Poloneses foram às urnas para “eleição mais importante desde a queda do comunismo”. Boca de urna aponta vitória do governista PiS, mas sem maioria, abrindo caminho para partidos da oposição formarem coalizão de governo. As eleições na Polônia neste último domingo (15) parecem ter terminado, segundo projeções, com o partido governista Lei e Justiça (PiS) se mantendo como a força política mais forte do país, embora sem os votos necessários para formar maioria. O resultado abriria caminho, portanto, para que partidos da oposição liberal formem uma coalizão de governo e tirem o nacionalista conservador PiS do poder.
A legenda governista do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki obteve 36,8% dos votos, segundo pesquisas boca de urna realizadas pelo instituto Ipsos. O partido liberal de oposição Coalizão Cívica (KO), do ex-primeiro-ministro Donald Tusk, ficou em segundo lugar, com 31,6% dos votos.
Para formar um governo na Polônia, um partido precisa somar 231 dos 460 assentos do Parlamento. Estima-se que o PiS leve cerca de 200 cadeiras, ou seja, aquém do necessário para formar maioria.
É possível ainda formar coalizões com outras legendas para se alcançar esse número. Porém, o único parceiro de coligação possível para o PiS seria a ultradireitista Confederação, que obteve 6,2% segundo os resultados preliminares, o equivalente a apenas cerca de 12 assentos.
De qualquer forma, a Confederação frisou repetidamente durante a campanha eleitoral que não estava aberta a uma aliança com o partido de Morawiecki.
Segundo as projeções, a Coalizão Cívica de Tusk conquistou 163 assentos, podendo assim formar uma coalizão com a conservadora cristã Terceira Via (13%) e a aliança A Esquerda (8,6%). A união entre os três partidos somaria um total de 248 cadeiras no Parlamento e, portanto, uma maioria.
Líder da oposição, Tusk já se viu como o vencedor da noite: “Nunca fiquei tão feliz com o segundo lugar. A Polônia venceu, a democracia venceu, este é o fim do governo PiS”, disse neste domingo.
O líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, por sua vez, afirmou que a legenda está esperando para ver o desenrolar dos acontecimentos.
O equilíbrio de poder no Parlamento ainda pode mudar por poucos pontos percentuais obtidos por partidos menores. A formação de um governo ainda deverá levar um tempo, com o resultado final previsto para ser anunciado apenas na próxima terça-feira.
Eleição mais importante desde o comunismo
As eleições deste domingo foram consideradas por muitos poloneses – incluindo o oposicionista Donald Tusk – como as mais importantes desde o retorno da Polônia à democracia, em 1989, após décadas de comunismo.
Em jogo estão a saúde da ordem constitucional da nação, a posição legal sobre os direitos LGBTQIA+ e o aborto, bem como as alianças estrangeiras de um país que tem sido um aliado crucial da Ucrânia desde que a Rússia lançou sua invasão em grande escala.
No poder desde 2015, o PiS corroeu os freios e contrapesos para obter mais controle sobre as instituições estatais, incluindo os tribunais, a mídia pública e o próprio processo eleitoral.
O apoio ao partido diminuiu desde a última eleição, em 2019, quando obteve quase 44% dos votos em 2019, em meio à alta inflação, alegações de clientelismo e brigas com aliados europeus.
Em meio à baixa popularidade, o PiS apostou todas as suas fichas em busca de um terceiro mandato nesta eleição, que foi dominada por questões relacionadas à migração e à guerra na Ucrânia.
Nas últimas semanas, os preços dos combustíveis no país despencaram, pois a empresa Orlen, controlada pelo Estado, começou subitamente a vender gasolina e diesel muito abaixo dos preços de mercado, no que a oposição classificou como um um claro golpe eleitoral.
O dia 15 de outubro é comemorado pela Igreja Católica na Polônia como o Dia do Papa, em memória do pontífice polonês João Paulo 2º. O PiS esperava que o momento levasse às urnas os eleitores conservadores que frequentam a igreja.
O comparecimento foi, de fato, o mais alto desde a queda do comunismo no país, em 1989, segundo anunciou a comissão eleitoral neste domingo: uma pesquisa boca de urna previu que 72,9% dos eleitores compareceram aos locais de votação.
“A participação é provavelmente a mais alta da história da Terceira República”, disse Sylwester Marciniak, líder da comissão, em entrevista coletiva.