No rastro das investigações contra a corrupção e da crise na segurança pública, integrantes de categorias ligadas a corporações policiais e aos militares turbinaram a participação nas campanhas eleitorais ao Congresso.
Em média, houve um aumento de mais de 20% no número de candidatos dessa turma, o que, a partir de cenários para o Legislativo deve representar quase 10 nomes a mais de vitoriosos, se comparados com os de 2014, quando foram eleitos 25 parlamentares, incluindo PMs e delegados civis.
Tal projeção, feita pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) a pedido da imprensa, ao mesmo tempo que parece uma boa notícia para os grupos de servidores, entretanto, é vista com preocupação por parte de analistas, sindicalistas e oficiais.
A primeira questão é que, ao mesmo tempo que há uma expectativa de que parte dos eleitores procure nomes ligados à Justiça, Polícia Federal e às Forças Armadas por causa da imagem dessas instituições, ao longo do tempo, pode ocorrer desgastes a partir da contaminação política.
“As Forças Armadas vivem numa redoma, que garante a proteção da imagem. Ao sair dessa redoma em busca de votos, há um risco evidente, a médio prazo”, disse um integrante da cúpula do Ministério da Defesa, que preferiu não se identificar. Há quatro anos, dois militares da reserva conseguiram se eleger para a Câmara: Jair Bolsonaro (RJ), hoje candidato ao Planalto, e o Tenente Lúcio (MG). Na caserna, os voos em direção às urnas são vistos com desconfianças, apesar do apoio, principalmente dos militares mais jovens, ao capitão presidenciável do PSL.
São 54 candidatos do Exército a vagas na Câmara. “Muitos deles estimulados pelo debate da corrupção e da violência”, admite o servidor da Defesa, considerando a dificuldade de tiros mais longos por causa do freio dos partidos políticos em relação a caras novas, uma reclamação comum entre representantes de policiais. “A legislação eleitoral é construída pelos políticos que estão dentro e querem se manter no jogo sem abrir espaço para nomes de fora”, diz Edvandir Felix de Paiva, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), que também revela uma resistência da própria classe. “Eu mesmo nunca tive a pretensão de sair candidato e vejo isso como uma escolha pessoal, pois tem uma exposição.” Ao todo, 14 delegados disputam um cargo na Câmara — outros quatro tentam os legislativos estaduais.
Por Jair Onofre