O presidente do PSB, Carlos Siqueira, avalia em entrevista a Folha de S. Paulo, que, nos termos propostos hoje, a federação em negociação com PT, PV e PC do B teria “muita dificuldade” de ser aprovada pelo diretório nacional do partido.
Siqueira aponta como um dos entraves o fato de o PT propor ter 27 membros de um total de 50 que deverão compor a estrutura de comando do órgão que juntará as siglas.
Segundo ele, se o PSB decidisse chancelar a união, o partido perderia autonomia. Instrumento criado no ano passado, a federação prevê que legendas se unam por quatro anos, em âmbito nacional, estadual e municipal.
“O essencial a ser examinado é se o PSB quer continuar tendo sua política e decidindo as coisas essenciais ou [se quer estar] numa estrutura que tem essa configuração com a maioria de um partido. [Tem que decidir se] deseja entregar o seu destino a essa federação”, diz, em entrevista à Folha.
O presidente do PSB ainda afirma que espera “reciprocidade” do PT em palanques estaduais. Nesta sexta-feira (4), o senador Humberto Costa (PT-PE) abriu mão da candidatura ao governo de Pernambuco para apoiar o nome a ser indicado pelo PSB.
Também destaca a necessidade de os partidos fazerem acenos ao centro, ressalta a importância de aliança com Geraldo Alckmin (sem partido) e afirma que o mais provável é a sigla apoiar a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As conversas entre PT, PSB, PV e PC do B parecem estar avançando no sentido de vocês formarem uma federação, mas ainda existem impasses estaduais. Hoje, de 0 a 10, qual a chance o sr. vê de a federação sair até março? Você disse que está avançando, eu diria que está apenas sendo discutida. Não há avanço nem retrocesso.
O que há é a discussão de como essa federação funcionará. E essas normas têm um centro, que é o comando da federação.
Hoje, a proposta do PT é que numa assembleia de 50, que decidirá todas as questões fundamentais da federação, o PT tenha 27, sugere 15 para o PSB, 4 para o PC do B e 4 para o PV. Ou seja, o PT fica com a maioria.
Nada obstante o quórum ser qualificado de dois terços [para tomar decisões], obviamente que quem tem 27 tem mais condições de chegar a dois terços do que quem tem 15, que é o que nos competirá se entrarmos na federação.
Então, a questão da federação não está diretamente ligada às questões estaduais, das candidaturas em que queremos o apoio do PT.
São conversas que caminham em paralelo, então. São coisas distintas, muito embora o que for definido sobre os governos estaduais tenha uma repercussão também sobre a decisão que vamos tomar sobre a federação.
O essencial a ser examinado é se o PSB quer continuar tendo sua política e decidindo as coisas essenciais ou [se quer estar] numa estrutura que tem essa configuração com a maioria de um partido. [Tem que decidir se] deseja entregar o seu destino a essa federação.
Essa é a discussão que tem de ser processada no âmbito do PSB e dos outros partidos.
Não há como o PT não ter 27? O PT tem suas razões, nós reconhecemos, de ter essa quantidade. O PSB, por seu turno, admite a discussão, mas ainda não há decisão [do partido].
Ademais, tem o problema do tempo. O TSE achou que devia desconhecer o prazo que o Congresso estabeleceu em lei, que é agosto, e estabeleceu um prazo demasiadamente curto [os partidos têm até 1º de março para registrar federações] para se processar uma discussão sobre a federação, que precisava ser profunda e com tempo suficiente até março. É muito pouco tempo.
Há como formar esse comando sem o PT ter a maioria? Não. Isso já está estabelecido. Teve discussão. Eu fiz proposta de agregar mais membros ao PSB considerando o número de prefeitos e vereadores que nós temos, que é maior do que o do PT. Mas o PT mantém a proposta deles e vamos examinar se convém ou não.
O que há para ser feito, então, sobre a composição? É compreensível que o PT queira ter um número maior de representantes na assembleia, mas não precisa ser tanto. Isso pode ser melhorado se eles refletirem e concluírem que precisa ter um equilíbrio na composição. Por isso eu proponho que se agregue a questão dos prefeitos. Isso daria um equilíbrio a todos.
Se o PSB fechar a federação, significa perder autonomia sobre o próprio partido? Nesses termos, com essa composição, sim. Nos termos que estão estabelecidos, não tenho dúvida que o partido perde muito da sua autonomia sobre questões essenciais, sobretudo no plano eleitoral. Mas a matéria está em discussão, vamos ver se ela progride.
Então a decisão passa por decidir se vão perder ou não autonomia? Mantida essa composição, sim. Se não mudar a composição, vai ter muita dificuldade de aprovar a federação no âmbito do diretório nacional do PSB.
O sr. vai levar a discussão ao diretório nacional quando? Quando ela acabar entre os partidos. Não se trata do quórum qualificado [para tomar decisões], mas do peso que cada um terá.
Pessoalmente, o sr. acha que é bom para o PSB entrar na federação? Eu tenho procurado, pelo menos publicamente, não me posicionar a esse respeito, porque dentro do partido há divergências. Nessa fase quero apenas colher as opiniões e formar minha convicção para convocar o diretório nacional.
Sobre os palanques estaduais, que é uma questão que corre em paralelo… Sim. Nós já estamos apoiando o PT para quatro governos estaduais. Apoiamos o candidato ao governador na Bahia, no Piauí, em Sergipe e no Rio Grande do Norte.
