bem contemplada em reconhecimento à lealdade desde o início da gestão.