O mercado de banda larga fixa sofreu uma virada no fim deste ano. Os provedores regionais de internet cresceram a ponto de superar a participação de mercado de Vivo, Claro e Oi. A concorrência mais acirrada levou a uma mudança nas estratégias comerciais das grandes teles, que agora buscam parcerias com as empresas locais na tentativa de pegar carona nessa onda de crescimento.
Os 14,1 mil provedores regionais atuantes em todo o País detêm, segundo o Estado de SP, juntos, 31,5% da clientela de banda larga, fatia maior que da Claro, dona da Net (29,2%), Vivo (22,2%) e Oi (17,1%). Em outras palavras, os provedores abocanharam 10,3 milhões de assinantes, seguidos por Claro (9,5 milhões), Vivo (7,2 milhões) e Oi (5,6 milhões).
Os dados são de setembro e foram compilados pela consultoria Teleco a partir da base da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A pesquisa mostrou também que os provedores regionais são líderes de mercado em 3.509 municípios, forte avanço em comparação com dois anos antes, quando lideravam em 2.523.
“Os provedores regionais vão continuar crescendo. Eles estão expandindo a área de atuação e capturando clientes”, afirma o presidente da Teleco, Eduardo Tude. Em sua avaliação, a qualidade da conexão oferecida pelas empresas locais é, em geral, tão boa ou melhor que a das grandes teles, o que lhes dá grande poder competitivo. “Quando as grandes teles chegam ao mesmo mercado, têm de brigar para conseguir clientes. Não existe hegemonia”, diz Tude.
O crescimento dos provedores regionais também está relacionado ao vácuo na cobertura de banda larga nas cidades de pequeno e médio porte, uma vez que as grandes empresas concentram suas atividades nas capitais e regiões metropolitanas. “As empresas locais têm conseguido chegar a rincões do Brasil, onde as grandes ainda não chegaram”, disse a superintendente executiva da Anatel, Karla Rezende. Ela lembrou ainda que a agência reguladora simplificou os processos de liberação de licenças e as exigências de contrapartidas para prestação deste serviço, abrindo espaço para o surgimento de novos provedores nos últimos anos.
Reação
O avanço dos provedores regionais ligou o sinal de alerta das grandes teles, que decidiram criar modelos de parceria para conseguir faturar nesses mercados, que estão fora do seu plano principal. A Oi está se preparando para lançar no começo de 2020 um modelo de franquia no qual colocará à disposição das empresas locais o seu backbone – rede principal por onde trafega o sinal de internet -, além de conteúdo e serviços de seu catálogo, conforme antecipou o diretor de atacado, Carlos Eduardo Medeiros. “Vemos o mercado regional como relevante e teremos uma convivência comercial pacífica”, disse.
Medeiros afirmou ainda que o plano de crescimento das redes próprias de fibra ótica seguem intactos e descartou a necessidade de reduzir preços para ganhar clientes. Em relação ao modelo de franquia, ele não revelou mais detalhes sobre a oferta, mas a tendência é que o negócio ocorra em moldes semelhantes ao anunciado há menos de um mês pela Vivo. Nesta franquia, a Vivo cede o uso de backbone, catálogo de produtos e a marca, enquanto as empresas locais ficam responsáveis pela construção das redes de fibra ótica na região.
“A ideia da franquia é chegar a localidades menores. Há muitos domicílios onde não chegaríamos”, disse, durante o lançamento, o presidente da Vivo, Christian Gebara. Segundo ele, o foco é atingir cidades entre 20 mil a 50 mil habitantes, e até mesmo bairros sem cobertura dentro de cidades maiores. A primeira franquia foi inaugurada em Águas Lindas de Goiás (GO), e as próximas serão em Três Pontas (MG), Rio do Sul (SC), Cabo Frio (RJ) e Dourados (MS), conforme também antecipou a empresa ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. A Claro foi procurada pela reportagem, mas não concedeu entrevista.
Para deslanchar, porém, o plano das grandes teles de pegar carona com as empresas locais ainda precisa vencer uma resistência do mercado, na visão do conselheiro da Associação Brasileira de Provedores de Internet (Abrint), Basílio Perez. “Os provedores olham com um pouco de desconfiança para a proposta da franquia. Pelo que senti até agora, existe o receio de que as grandes operadoras acabem pegando os seus clientes”, disse.
O líder de telecom da consultoria E&Y, Carlos Rocha, acredita que o modelo de franquias pode ser interessante para ambas as partes, dando a visibilidade de marcas reconhecidas para as empresas locais e o acesso a um novo mercado antes inatingido pelas grandes teles. No entanto, o modelo pode guardar segundas intenções, afirmou. “Chega uma hora em que o local pode acabar sendo adquirido pelas grandes operadoras. Estou certo de que há uma observação intensa sobre as possibilidades de consolidação do setor”, disse Rocha.