O PT tem sinalizado com dois estados só até agora: Pernambuco e Rio de Janeiro. Mas nós temos cinco demandas para eles [e queremos o apoio em] São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo.
No Rio Grande do Sul, o sr. recebeu sinalização de que ele vai apoiá-los? Não. Mas espero que eles cedam em tudo. Na política tem uma coisa que se chama reciprocidade.
Em São Paulo, que é o palanque tido como mais complicado, vocês não cogitam abrir mão da candidatura do Márcio França (PSB-SP)? Não. Eu já disse e reitero sempre: ele só não será candidato se ele não desejar. E no momento ele deseja. Acho ainda mais. Que ele tem melhores condições eleitorais do que o próprio [Fernando] Haddad.
Lula tem dito que vê chance real de o PT ganhar e uma das razões é que Haddad pontua na frente do França nas pesquisas. Isso não é um sintoma de que Haddad de fato está melhor? Eu respeito muito a opinião do presidente Lula, mas ele também achava isso no Recife, que a candidata dele [Marília Arraes (PT-PE)] ganharia a eleição para a prefeitura do Recife no ano passado. E ela perdeu com 100 mil votos de diferença do nosso, do prefeito João Campos (PSB-PE).
Política não é matemática. Política se faz com vários fatores que vão muito além de pesquisas.
Isso pode ser um problema nas eleições municipais. Nós temos geralmente nas eleições de 1.000 a 1.100 candidatos a prefeito e elegemos 250 prefeitos. O PT elegeu 180. Não sabemos onde haverá conflito, mas isso ocorrerá provavelmente nas grandes cidades. E pode acontecer com o PV e com o PC do B.
Tem de haver regras que possam garantir a candidatura nata à reeleição de todos os 250 prefeitos do PSB. E eu fiz essa proposta, inicialmente o PT discordou, mas depois admitiu consultar.
Agora, em termos de aliança, já está decidido que o PSB apoiará o ex-presidente Lula? Não está decidido, mas é o mais provável. Por isso estamos trabalhando fortemente porque consideramos que o ex-presidente Lula reúne as condições para derrotar Bolsonaro e pregamos que a frente não pode ficar restrita à esquerda. A frente tem de ampliar para o centro.
Vocês têm conversado sobre indicar o vice caso o ex-governador Geraldo Alckmin se filie ao PSB. Soube que ele esteve com integrantes do PSB nesta semana. Ele mandou sinal de fumaça que vai se filiar? Ele esteve conosco, fizemos o convite. Sabemos que temos divergências sobre alguns assuntos, mas nessas circunstâncias achamos simbólico acenar para um campo político que não é o nosso, que é o centro político, que precisa ser conquistado.
O PSD também deveria fazer parte da frente, na sua avaliação? Sim.
O PSB abriria mão da filiação do Alckmin para que ele fosse ao PSD, se essa possibilidade existir? Não podemos abrir mão da filiação do Alckmin porque nós convidamos e temos palavra. Agora, se ele vai ser convidado para ser vice, não cabe ao PSB, cabe ao PT.
O sr. acha que o PT está subindo no salto ao não ceder já em alguns estados? Eu não sou muito apreciador da expressão salto alto. Temos relações com o PT que são antigas e remonta ao ano de 1989.
Em todas as eleições seguintes nós os apoiamos no primeiro turno ou no segundo. É bom que se lembre que política é uma parceria de mão dupla. De mão única, acaba dando uma trombada.
Nós esperamos que eles nos apoiem nos cinco estados que demandamos.
E no Espírito Santo? Nós demandamos apoio ao governador Renato Casagrande. Eu pensei que estava bem encaminhado, mas nesta semana eu mandei para a presidente do PT Gleisi [Hoffmann (PR)] uma matéria do senador Fabiano Contarato (PT-ES) se apresentando como candidato. É preciso que o PT adote as providências para viabilizar esse apoio.
Em meio às discussões com o PT, ouvimos que o sr. estaria contrariado com declarações que Marcelo Freixo (PSB) teria dado de apoio a Haddad em São Paulo. O sr. conversou com ele? Ele esteve esta semana comigo, conversamos. Eu expressei publicamente não só a minha opinião, mas expressei uma certa indignação que houve de muitas pessoas no PSB, que acharam inadmissível a declaração dele.
Ele diz que foi invenção da jornalista, mas a verdade é que não houve um desmentido no dia seguinte sobre a matéria.
Qual a vantagem de formar a federação, se existem tantos impasses? A federação se torna um instrumento poderoso eleitoralmente nessas eleições, para eleger, no caso do PSB, mais três ou quatro deputados, não mais que isso.
Tem de se examinar se essa vantagem é suficiente para entrar na federação ou não. Porque eu não consigo ver outras vantagens para o futuro.
Apesar disso, estou esperançoso que tanto o PT e os demais partidos reflitam sobre as dificuldades para fechar a federação e aprovem regras que são democráticas e aceitáveis.
RAIO-X
Carlos Roberto Siqueira de Barros, 67
Advogado e presidente do PSB, foi homem de confiança do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes. Foi presidente da Fundação João Mangabeira de 2007 a 2014 e coordenou a campanha presidencial de Eduardo Campos em 2014. Assumiu a direção do partido após a morte de Campos