Quatro anos depois de ter sido demitido da Petrobras em meio a escândalos e suspeitas de corrupção, o ex-gerente-executivo de comunicação Luís Fernando Nery foi novamente indicado para o mesmo cargo pelo presidente da companhia, Jean Paul Prates.
Nery foi alvo de uma comissão interna de apuração (CIA) da Petrobras depois que uma reportagem do jornal O Globio revelou, em 2016, que a companhia havia gasto mais de R$ 1 milhão em valores da época com ingressos em camarotes no carnaval da Bahia para políticos e auxiliares da então presidente Dilma Rousseff, além de patrocinar o trio elétrico de um parente do chefe de gabinete do ex-presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli.
Ele foi demitido em maio de 2019, depois de ter feito um acordo com a Petrobras, em meio às investigações. A apuração, porém, só terminaria um ano depois, em maio de 2020.
O relatório final concluiu que Nery foi responsável pelas irregularidades e deveria ter sido demitido por justa causa, mas obviamente isso já não era mais possível.
As regras da Petrobras não impedem que um funcionário demitido seja readmitido, desde que em cargo de alta gerência (para os quais não é necessário prestar concurso).
Ainda assim, como o ex-gerente já foi responsabilizado por desvios de recursos em uma apuração da própria empresa, a equipe da coluna apurou que o comitê de conformidade vai recomendar o veto à recontratação.
Na gestão Prates, a gerência-executiva de comunicação será diretamente subordinada à presidência da Petrobras. Se vier a assumir o cargo, Nery terá sob sua alçada verbas de R$ 150 milhões para a contratação de agências de publicidade e de comunicação e patrocínios.
Anos antes de ser afastado em razão da farra dos ingressos, quando ainda era gerente da área de responsabilidade social, Luis Fernando Nery também já havia sido convocado a depor na CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados que investigou desvios de verbas por parte de Organizações Não Governamentais (ONGs) patrocinadas pela companhia.
Em 2012, também vieram à tona denúncias de que Nery, que gerenciava o patrocínio da petroleira às escolas de samba do Rio de Janeiro, forçou a escolha de sua mulher, Patrícia Nery, para rainha de bateria da Portela – desbancando a atriz Sheron Menezes.
Nada disso constrangeu Prates a bancar a indicação. Questionada sobre a investigação interna e seus desdobramentos, a Petrobras não respondeu. Alegou apenas que as informações são sigilosas.
Luís Fernando Nery também foi procurado, mas não retornou o contato da equipe da coluna até o fechamento da reportagem.
Desde que assumiu a Petrobras, em janeiro, Prates trouxe antigos aliados dos governos petistas e formou uma espécie de “núcleo sindical” na alta cúpula da empresa. Além de três assessores ligados à Federação Única dos Petroleiros (FUP), nomeou o dirigente sindical José Maria Rangel para comandar a gerência-executiva de responsabilidade social, que tem um orçamento de R$ 450 milhões.
Outro exemplo foi a nomeação de Clarice Copetti para a gerência-executiva de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade. Clarice, que ocupou a vice-presidência de Tecnologia e Informação da Caixa Econômica entre 2004 e 201, foi multada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por uma pedalada fiscal de R$ 719 milhões no balanço do banco em 2012.