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domingo 20 de março de 2022 às 07:43h

Propinas para políticos são detalhes de uma grande mágica

NOTÍCIAS, POLÍTICA


De acordo com Elio Gaspari, da Folha, a colaboração premiada da Ecovias feita em 2020 por seu ex-presidente Marcelino Rafart de Seras é bem-vinda em princípio, mas tomou um nefasto viés eleitoral que arrisca deixar a pé as principais vítimas da maracutaia: os motoristas que pagam os pedágios mais caros do país.

Pelo que se sabe, a empresa contou que aspergia propinas para políticos e topou ressarcir a Viúva, mas falta o essencial. Como funcionava o mecanismo que reunia 80 empresas, como se enfiaram aditivos e prorrogações dos contratos? Como se viciaram licitações?

Até agora, o peixe mais gordo mencionado na rede foi o ex-governador Geraldo Alckmin, sem que se conheçam as provas e sem que ele conheça as denúncias. A acusação foi arquivada nas esferas criminal e eleitoral.

As mutretas de cartéis e de propinas no setor de transportes dos governos de São Paulo são coisa velha e o então governador Alckmin sempre defendeu uma “apuração rigorosa” que foi a lugar nenhum.

Em agosto de 2013, numa ação desastrosa, ele anunciou que processaria a fornecedora de equipamentos alemã Siemens porque ela era “ré confessa”. De fato, a Siemens confessara malfeitos e havia demitido seu diretor no Brasil. Isso era consequência de uma memorável faxina internacional promovida pela matriz alemã. Em vez de puxar o fio da meada, pisava-se nele.

Interessa saber os nomes dos políticos que mamavam nas concessionárias, mas interessa saber também quais gatilhos elas enfiavam nos contratos para cobrar caro por mais tempo. Até as pedras sabem que as prorrogações das licenças são moeda de troca nessas negociações.

Por exemplo: uma empresa ganha a concessão de uma estrada que precisa construir alças de acesso em diversos pontos do trajeto. Elas não entram no contrato e, quando surge o pleito, a concessionária faz as obras recebendo em troca uma prorrogação da concessão.

O que há de trágico na privatização das estradas paulistas é que, segundo Elio Gaspari, elas melhoraram a vida dos motoristas. Os pedágios são caros, poderiam custar menos, mas o sistema é eficiente. A corrupção incrustada na privataria é coisa de cleptomaníacos, gente que rouba até para fazer o certo.

Nesse mundo, as propinas para políticos são detalhes de uma grande mágica. A exposição dos políticos metidos com propinas serve de biombo espetacular que protege empresas ineficientes, incapazes de fazer aquilo a que se propõem sem roubalheiras pelo caminho.

A colaboração da Ecovias veio à tona num ano eleitoral. Contaminada por esse veneno arrisca produzir mais fumaça do que fogo. Os promotores que cuidam desse caso são veteranos e sabem que a Operação Lava Jato, com seus excessos, caiu nessa armadilha. Pegou larápios, fabricou santos de pau oco e tudo continua como dantes no quartel de Abrantes, senão pior.

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