O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio surpreendeu o mercado segundo Luana Zanobia, da Veja, registrando um valor abaixo do esperado. O índice fechou o mês em 0,23%, inferior às expectativas medianas de 0,33%. Na variação anual, a expectativa era de 4,04%, mas o índice apresentou um número também mais baixo, de 3,94%. A difusão, que mede quantos itens tiveram aumento de preço, também apresentou queda, de 66% para 57%, sinalizando um cenário de menos pressão inflacionária. O resultado sugere que o Banco Central começa a ter cada vez mais espaço para iniciar o corte da Selic, medida já precificada na curva de juros.
A queda da inflação é vista como resultado da política monetária, mas outros fatores também contribuíram para essa diminuição. A relação entre o governo e o Banco Central é crucial neste momento de boas notícias, pois um ambiente harmonioso entre as instituições pode facilitar o processo de ajuste das taxas de juros.
Embora exista a possibilidade de o Copom cortar a taxa na reunião de junho, a probabilidade é baixa. “A questão na mesa é que não se pode dar ‘um cavalo de pau’ na comunicação, logo o que espero é ver sinalizações claras na próxima ata de que há espaço para algum afrouxamento monetário no segundo semestre e isso já vai ajudar – e muito – o humor empresarial e a retomada da economia”, avalia o economista André Perfeito. Acredita-se que o corte de juros pelo Banco Central não deva sair nesta reunião, que acontece nos dias 20 e 21 de junho, mas entre agosto e setembro, desde que o Federal Reserve (FED), o banco central americano, interrompa a alta de juros na reunião de junho por lá. Segundo o economista, a desaceleração do IPCA é, de fato, uma boa notícia para o governo, o BC, para o mercado, e especialmente para as camadas mais pobres da população, que têm visto sua renda diminuir em uma economia que ainda não cresce suficientemente, enquanto a inflação consumia os recursos restantes.
No cenário atual, a possibilidade de corte dos juros já causa uma reação positiva no mercado de capitais. Tal perspectiva é considerada um dos principais propulsores do mercado de ações, uma vez que juros mais baixos podem atrair mais investimentos para esse setor. A expectativa de corte de juros leva à valorização dos ativos, impulsionada pela análise de fluxo de caixa descontado. Além disso, essa possível diminuição da taxa Selic pode incentivar investidores a migrar de ativos menos arriscados de renda fixa para ativos de risco, como a bolsa de valores. “Estamos prestes a ver uma inversão de ciclo no mercado brasileiro, com investidores saindo de um ciclo longo de alta e manutenção da taxa Selic em patamares elevados, fazendo com que os investidores alocassem em ativos menos arriscados de renda fixa para aproveitar as altas taxas, em detrimento de ativos de risco como bolsa de valores”, diz Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.
No que tange à desaceleração, uma das mais expressivas foi observada no grupo alimentação, que saiu de 0,71% para 0,16%. Essa desaceleração, fruto da alta expressiva do setor agropecuário no PIB do primeiro trimestre, pode atenuar algumas medidas de núcleo que têm preocupado o Banco Central. Dos itens que mais impactaram o IPCA, destaca-se o segmento de transportes, com uma queda de -0,57%, influenciada pelo corte no preço dos combustíveis. A gasolina apresentou queda de -1,9% em maio. Outro destaque de baixa foi o tomate, com um aumento bem menor que a prévia de maio (18,8%), subindo apenas 6,6%.
Em contrapartida, as pressões de alta foram sentidas no aluguel e nas taxas de água e esgoto, que tiveram um aumento de 2,7% em maio. Além disso, os itens de higiene pessoal, como perfumes, apresentaram um aumento de 3,6% em maio.