O procurador e coordenador da Lava Jato no MP-PR (Ministério Público do Paraná), Deltan Dallagnol, rejeitou um convite para receber um prêmio à operação Lava Jato em 2016 pelo evento contar com a participação de Jair Bolsonaro e “outros radicais de direita”, segundo mensagens da Vaza Jato.
Os novos diálogos foram divulgados em reportagem do portal UOL publicada nesta quarta-feira (14), em parceria com o site The Intercept Brasil.
Tratava-se do prêmio “Liberdade 2016”, concedido durante o Fórum Liberdade e Democracia daquele ano. O evento foi organizado pelo Instituto de Formação de Líderes de São Paulo.
Inicialmente, Deltan afirmou em um grupo com procuradores da operação entitulado Filhos do Januário um que iria ao evento para receber a premiação.
“Vou receber porque me parece positivo para a LJ [Lava Jato], mas vou pedir para ressaltarem de algum modo, preferencialmente oifical [oficial], que entregam a mim como símbolo do trabalho da equipe”, disse.
Com a aproximação da cerimônia, um assessor não identificado recomendou que Deltan não participasse do evento. “Tudo o que vc e a FT [força-tarefa] não precisam é serem ‘associados’ ao Bolsonaro. é a mesma coisa que receber prêmio do Foro de BSB. estou quase implorando…”, escreveu em conversa privada com o procurador. De acordo com os diálogos, Deltan ligou para o assessor para tratar sobre o tema.
Minutos depois, na madrugada de dois de outubro de 2016, Deltan enviou uma mensagem ao grupo Filhos de Januário um, informando que não participaria mais da premiação.
“Caros, apenas FYI [para seu conhecimento], estou cancelando a ida para o premio à FT em SP por revisão da recomendação da ASCOM [assessoria de comunicação] após sair a programação do evento, que tem perfil mto de direita, com Jair Bolsonaro como um dos vários palestrantes e com homenagem a um vereador de SP [Fernando Holiday] que foi um dos líderes do impeachment [de Dilma Rousseff em 2016]. Indicarei Roberto Livianu (que entregaria o prêmio) ou Thamea como representantes da FT para receber o prêmio”, disse.
O que diz a Lava Jato
Ao portal, a assessoria da operação afirmou que evita a “participação direta de seus membros em eventos que possam gerar, ainda que indevidamente, a vinculação do trabalho técnico feito na Lava Jato a bandeiras ideológicas e político-partidárias”. E que, no caso do evento citado, “a força-tarefa se fez representar por um promotor de justiça de São Paulo, que ali reside e compareceu com o restrito objetivo de receber o prêmio em nome da força-tarefa”.
Sergio Moro e Deltan Dallagnol tiveram o conteúdo de conversas atribuídas a eles e procuradores da Lava Jato divulgadas pelo site The Intercept em uma série de reportagens no caso que ficou conhecido como Vaza Jato. Os dois contestam a autenticidade das mensagens, mas não indicam os trechos que seriam verdadeiros e os que seriam falsos.