Protestos que reuniram mais de 300 mil pessoas na Grécia nesta sexta-feira (28) para marcar o segundo aniversário de um acidente fatal de trem no país, terminaram com confrontos com a polícia e jovens atirando pedras contra agentes de segurança. Manifestantes pacíficos saíram às pressas das ruas em meio à confusão, alguns buscando abrigo no Parlamento grego, à medida que tropas de choque lançavam gás lacrimogênio contra a multidão com o objetivo de dispersar encapuzados.
No pior acidente ferroviário da história da Grécia, em 28 de fevereiro de 2023, 57 pessoas morreram, em sua maioria estudantes, após um trem intermunicipal de passageiros colidir com uma locomotiva de carga no vale de Tempe, na região de Tessália. O acidente, segundo especialistas, foi fruto de falhas sistêmicas e descuidos do poder público.
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Para marcar a data, uma greve geral tomou conta do país, afetando o funcionamento de serviços marítimos, ferroviários e aéreos. Médicos e professores também aderiram à paralisação, enquanto milhares de cidadãos saíram às ruas numa grande demonstração de insatisfação. Teatros e empresas fecharam as portas em homenagem às vítimas. Estudantes que foram assistir aula estavam vestidos de preto, em luto.
Premiê sob pressão
Ao todo, 200 cidades e vilas em todo o país aderiram ao protestos, além de manifestações em apoio ao movimento no estrangeiro, como no Canadá e Austrália.
Na véspera, Nikos Androulakis, o líder do partido Pasok, da oposição, acusou o governo de “enganar” a população e “fazer tudo o que podia para esconder suas responsabilidades políticas”. Ele também prometeu mover uma moção de desconfiança contra o primeiro-ministro grego, Kyriákos Mitsotákis, no poder desde 2019.
Após a colisão, o local do acidente foi limpo, levando à destruição de evidências e remoção de restos humanos, o que elevou as críticas de que o governo tentava encobrir as causas do episódio. Dias mais tarde, autoridades gregas cobriram a área com cascalho e cimento. Até o momento, não houve julgamento e ninguém foi responsabilizado.
Um relatório de 178 páginas realizado por um comitê independente, contratado pelas famílias das vítimas, foi divulgado na quinta-feira 27. O documentou revelou que, embora a maioria das pessoas tenha morrido com o forte impacto da colisão, pelo menos sete pessoas foram incineradas por uma explosão que aconteceu em seguida.
Uma carga não relatada de produtos químicos explosivos, citada como um possível “combustível desconhecido” no documento, estaria em um dos trens. A substância, acreditam os críticos, seria ilegal e altamente inflamável.