A Secretaria de Comunicação da Presidência da República está há dias lidando segundo a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, com um dilema ainda sem solução: onde acomodar no governo o ex-deputado federal Jean Wyllys, que voltou ao Brasil na última semana depois de quatro anos de exílio voluntário no exterior. Ele saiu do país em 2019, afirmando ser alvo de ameaças de morte.
Apesar de ter recebido do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva a missão de empregar Wyllys, o ministro Paulo Pimenta ainda não se reuniu com o ex-deputado para discutir o assunto e nem definiu que função ele vai ocupar. Tampouco há previsão de data para esse encontro acontecer.
Na Secom, ninguém sabe informar que cargo será oferecido ao ex-deputado. Reservadamente, alguns auxiliares de Lula dizem preferir que ele não trabalhasse no governo.
Pimenta e Lula se reuniram com Wyllys no Palácio do Planalto no último dia 6 de julho, uma semana depois de a primeira-dama Janja postar em suas redes sociais um vídeo de boas vindas.
Na ocasião, Wyllys postou uma foto com os dois e a legenda: “Vocês, @LulaOficial e @Pimenta13Br , abrem-me seus abraços e a gente (re)constrói o país também desde a Comunicação!” Janja também recebeu Wyllys no mesmo dia e divulgou o encontro em suas redes.
Uma semana depois, no último dia 13, o Palácio do Planalto informou ao GLOBO que Wyllys passaria a fazer parte da equipe da Secom como assessor no planejamento de comunicação. O Planalto informou ainda que a nomeação sairia “nos próximos dias”.
Nos bastidores, porém, o clima é outro. Tanto Pimenta como alguns outros ministros palacianos consideram que Wyllys cria polêmicas desnecessárias que podem contaminar a comunicação do governo.
Por isso, preferiam não ter o ex-deputado no Palácio, e por isso estão adiando a decisão a respeito do cargo que ele ocupará de fato. A questão é como afastá-lo sem desagradar Lula e Janja.
O próprio presidente contou a seus auxiliares mais próximos ter convidado Wyllys para trabalhar com ele durante um encontro que tiveram em Madri em uma viagem presidencial à Espanha.
Desde que chegou ao Brasil, porém, Wyllys vem alimentando polêmicas como a briga com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, a respeito das escolas cívico-militares.
Leite havia feito uma postagem dizendo que sua gestão vai manter as escolas que deixarão de receber recursos do governo federal. Wyllys, então, cutucou: “Que governadores heteros de direita e extrema-direita fizessem isso já era esperado. Mas de um gay…? Se bem que gays com homofobia internalizada em geral desenvolvem libido e fetiches em relação ao autoritarismo e aos uniformes; se for branco e rico então… Tá feio, bee!”
Causou apreensão na Secom, ainda, o fato de Wyllys ter publicado notícias e um vídeo com as acusações de abuso sexual que a ex-mulher do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vem fazendo contra ele. As críticas recorrentes ao que Wyllys chama de “imprensa neoliberal” também causam tensão na equipe da Secom .
Em suas postagens, o ex-deputado demonstra também ter notado a preocupação do entorno de Lula. No último sábado (15), ele escreveu no Twitter: “Sou o que sou, eu não douro pílula” (CV). E minha honestidade não está à venda, muito menos por cargo no governo. Quem me convidou para este sabe quem sou e como sou e atuo. E deve ter me convidado por isso. E não para me silenciar e nem me fazer capitular ao fascismo”.
Procurado pela equipe da coluna, Jean Wyllys disse por meio de sua assessoria de imprensa que não estava a par do impasse na Secom e que não falaria sobre o assunto.
Lula chega nesta quarta-feira ao Brasil e em já se sabe que em algum momento deve cobrar os auxiliares a respeito de Jean Wyllys. Antes disso não deve haver solução para o impasse.