O secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu nesta quarta-feira um acesso humanitário “seguro” e “sem obstáculos” ao Sudão, que está envolvido em um conflito entre o Exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR) desde 15 de abril.
“Os sudaneses estão enfrentando uma catástrofe humanitária. Hospitais destruídos, armazéns humanitários saqueados, milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar”, lamentou Guterres durante entrevista coletiva na sede da ONU em Nairóbi.
Segundo o chefe da ONU, “a ajuda humanitária precisa de acesso seguro e sem obstáculos” imediatamente, pois a atual situação no Sudão é “totalmente inaceitável”.
Guterres, que foi a Nairóbi para participar em uma reunião da ONU e deverá se reunir com o presidente do Quênia, William Ruto, disse que a situação no Sudão é “profundamente preocupante porque está piorando todos os dias”.
“Os combates têm de parar agora, antes que mais pessoas morram e o conflito exploda em uma guerra total que pode afetar a região durante anos”, afirmou o diplomata português.
Guterres alertou para o risco de a violência “se alastrar” a países vizinhos que estão passando pelos seus próprios processos de paz, como o Chade, onde operam dezenas de grupos rebeldes e cujo diálogo nacional precisa ser “fortemente apoiado”.
Da mesma forma, segundo o secretário-geral da ONU, outros países da região, embora não estejam passando por estes processos de transição, podem também sofrer “um impacto negativo do conflito no Sudão, caso haja uma saída em massa da população”.
Civis em fuga
Guterres lançou este aviso após a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur) ter anunciado na terça-feira que calcula que até 800 mil civis poderão fugir do Sudão e procurar proteção em um país vizinho nas próximas semanas, depois de mais de 100 mil já terem sido obrigados a fugir.
O chefe da ONU explicou nesta quinta-feira que o início do conflito “pegou de surpresa” tanto a ONU como a comunidade internacional, que estava “esperançosa” nas negociações em curso no país para a formação de um governo civil.
“Na medida em que nem nós nem muitos outros esperavam que isto acontecesse, podemos dizer que falhamos em evitá-la, mas não creio que haja algo que devêssemos ter feito e que não tenhamos feito. Como disse, estávamos plenamente convictos de que não aconteceria”, argumentou.
Guterres fez essas observações após a chegada ao Sudão, nesta quinta-feira, do chefe humanitário da ONU, Martin Griffith, que deverá se reunir com os principais líderes das partes armadas em conflito para obter garantias de que a ajuda humanitária pode ser transportada e entregue em segurança à população.
Atualmente, a distribuição é muito difícil devido ao elevado risco de circulação no interior do país, razão pela qual as agências humanitárias não têm conseguido entregar ajuda humanitária.