José Aníbal, presidente do diretório municipal do PSDB em São Paulo, disse que o partido não apoiará a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem chamou de “golpista”, seja o responsável pela escolha do vice.
— Há quatro semanas, o Marconi Perillo (presidente nacional do PSDB) se reuniu com o ex-presidente Michel Temer e expressou o nosso interesse em indicar o vice do Ricardo Nunes. Disse também que, se essa escolha ficar a cargo do Bolsonaro, evidentemente criará um constrangimento muito forte para nós. O PSDB não vai se coligar com Bolsonaro, que é um golpista. Essa possibilidade está descartada—disse Aníbal, citando o depoimento dos ex-comandantes do Exército e Aeronáutica confirmando que Bolsonaro apresentou hipóteses para dar um golpe de Estado e impedir a posse de Lula.
Nesta terça-feira, veio a público um e-mail enviado pelo tesoureiro do Cidadania em São Paulo, Carlos Eduardo Batista Fernandes, ao presidente da federação PSDB-Cidadania, Bruno Araújo, na qual ele repudia a informação, supostamente trazida por Aníbal, de que o PSDB decidiu apoiar a candidata do PSB na capital paulista, Tabata Amaral.
O dirigente do Cidadania questiona a decisão e o fato de sua sigla não ter sido consultada. Também diz ser uma contradição “romper com um legado construído com as mãos, cérebros e corações do PSDB e do Cidadania”, referindo-se ao fato de Nunes ter herdado o governo conquistado pelo tucano Bruno Covas, morto em maio de 2021.
Aníbal negou que o partido tenha batido o martelo sobre o rumo que tomará na campanha à prefeitura de São Paulo e chamou de “irresponsável” o e-mail de Fernandes. O dirigente municipal do PSDB afirmou que mantém conversas com o prefeito Ricardo Nunes para negociar a presença do partido na sua chapa. Os dois conversaram ontem, por telefone.
— Eu falei para ele que o problema é a presença do Bolsonaro. O PSDB, na sua fundação, destacou a democracia como valor absoluto— declarou Aníbal, que reforça a busca pelo protagonismo do partido na chapa. —O protagonismo do PSDB (neste caso) é a indicação do vice. Se não tivermos essa condição, vamos buscar uma alternativa.
Enrico Misasi, presidente do diretório municipal do MDB de São Paulo, lembra que o PSDB sempre foi o contraponto ao PT na cidade.
“Hoje, a capital paulista tem as finanças em dia, tem projetos, tem entregas. Estas conquistas não podem ser comprometidas com a eleição de alguém que tenha o apoio dos adversários históricos do PSDB no município. Assim, o lugar natural do PSDB é na nossa coalizão, junto ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e contra o PT e seus representantes”, afirmou Misasi, em nota.
Embora Aníbal coloque o apoio de Bolsonaro como um impeditivo para apoiar a reeleição de Nunes, o PSDB vive uma onda de adesões ao bolsonarismo desde 2018, como mostrou O Globo. No mais recente episódio, Bolsonaro convidou o ex-governador do Paraná Beto Richa para se filiar ao PL e concorrer à prefeitura de Curitiba. O ex-governador voltou atrás após tucanos falarem que não iriam liberar desfiliação.
Aníbal disse que não descarta uma candidatura própria em São Paulo, mas aliados de Tabata se dizem otimistas quanto a uma possível composição com o partido. A deputada federal tem a simpatia de Perillo e outros nomes que hoje governam a legenda. Agrada aos tucanos os ataques que Tabata tem feito ataques ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Mas Nunes tem o apoio de todos os vereadores e deputados estaduais da sigla, além do filho do ex-prefeito tucano Bruno Covas.
Enquanto a eleição municipal em São Paulo aproxima alguns partidos de olho na construção de alianças, o PSDB vai na direção contrária. A indefinição sobre apoiar a tentativa de reeleição de Nunes vem alargando a cratera que engole o partido.
O PSDB vive uma espécie de “Guerra dos Tronos” em meio à disputa fratricida pelo controle de diretórios. O diretório municipal de São Paulo tem sido um dos focos de atrito, por ser o órgão responsável pela definição da candidatura na capital. Após Orlando Faria ter assumido o posto por alguns meses e renunciado em meio a pressão, agora a cadeira está com Aníbal.
O diretório estadual também vive uma batalha. A cúpula tucana anulou a eleição que havia determinado o nome de Marco Vinholi como novo presidente paulista, no começo de março, e colocou em seu lugar o prefeito de Santo André, Paulo Serra.