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terça-feira 15 de dezembro de 2020 às 12:07h

Print de conversas entre Ediene Lousado e joalheiro sugerem tentativa de cooptação de Dodge, diz MPF

JUSTIÇA, NOTÍCIAS


A denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a ex-procuradora-geral de Justiça da Bahia, Ediene Lousado, apresenta conforme reportagem do site Bahia Notícias, indícios de como ela teria tentado interferir em outros órgãos e poderes para beneficiar amigos. Ediene foi um dos alvos das 6ª e 7ª fases da Operação Faroeste, que originalmente investiga um suposto esquema de venda de sentenças relativas à disputa de terras no Oeste baiano.

De acordo com o que foi apurado até o momento, o MPF aponta que a ex-chefe do Ministério Público da Bahia (MP-BA) atuou na “blindagem institucional”, evitando que investigações chegassem aos alvos.

Um exemplo é sua relação com o joalheiro Carlos Rodeiro, também investigado no caso e suspeito de operar no esquema de lavagem de dinheiro. Alvo de buscas no ano passado, ele entregou mensagens trocadas pelo aplicativo WhatsApp, “a indicar que ela defenderia seus interesses e receberia joias e empréstimos, uma vez que, ante a magnitude do cargo ocupado, não se revela crível que a autoridade máxima do Parquet faça assessoria jurídica pro bono para ele”.

Em um trecho publicado pelo Bahia Notícias, Rodeiro menciona um “presente” que enviou a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge – ela se encontraria com Ediene. Dias depois, Ediene relata que Dodge “amou” o presente e compartilha uma foto das duas usando colares parecidos feitos pela joalheria de Rodeiro. Para o MPF, isso representa uma “sistemática que aparenta possível tentativa de cooptação da máxima autoridade do Ministério Público brasileiro, responsável, em última instância, pelo desfecho da Operação Faroeste”.

Imagem: Denúncia MPF

No mesmo dia, outro registro de conversa entre os amigos se refere a uma intimação para que a empresa de Rodeiro, a Carlo’s Joias Ltda – EPP “apresente livros e documentos fiscais, no dia 07/06/2019, relativos aos exercícios de 2014, 2015 e 2016”. Sobre o assunto, Ediene diz: “Amigo, marquei com ele para pessoalmente [sic] amanhã”. “Depois lhe darei notícias”, “vai dar certo”, diz as demais mensagens enviadas por ela.

Então, no dia 7 de junho, quando deveria apresentar os documentos, ele pergunta a Ediene se ela havia conseguido um retorno ao que ela responde em confirmação. “Eu consegui falar e ele me disse que estava tudo combinado, que ele iria verificar o que aconteceu e me diria. Vou te mandar a mensagem que ele me mandou, tá bom?”, enviou, em mensagem de áudio, acompanhada de uma imagem da conversa entre ela e o secretário estadual da Fazenda, Manoel Vitório. De acordo com registro encaminhado a Rodeiro, o titular da Sefaz confirmou que a entrega dos livros teria sido adiada de junho para setembro. “Dos 06 (seis) voos internacionais realizados por Ediene, Manoel Vitório esteve no mesmo voo em 02 (dois)”, diz a peça, ao se referir à relação entre os dois.

Dificuldades financeiras

Dias depois, em 17 de junho, Ediene mandou mensagem a Rodeiro, questionando se “aquela transferência” iria dar certo, pois ela estava contando com a ajuda dele. “Precisando muito! O áudio do gerente hoje me assustou. Meu limite já caiu. Cartões atrasados, e demais compromissos também”, desabafou. Como resposta, Rodeiro garantiu que faria a transferência naquele dia, pessoalmente. “Não há, no corpo das mensagens, o registro de pagamento de volta do valor transferido a ele”, diz o MPF, citando que Ediene havia dito que reembolsaria o amigo.

Imagem: Denúncia MPF

Em meio às mensagens, Rodeiro ainda prometeu a Ediene novas joias para presentear Dodge e também “um amigo em comum, até o presente momento desconhecido, para, só então, ela agradecer pela banda que ele providenciou para a mesma, junto ao também investigado pela Operação Faroeste Thiago Philletto, pedindo, novamente, que ela interviesse em processo de homicídio, cujo advogado é o também investigado Alano Frank”, diz outro trecho que evidencia a interferência que ela fazia em processos em prol do joalheiro.

O que diz a defesa

Com a repercussão das medidas judiciais na segunda-feira (14), a defesa de Ediene informou que ela está “surpresa” e “tranquila por jamais ter tido o seu nome ligado a quaisquer ilegalidades ou irregularidades”. Ela considerou “desproporcional” a medida de afastamento das funções.

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