Às vésperas da convenção que escolherá o sucessor de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, na presidência do partido, o PSDB abriu uma disputa interna segundo reportagem de Bernardo Mello , do O Globo, que opõe aliados do político gaúcho e do deputado federal Aécio Neves (MG). O ex-senador José Aníbal, um dos tucanos históricos de São Paulo e apoiador de Leite, lançou ontem sua candidatura ao posto e enfrentará o ex-governador de Goiás Marconi Perillo, até então ungido numa articulação de Aécio como candidato de consenso no partido. A votação começa nesta quarta-feira, de forma remota, e termina na quinta-feira, presencialmente.
A candidatura de Aníbal coloca em xeque a adesão de Leite ao movimento capitaneado por Aécio. O governador, na avaliação de aliados, “ficou retraído” depois que seu plano de emplacar o ex-senador Tasso Jereissati (CE) como sucessor não engrenou, e seguiu então a costura do colega mineiro. Embora o Eduardo Leite não tenha se posicionado publicamente sobre a disputa tucana, Aníbal diz que ambos conversaram “longamente” ontem, sem que houvesse veto à quebra do consenso em torno de Perillo.
— Eduardo não tem nenhuma restrição à minha candidatura, muito pelo contrário. Precisamos zelar muito pela sua candidatura à Presidência da República em 2026. Quando soube das composições para uma chapa com Marconi, que tem algumas opiniões diferentes das minhas, resolvi me colocar — afirmou.
Aníbal foi um dos principais apoiadores de Leite nas prévias do PSDB em 2021, contra o então governador de São Paulo João Doria, seu desafeto. Neste ano, em mais uma ação alinhada ao gaúcho, o ex-senador paulista integrou um movimento de lideranças tucanas para trocar o comando do diretório estadual do PSDB em São Paulo, dirigido por rivais de Leite.
Interlocutores de Leite avaliam que o gaúcho deve se dispor a articular um novo acordo, após a entrada de Aníbal no jogo. Aliados de Aécio, por sua vez, minimizam a divergência interna antes da convenção nacional e a hipótese de um rearranjo entre o mineiro e Leite. Segundo o deputado federal Paulo Abi-Ackel, presidente do diretório tucano em Minas, “tudo que tem sido feito foi junto” com o governador gaúcho.
— O nome do Marconi surgiu naturalmente a partir de uma desistência do próprio Aécio, que tinha o apoio de muitos para presidir o PSDB. Imaginava-se um consenso, mas isso, na verdade, seria contra a cultura do PSDB. Partido que não tem disputa é porque tem dono — avaliou o deputado.
Gangorra tucana
Leite decidiu deixar o comando do partido neste mês sob o pretexto de priorizar a própria gestão no Rio Grande do Sul e as articulações rumo à corrida pelo Palácio do Planalto em 2026. Internamente, o movimento foi acompanhado pelo fortalecimento de Aécio, reabilitado politicamente após conseguir o arquivamento de processos que respondia na Lava-Jato.
Para interlocutores, Aécio se movimenta de olho em retornar ao governo de Minas Gerais, estado que já dirigiu entre 2003 e 2010. Em paralelo, o hoje deputado federal tem cobrado um posicionamento mais enfático da sigla contra o governo Lula (PT).
Leite, por sua vez, é descrito por tucanos como alguém mais “agregador”, que se posiciona sem necessariamente entrar em conflito com oponentes. Apesar de o PT gaúcho fazer oposição a seu governo, Leite já teve momentos amistosos com Lula neste ano e recebeu apoio de petistas para se reeleger no segundo turno em 2022.
Nas prévias presidenciais do PSDB em 2021, o governador gaúcho teve apoio de Aécio para se contrapor a Doria, que acabou vencendo o processo interno, mas desistiu posteriormente de concorrer ao Planalto.
Hoje, aliados de Aécio contabilizam apoios de diretórios de estados com maior peso interno, como Minas, Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul, à candidatura de Perillo para presidir o partido. Assim como Aécio, o ex-governador de Goiás foi fustigado pela Lava-Jato, e busca retomar influência após decisões judiciais favoráveis. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou atos processuais decorrentes de uma operação contra Perillo em 2018, que chegou a prendê-lo preventivamente.
Já em São Paulo, historicamente o estado mais influente no PSDB, há uma divisão entre os chamados “tucanos históricos”, ala que congrega nomes como o próprio Aníbal e o ex-senador José Serra, e antigos aliados de Doria, como o ex-governador Rodrigo Garcia, que se filiou ao partido no ano passado.
Para um interlocutor de Aécio, a candidatura de Aníbal mira a construção de cacife para destronar o grupo de Garcia do comando tucano em São Paulo. Por decisão de Leite, a convenção do partido no estado, que seria realizada no fim de outubro, foi adiada para abril de 2024, e será conduzida por uma comissão provisória nomeada pelo diretório nacional.
Procurados, Leite e Aécio não se manifestaram.