O que você pode fazer para combater a desinformação? Esse é um questionamento que precisa ser feito por todos os cidadãos: eleitores, servidores públicos e operadores do Direito. Nesse sentido, as estratégias adotadas pela Justiça Eleitoral foram abordadas em evento realizado nesta semana.
O encontro, proposto pela Comissão de Enfrentamento à Desinformação do TRE baiano, contou com a participação do presidente da Corte Eleitoral, desembargador Roberto Maynard Frank; do coordenador digital de Combate à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Thiago Rondon; do presidente da Comissão de Enfrentamento à Desinformação do TRE-BA, Victor Xavier; e da assessora-chefe de Comunicação Social do TSE, Giselly Siqueira. O debate foi mediado pela jornalista da Assessoria de Comunicação Social e Cerimonial (Ascom) do TRE-BA, Carla Bittencourt.
Na abertura do evento, o presidente do TRE-BA afirmou que o assunto é de relevância para todos. “A disseminação da boa informação é o mais importante meio de minimizar os efeitos nocivos espalhados por uma notícia falsa”, disse o desembargador, completando ainda que “as fake news representam um desserviço para sociedade, porquanto distorce a realidade e enfraquece as instituições e o regime democrático. Disseminar dúvidas e incertezas é uma prática que tão somente contribui para a instabilidade social. E nós, da Justiça Eleitoral, precisamos estar atentos a este problema complexo e sensível. A boa informação, ao contrário, fortalece a democracia, uma vez que amplia o conhecimento da população e capacita o cidadão à reflexão crítica, dotando-o de instrumentos para formar o seu próprio convencimento. Ressai daí a necessidade primaz de que sejamos agentes de esclarecimento. Não donos da verdade, mas instrumentos da sua propagação.”, declarou o presidente do TRE-BA.
Victor Xavier, presidente da Comissão de Enfrentamento à Desinformação do TRE-BA, asseverou que “quando falamos em desinformação, estamos falando sobre a liberdade do voto, sobre a liberdade do direito de escolha, sobre esse processo decisório que é entregue pela Justiça Eleitoral a todos cidadãos do país”.
Já Thiago Rondon declarou que o termo “fake news” não ajuda no enfrentamento à desinformação, pois parte de uma premissa errada de que a notícia é falsa e conceitua: “Nós olhamos para desinformação de duas formas: uma que é intencional, aquelas que são promovidas por atores maliciosos, por pessoas que querem intencionalmente, e até profissionalmente, espalhar uma desinformação. E a outra não intencional, muitas vezes de uma pessoa que está recebendo uma notícia e não tem intenção de enganar as pessoas”, explicou o servidor do TSE.
No curso do debate, Victor Xavier acrescentou que o termo “fake news” colou e chama atenção para o assunto, “embora tecnicamente o conceito de desinformação seja muito mais amplo”, pois não se restringe apenas a notícias falsas. “A gente fala de informação descontextualizada, com foco direcionado, produzida para induzir ao erro”.
Na Bahia, completou Xavier, há alguns projetos sendo conduzidos pela Comissão com o objetivo de debater com o público interno do TRE, tanto concursados quanto terceirizados, formas de enfrentar a desinformação. “Há ainda um projeto em parceria com a Escola Judiciária Eleitoral (EJE/BA) para formação dos eleitores do futuro. Também estamos desenvolvendo um site e promovendo eventos para debater a propagação da boa informação”.
O papel da comunicação no enfrentamento à desinformação
Para Giselly Siqueira, enfrentar a desinformação tem tudo a ver com a missão das assessorias de comunicação da Justiça Eleitoral. “Nós combatemos a informação errada com a informação correta, só que é uma luta de gigantes e a informação correta demora de chegar”, afirmou. Isso porque, completou, as histórias criadas pela rede de desinformação tem um enredo mais atrativo, sendo apresentadas de forma distorcida, desconectada com a realidade.
Siqueira falou ainda sobre as parcerias do TSE com as agências de checagem de notícias, mas os participantes refletiram que é preciso pensar estratégias para o cidadão que está na ponta, inserido em grupos no Whatsapp, compartilhando desinformação. De acordo com a assessora do TSE, já há uma parceria com o Whatsapp para aprimorar o serviço de denúncias de disparo de desinformação em massa e levar aos eleitores informação de qualidade. Parcerias também já foram firmadas com o Facebook, Google e Twitter. Já com as operadoras de telefonia, foi firmado um acordo para não utilizar os dados móveis dos sites de agências de checagem, pois metade da população que tem aparelho de celular não tem um pacote de dados, tendo apenas acesso ao Whatsapp.
Thiago Rondon completou que é preciso trazer especialistas para dentro desse debate, capacitar as plataformas digitais para conhecer o processo eleitoral brasileiro, já que a maioria é do exterior. Ele também informou que houve um trabalho da Justiça Eleitoral junto a essas plataformas para que os algoritmos das redes priorizem as informações oficiais.
Rondon contou ainda que, além das parcerias com as redes sociais e telefonia, o TSE firmou conta com o apoio de grandes entidades, como clubes de futebol e igrejas, para enfrentar a desinformação. “É preciso ter uma rede articulada para disseminar informações de qualidade, pois, quando isso não acontece, o espaço chamado de ‘vácuo de informação’, pode ser preenchido por alguma desinformação. O que precisamos é atuar com informação correta e em rede”, defendeu.
Histórico
O presidente do Regional lembrou que o fenômeno das fake news não é algo novo e já era utilizado pelo Ministério das Comunicações no nazismo, pois havia a premissa de que “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. De acordo com Roberto Maynard Frank, a instantaneidade dos tempos atuais é que faz esse fenômeno ser tão grande, de modo a ser combatido com a educação do cidadão para que “ele não repasse uma notícia que seja um desserviço para a coletividade e ao próprio sistema democrático”.
A assessora de comunicação do TSE, Giselly Siqueira, também comentou que a propagação de notícias falsas foi registrada nos tempos do Império Romano. “Quando se percorre as ruas de Pompéia, se percebe propagandas registradas até hoje como falsas. Isso não é algo que surgiu ontem, mas, com a globalização, com a tecnologia, com as novas formas de comunicação, a desinformação se tornou mais ágil”,avaliou.
No final do evento, o presidente do TRE da Bahia afirmou que todos “somos instrumentos de propagação de informações específicas e verdadeiras”, e que é preciso é incentivar as boas práticas para “difundir a boa informação”. O desembargador Roberto Maynard Frank, disse ainda que “o voto consciente deve ser difundido, pois, em um cenário de polarização, eu acho que a função da instituição, no caso do Regional baiano, é difundir a ideia do voto consciente, do voto pautado em premissas de análise daquilo que há de bem representar a sociedade num contexto eleitoral”, completou.