Nos últimos anos, as mudanças climáticas tem transformado as condições de cultivo na viticultura do Semiárido brasileiro. Em uma região onde as chuvas sempre foram concentradas em quatro meses, as precipitações passaram a ocorrer ao longo do ano, afetando diretamente a fruticultura irrigada, especialmente a uva. Esse cenário levou a Embrapa Semiárido a desenvolver um projeto que estuda o uso da plasticultura para mitigar os efeitos adversos das chuvas, além de promover benefícios no desenvolvimento das videiras, produtividade e qualidade dos frutos.
No Brasil esta técnica já é adotada em regiões vitivinícolas com altos índices de precipitação, como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde a cobertura dos vinhedos com filmes plásticos ou ráfia cria uma barreira física que reduz a presença de água livre nas folhas. A pesquisadora e coordenadora do projeto, Patrícia Coelho de Souza Leão, explica que as precipitações mais intensas aumentam os riscos de doenças, exigindo um manejo mais intensivo, o que eleva os custos de produção.
“Durante uma semana chuvosa, por exemplo, é preciso realizar pulverizações quase diárias para conter as doenças, especialmente em fases críticas como a floração. Além disso, as chuvas impactam na fase de maturação, causando rachaduras nas bagas, podridões e queda na qualidade dos frutos, comprometendo a conservação pós-colheita”.
Realizado em parceria com duas empresas privadas da região, o projeto testa dois tipos de materiais: ráfia com polietileno e filme plástico (100% polietileno). Cada material foi instalado em dois experimentos, com diferentes tratamentos: no caso da ráfia com polietileno, são quatro tratamentos, incluindo coberturas temporárias e permanentes em fases distintas do cultivo. No teste com polietileno, três tratamentos estão em avaliação: uma área descoberta, um plástico com difusão de luz e outro com filme plástico sem difusão de luz.
“A difusão de luz permite uma distribuição uniforme da luz dentro do parreiral, o que pode beneficiar o desenvolvimento da planta”, explica a pesquisadora. Os experimentos estão sendo realizados em variedades de uva desenvolvidas pela Embrapa, como a BRS Melodia e a BRS Tainá. “A Tainá, por exemplo, apresenta certa sensibilidade a rachaduras nas bagas em períodos de chuva, o que torna a plasticultura uma estratégia importante para evitar perdas”, comenta Souza Leão.
Além da proteção em relação às chuvas, a plasticultura também mostra benefícios em períodos secos, ao reduzir a temperatura e a radiação intensa nas áreas cobertas, promovendo os processos fisiológicos das videiras entre outubro e dezembro.
Dia de Campo
Os resultados da pesquisa nos primeiros ciclos de produção mostram mudanças significativas no microclima dos vinhedos, com efeitos no desenvolvimento das plantas, tamanho dos cachos e das bagas, produtividade, qualidade das uvas e incidência de doenças, como míldio, cancro bacteriano e oídio. Esses dados serão apresentados no Dia de Campo “Cultivo Protegido de Uvas de Mesa no Vale do São Francisco”, que ocorrerá em 25 de novembro, na Fazenda Colinas do Vale, em Petrolina-PE, a partir das 8h.
As inscrições podem ser realizadas por meio deste link, com vagas limitadas. O evento gratuito é voltado para produtores, técnicos e estudantes interessados em tecnologias inovadoras na viticultura.
A programação inclui quatro estações temáticas, abordando o impacto da plasticultura na produtividade e nas características das uvas; a influência da técnica no microclima e na ecofisiologia das videiras; os efeitos na qualidade pós-colheita; e uma análise dos custos de produção e perspectiva do produtor sobre o manejo protegido.
Ao final do estudo, a Embrapa espera aprofundar o entendimento dos efeitos da plasticultura no microclima e na qualidade das uvas produzidas no Semiárido. Esses dados serão essenciais para fortalecer a produção sustentável e competitiva de uvas no Vale do São Francisco, impulsionando o setor vitivinícola regional frente às mudanças climáticas.