O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, ordenou nesta última segunda-feira (17) uma investigação sobre a Igreja da Unificação, depois do assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, em julho, o que reativou as suspeitas a respeito da seita e suas ligações com figuras políticas.
O culto de origem sul-coreana está no centro das atenções desde que foi divulgado que o homem que matou Abe foi motivado pelo ressentimento contra essa igreja, acusada de pressionar os membros a fazer grandes doações.
Mesmo após o assassinato de Abe, o primeiro-ministro Fumio Kishida se recusava a abrir uma investigação sobre as atividades da seita no Japão.
Nas últimas duas décadas, uma rede de advogados de ex-membros da Igreja da Unificação tem pedido ao Partido Conservador no poder que corte laços com o grupo religioso. O assassino de Shinzo Abe, Tetsuya Yamagami, acreditava que o ex-primeiro-ministro era próximo da seita, que acusava de arruinar sua mãe e destruir sua família.
Discurso anticomunista
A seita, fundada na Coreia do Sul em 1954 por Sun Myung Moon, negou falhas em suas ações, apesar de vários ex-integrantes terem criticado publicamente suas práticas e revelado as ligações da organização com figuras políticas. O discurso anticomunista de Moon favoreceu a aproximação do culto com políticos conservadores do mundo todo, principalmente no Japão. O avô de Shinzo Abe, o ex-primeiro-ministro Nobusuke Kishi, teria sido simpatizante de Moon.
As denúncias aumentaram o índice de impopularidade de Kishida, o que ameaça sua permanência no cargo. Os japoneses criticam a infiltração de grupos religiosos no governo e exigem a aprovação de uma lei que controle suas atividades. Metade dos parlamentares conservadores, inclusive vários membros do governo do atual primeiro-ministro, têm ligações com a seita Moon.
Troca de favores
Desde os anos 1960, o Partido Conservador usa a estrutura da seita para as campanhas eleitorais. Em troca, a igreja se beneficia da tolerância do governo para doutrinar novos seguidores e forçá-los a doar suas economias. Segundo a rede de advogados que denuncia a igreja, a seita multiplicava os golpes para angariar a cada ano milhões de ienes.
O primeiro-ministro afirmou nesta segunda-feira que “muitas vítimas” da igreja caíram na pobreza ou enfrentaram a desintegração familiar. “Os esforços para ajudá-los ainda são insuficientes”, disse, antes de anunciar que “o governo exercerá seu direito de investigar a igreja com base na Lei de Corporações Religiosas”.
Keiko Nagaoka, ministra da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia, afirmou à imprensa que, por ordem de Kishida, a investigação “começará imediatamente”.
A investigação pode levar a uma ordem de dissolução da igreja, o que retiraria da congregação o estatuto de organização religiosa isenta de impostos.
O governo, no entanto, hesita sobre a possibilidade de emitir uma ordem desse tipo contra a Igreja da Unificação, alegando preocupações a respeito da liberdade religiosa.