Funcionários do aeroporto de Colombo, no Sri Lanka, impediram a fuga do presidente nesta segunda (12), com destino a Dubai. Gotabaya Rajapaksa tenta deixar o país após milhares de manifestantes terem invadido sua casa há alguns dias, num grande protesto contra o que consideram a má gestão da maior crise no Sri Lanka em décadas.
De acordo com autoridades, a equipe de imigração se recusou a deixar Rajapaksa ir à área VIP do aeroporto para carimbar seu passaporte, e ele não quis enfrentar as filas comuns, por medo de ser assediado pelo público. Rajapaksa teria perdido quatro voos para os Emirados Árabes Unidos e, junto de sua esposa, teve de retornar a uma base militar próxima.
O mandatário prometeu renunciar na quarta (13), abrindo caminho para uma transição pacífica diante dos protestos que levaram à sua queda e a de vários ministros. Como ainda não renunciou, Rajapaksa se beneficia da imunidade presidencial e pode utilizá-la para buscar refúgio no exterior.
Impedido de voar, ele agora examina a possibilidade de fugir do país em uma embarcação da Marinha, segundo oficiais disseram à agência de notícias AFP.
O presidente não foi o único membro da família a empreender uma fuga falida. Seu irmão mais novo, Basil Rajapaksa, que atuou como ministro das Finanças e também é acusado de corrupção, foi impedido de embarcar em um voo para os Estados Unidos, via Dubai, na manhã desta terça, após protestos de passageiros. Funcionários do aeroporto impediram sua entrada na aeronave e, conforme à situação ficou tensa, Basil, que também tem cidadania americana, recuou.
Depois das tentativas de fuga, uma moção foi apresentada à Suprema Corte pedindo uma ordem para proibir que alguns membros da família Rajapaksa deixem o país. Além do presidente e de Basil, a moção inclui Mahinda Rajapaksa, irmão mais velho de Basil que foi forçado a renunciar ao cargo de primeiro-ministro em maio, e também e o primeiro-ministro, Ranil Wickremesinghe.
O presidente não é visto em público desde sexta-feira, quando sua casa foi invadida, e seu paradeiro é incerto. O Parlamento elegerá seu substituto em 20 de julho –o favorito a assumir o cargo é o líder da oposição, Sajith Premadasa, filho de um presidente assassinado.
A família Rajapaksa domina a política da ilha de 22 milhões de habitantes há anos e a maioria dos cingaleses os culpa por sua atual miséria –o Sri Lanka vive a pior crise econômica desde que se tornou independente da Inglaterra, em 1948, com o colapso da economia dependente do turismo, duramente atingida pela pandemia.
Os cingaleses também responsabilizam o presidente pela proibição do uso de fertilizantes químicos, uma medida posteriormente revertida mas que prejudicou a produção agrícola. Atualmente, o país mal tem dólares para importar combustível, que vem sendo severamente racionado, e nos últimos dias longas filas se formaram em frente às lojas que vendem gás de cozinha.
A inflação atingiu 54,6% no mês passado, mas o Banco Central alertou que pode subir para 70% nos próximos meses.