O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (1°), em audiência pública na Câmara dos Deputados, que o Brasil depende de recursos privados para retomar o crescimento econômico e, para isso, precisa construir credibilidade junto aos agentes de mercado.
Campos Neto foi ouvido na Comissão de Finanças e Tributação, onde tratou do cenário econômico. “O governo não tem recursos para fazer essa saída [da situação atual] com recursos públicos. Então precisa gerar credibilidade para fazer com recursos privados”, afirmou. “E credibilidade é uma coisa que demora muito para ganhar e se perde muito rápido”, disse Campos Neto.
Nesta quarta, o IBGE divulgou o desempenho da economia no segundo trimestre de 2021, que ficou praticamente estável, com variação negativa de 0,1% em relação ao trimestre anterior. Campos Neto afirmou que o desempenho veio “mais ou menos” em linha com a expectativa do BC, mas reconheceu que o ano deve ter um crescimento um pouco menor. “Está ainda dentro do que nós imaginávamos. O importante é criarmos ambiente favorável”, reforçou.
Inflação
O presidente do BC afirmou que a redução da inflação é uma das condições para a retomada do crescimento. O índice medido pelo IPCA, e utilizado pelo BC, atingiu 8,99% em 12 meses, segundo dados de julho.
“A pior coisa para o crescimento é a inflação descontrolada”, disse, em resposta aos deputados Elias Vaz (PSB-GO) e Alê Silva (PSL-MG), que manifestaram preocupação com os rumos da alta de preços. “O nosso público está na expectativa do controle da inflação. As pessoas estão sofrendo isso na pele, na mesa”, afirmou Alê Silva.
Campos Neto disse que a alta inflacionária decorre de diversos fatores, como o aumento do consumo, a queda da produção, o aumento de preço internacional das commodities (como carne e petróleo) e a valorização do dólar frente ao real.
O deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), também presente ao debate, mostrou-se preocupado com o impacto das disputas políticas sobre a situação da economia. “O Brasil vive permanentemente em crises institucionais”, disse.
Pix
Alguns parlamentares, como Júlio Cesar e Paulo Ganime (Novo-RJ), debateram com Campos Neto sobre as tarifas bancárias e as novas ferramentais digitais. Já a deputada Tia Eron (Republicanos-BA) questionou sobre a segurança do Pix, solução de pagamento instantâneo do BC.
Nas últimas semanas, houve relatos de crimes, incluindo sequestros relâmpagos e golpes, com o uso dessa ferramenta. Campos Neto lembrou que o BC já tomou medidas, como o estabelecimento de um limite de R$ 1 mil para operações entre pessoas físicas no período das 20h às 6h. Ele afirmou, porém, que os dados da instituição não apontam uma onda de crimes com o uso do Pix.
“Quando a gente olha a estatística associada a crimes com o Pix, ele foi 0,001% em termos de incidência sobre as transações [financeiras]. Isso é bastante baixo até comparado com outros países emergentes”, afirmou. Campos Neto disse ainda que os crimes estão mais relacionados à crise da economia do que ao instrumento em si, e que a solução é aprofundar a digitalização da economia, reduzindo a quantidade de dinheiro em circulação, inclusive nas agências e caixas eletrônicos.
A audiência pública foi proposta pelo presidente da comissão, deputado Júlio Cesar (PSD-PI).