A Polícia Rodoviária Federal (PRF) decidiu suspender o formulário conforme Paulo Cappelli, do Metrópoles, que questiona a “identidade política” e a “afinidade partidária” de agentes da corporação. O recuo ocorreu após deputados de oposição protocolarem um requerimento para convocar o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e obrigá-lo a explicar o porquê das perguntas. Parlamentares apontam que o objetivo seria intimidar policiais não simpáticos ao governo Lula e, assim, “aparelhar” a corporação.
No questionário da PRF, o agente tinha que sinalizar sua identidade política. As opções eram extrema-esquerda, esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita, direita e extrema-direita. Os policiais deveriam, também, indicar sua “afinidade partidária”, assinalando siglas que vão do PT de Lula ao PTB de Roberto Jefferson. O PL de Bolsonaro não figurava entre as opções.
“Apesar de o policial não ter de se identificar ao preencher os dados, o questionário gerou ruídos e fez com que suspeitas fossem levantadas. Diante disso, decidimos suspender sua aplicação”, informou à coluna um integrante da cúpula da Polícia Rodoviária Federal. O formulário fazia parte de um curso de Direitos Humanos obrigatório para agentes da PRF formados antes de 2022. Deputados federais do PL, Sanderson e Zucco chegaram a protocolar a convocação de Lewandowski e cobraram esclarecimentos.
A PRF negou que mantenha um banco de dados com as respostas e afirmou que a iniciativa é inspirada em um teste de Harvard para promover o “autoconhecimento” dos policiais. Nos bastidores, aliados de Lula afirmam que a corporação seria, em sua grande maioria, alinhada com ideais bolsonaristas. Chefe da PRF no governo passado, Silvinei Vasques está preso, por determinação de Alexandre de Moraes, após suspeita de tentar interferir na eleição presidencial.
No ano passado, o ministro do STF Gilmar Mendes chegou a afirmar que a existência da Polícia Rodoviária Federal deveria ser “repensada”. A declaração ocorreu após a morte de uma criança em uma operação da PRF no Rio de Janeiro.
“Para além da responsabilização penal dos agentes envolvidos, há bem mais a ser feito. Um órgão policial que protagoniza episódios bárbaros como esses, e que, nas horas vagas, envolve-se com tentativas de golpes eleitorais, merece ter a sua existência repensada. Para violações estruturais, medidas também estruturais”, sustentou o magistrado.
Fim da PRF como a conhecemos
Uma proposta de emenda à constituição (PEC) idealizada por Lewandowski pretende transformar a Polícia Rodoviária Federal em Polícia Ostensiva Federal. O ministro afirma que a medida daria mais poderes à corporação.
De acordo com o texto, a nova polícia teria autonomia para atuar não só em rodovias, mas em ferrovias, hidrovias e instalações federais. E prestaria apoio a forças estaduais de segurança em situações de emergência.