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quinta-feira 18 de janeiro de 2024 às 17:44h

Proximidade entre Lula e Valdemar antecede elogios que irritaram Bolsonaro; veja momentos

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Os elogios recentes do mandachuva do PL, Valdemar Costa Neto, ao presidente Lula da Silva (PT) geraram rusgas com o ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL), que concorreu à reeleição pela sigla em 2022, mas não representam algo novo na relação entre os dois políticos. A trajetória comum de Valdemar e Lula envolve eleições presidenciais, blindagem durante o mensalão e segundo Julia Noia, do O Globo, até o impeachment de Dilma Rousseff.

Na última semana, viralizou nas redes sociais um trecho de entrevista concedida pelo presidente do PL em que ele teceu comentários positivos sobre Lula. Na ocasião, em dezembro passado, Valdemar afirmou que Lula é uma “figura extremamente popular” e comparou o seu perfil ao de Bolsonaro.

— O Lula é um camarada do povo, é completamente diferente do Bolsonaro. E é um fenômeno ele chegar onde chegou. O José Alencar era vice-presidente, nós fizemos parte do governo… E Lula foi bem no governo também, elegeu a Dilma depois. Não tem comparação com Bolsonaro. Primeiro que o Lula tem muito prestígio, ele não tem o carisma que Bolsonaro tem, mas tem popularidade, é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro não, tem um mandato só — disse ao jornal “O Diário”.

Após vencer as eleições de 2002, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe o presidente do PL Valdemar Costa Neto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após vencer a eleição — Foto: Agência O Globo/Gustavo Miranda

A declaração abriu uma crise entre Valdemar e Bolsonaro, que chegou a citar o risco de que o PL acabasse implodido pela postura de seu dirigente. Coube ao presidente da sigla recuar, dizendo que a fala foi retirada de contexto e, depois, pedindo desculpas ao principal nome de seu partido.

Veja parte do histórico de Lula e Valdemar.

Indicação de vice

Buscando uma sinalização mais à direita no pleito de 2002, o então candidato do PT à Presidência buscou Valdemar, já presidente do PL, para ajudar na composição de chapa e nomeação de vice. O nome escolhido foi o do empresário José Alencar, morto em 2011 — que repetiu a dobradinha em 2006, na corrida vitoriosa pela reeleição.

A guinada com a composição de vice foi uma estratégia de Lula para ampliar as chances de vencer no segundo turno, diversificando o perfil de aliados na disputa. Com a vitória nas urnas, Valdemar ainda participou da indicação do titular do Ministério dos Transportes, Anderson Adauto.

Críticas a membros do governo

A desenvoltura de Valdemar no governo era tamanha que ele não se furtava de fazer críticas abertas a integrantes do primeiro escalão, sobretudo na área econômica — atuação semelhante, por exemplo, à exercida atualmente pela presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Ainda no primeiro ano da gestão do petista, em 2003, o cacique do PL recriminou publicamente as políticas implementadas pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e pediu a sua destituição do cargo.

— Na minha opinião, ele (o presidente Lula) tem que trocar o ministro Palocci por alguém que tenha competência para o cargo. O Palocci tem competência para ser prefeito de Ribeirão Preto, não tem competência para ser ministro da Fazenda de um país do tamanho do nosso.

O dirigente do PL ainda criticou o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pela alta taxa de juros, que bateu 26% naquele ano, e também pediu a retirada do “zero um” do BC. Apesar disso, afirmou na sequência que a intenção, com as declarações, era dar uma “contribuição do PL” para que “o país dê certo”.

Mensalão e ‘blindagem’ de Lula

No ano seguinte, Valdemar foi acusado de participação no esquema conhecido como mensalão, em que integrantes do governo pagavam aos parlamentares para garantir votações no Congresso. O dirigente do PL foi convocado para prestar esclarecimentos na CPI do Mensalão em agosto de 2005, quando assumiu ter recebido R$ 6,5 milhões entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2004 para pagar dívidas de campanha presidencial de Lula, que tinha José Alencar (PL) como vice.

Apesar de Valdemar assumir ter recebido a quantia de empresa de publicidade ligada a Marcos Valério, durante o depoimento ele buscou “blindar” Lula, José Alencar e o próprio PL:

— Não quero ser um problema para o presidente Lula — disse à época. — O Lula é um homem honesto. O caixa dois (…) aconteceu sem o conhecimento dele. Sou o único responsável pela encomenda de material e pelos pagamentos efetuados. (…) O vice-presidente me chamou a atenção. Disse para ter cuidado com campanha. Nunca comentei com ele que estava recebendo dinheiro após a eleição.

Impeachment de Dilma

Em 2016, já durante a discussão do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), Valdemar Costa Neto, à época dirigente do PR (nome utilizado pelo PL por pouco mais de uma década), defendeu a manutenção do partido na base aliada da petista. Internamente, ele argumentou que a sigla devia gratidão pelo espaço que seu grupo político teve nas gestões petistas.

Essa articulação foi coordenada por Lula, que se reuniu com Valdemar às vésperas da votação pelo afastamento definitivo de Dilma, em agosto de 2016. Em maio daquele ano, o ex-deputado condenado no processo do mensalão havia recebido o perdão de sua pena no Supremo Tribunal Federal (STF) por se enquadrar em regras de um decreto editado por Dilma no fim de 2015.

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